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Os comitês populares líbios devem ser à base de uma nova vida, não uma mera medida transitória

category norte da África | imperialismo / guerra