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A Reconquista do 8 de março

category brazil/guyana/suriname/fguiana | gênero | opinião / análise author Friday March 13, 2009 23:27author by Bruno Rocha - delegado de FAG - 1 of Anarkismo Editorial Group Report this post to the editors

da redação do jornal Socialismo Libertário - órgão do FAO/Brasil

A história oficial é contada de um ponto de vista bem definido: homem, branco e rico. Nós mulheres, conscientes de um processo histórico inscrito no sistema de dominação capitalista, que usurpou e segue subjugando a capacidade de nos vermos como sujeito, distorcendo nossas identidades, enquanto gênero e classe, afirmamos que reconhecer e resgatar as histórias de luta das mulheres é essencial na construção desta identidade.
A luta das mulheres camponesas retoma o 8 de março no Brasil
A luta das mulheres camponesas retoma o 8 de março no Brasil

Na América Latina, as mulheres como sujeito oprimido tem suas referentes de ruptura da função tradicional na organização social, a maternidade. Estar inserida nas lutas de sua classe e territórios nos caracteriza como sujeito revolucionário. Nas lutas de resistência à dominação colonial pelos povos originários do continente, figuram combatentes como Micaela Bastidas e Juana Azurduy, hoje materializadas pelas chiapanecas do EZLN, por exemplo. Nas lutas de resistência à escravidão, a lendária Anastácia simboliza as africanas seqüestradas resistindo à dominação, opressão e exploração capitalista. Militantes anarquistas e educadoras como Malvina Tavares, as irmãs Martins, Marguerita Ortega e tantas outras estavam ao lado dos demais companheiros nas combativas greves e enfrentando a cavalaria nas ruas de Porto Alegre no inicio do século 20. Resistindo às ditaduras no continente, Elena Quinteros representa a valentia e doação para a causa da revolução social; ela é para nós, mulheres anarquistas militantes, um símbolo dentre tantas outras milhares de torturadas e assassinadas pelos diferentes governos e regimes no continente.

O dia 8 de Março tanto pode ter sua origem na polêmica greve e assassinato de 129 tecelãs de 1857 em Nova Yorque como na greve de 8 de março de 1917 em Petrogrado, na Rússia. O fundamental é reconhecer dentro da luta de classes nos diferentes continentes e conjunturas a importância das mulheres como um dos sujeitos oprimidos. O enfoque diverge no sentido de afirmar-se enquanto gênero de forma isolada em contraposição a identidade de mulheres trabalhadoras envolvidas nas diversas lutas e processos históricos das classes oprimidas. As mães, função tradicional em qualquer território e cultura, têm também expressão nas lutas desde suas comunidades até as emblemáticas Madres de la Plaza de Mayo, que “socializaram sua maternidade”, hoje lutando não só por seus filhos desaparecidos, mas por todos que lutam. Mais do que discutir e reivindicar a origem da data e o próprio feminismo como “ideologia”, afirmamos que a questão do gênero sempre esteve inserida no anarquismo não apenas de forma filosófica, mas, sobretudo, na suas expressões de luta social.

No Brasil um contingente soube devolver à luta das mulheres trabalhadoras, e em especial o “8 de Março”, ao seu lugar na história dos oprimidos: as camponesas do MST. Estas militantes sem-terra reconquistaram o símbolo do Dia Internacional da Mulher Trabalhadora como data de luta na agenda dos movimentos sociais contra o capitalismo, as classes dominantes e suas elites dirigentes. A estrutura social patriarcal e opressora, inclusive dentro desses movimentos, por que refletem os valores da ideologia dominante, passa a ser questionada publicamente. E, acima de tudo marcaram com ação direta popular o resgate da fundamental importância do sujeito mulher nas lutas sociais. A mídia oficial, na sua tarefa de defesa da dominação ideológica não tem como omitir os fatos políticos gerados pelas combatentes da Via Campesina no 8 de Março desde 2006, 2007 e 2008. Não será diferente em 2009, ostentando com orgulho seus rostos cobertos com lenços lilases: inicia-se um novo marco na história da luta de gênero nas classes oprimidas no país.

Estas lutas são cotidianas e contínuas nos espaços domésticos, comunitários e associativos. Somos oprimidas por sermos pobres e entre os pobres por sermos mulheres. A violência contra a mulher é visível e justificada nos mais diversos espectros sociais e das mais distintas formas. A ameaça à soberania do solo, da água e das sementes têm e terá a resistência das camponesas organizadas. A falta e precariedade de educação e saúde públicas, moradia, transporte, também tem vez na agenda dos movimentos sociais das cidades e nestes a significativa maioria de participação de mulheres: trabalhadoras e desempregadas, negras e brancas, moradoras das periferias, vítimas da violência doméstica e policial. Se a luta popular nas cidades e suas periferias é dada massivamente por este sujeito, a questão do gênero para nós anarquistas latino-americanas tem um enfoque necessariamente distinto do discurso feminista clássico dos países do norte.

Mais do que afirmar a liberação em curso há quatro décadas, mais do que defender o papel desse sujeito na história como um todo, entendemos que a mulher oprimida e violada permeia diferentes classes sociais e sociedades. O fundamental a partir do anarquismo é reconhecer o papel do gênero dentro da luta social. Afinal, como vamos equivaler na dor de uma mãe em Israel e na Palestina? Romper com a dominação e opressão patriarcal é importante, mas sobre tudo, o corte de classe nos baliza. Mulheres como Condoleeza Rice, Hilary Clinton, Dilma Roussef, Michele Bachelet, Cristina Kirchner e Yeda Crusius, dentre outras, compartilham do sistema de dominação e sua ideologia. E mais, formulam e executam políticas que aprofundam às injustiças.

Para nós não basta ser mulher, mas sim estar em busca de ruptura. Compartilhar das esferas de poder, seja através das cotas de ação afirmativa (30% dos cargos) ou de capitulação, derrota ideológica a exemplo de Dilma Roussef, ex-militante da VAR-Palmares, guerrilha urbana da década de setenta, não dá respostas e menos ainda conquistas para as lutas de gênero. Estas lutas, intimamente relacionadas com a realidade de miséria e opressão capitalista encontram nestas mulheres freio e cabresto. À exemplo das professoras do magistério público estadual, que, confronta-se com as metas do Banco Mundial para a educação pública personificada na figura da ex-sindicalista Mariza Abreu secretaria de educação do RS. Se há quarenta anos a ex-guerrilheira Dilma resistia à tortura bravamente, hoje compõe um governo de turno em busca do pacto social em detrimento dos índices escandalosos de violência urbana na guerra entre os pobres, da mortalidade materna, da criminalização do aborto que castiga e condena a morte mulheres diariamente, do desespero das mães um busca de tratamento para os filhos viciados em crack,do número escandaloso de grávidas adolescentes e até pré-púberes. Estas são as questões de gênero para as mulheres trabalhadoras e militantes no país e no continente.

Nesse pedaço de mundo, mais do que queimar sutiãs, precisamos queimar os presídios, como fizeram as francesas há mais de dois séculos na Queda da Bastilha. Precisamos estar na primeira fila contra a polícia como fazem as chiapanecas no México, precisamos estar nas praças denunciando a criminalização da pobreza como as Madres da Plaza de Mayo. Temos a inspiração de Anita Garibaldi, mulher plena de vida e coragem assim como da mulher comum que encara a falta de trabalho, de terra, de comida, de saúde, de educação, enfim de dignidade. Porém, não mais calada, subjugada, temerosa. Se não nos levantarmos hoje para lutar por tudo que nos diz respeito não teremos certeza de futuro para nossos filhos.

em: 07/03/2009 08:38 - produção original do texto na web

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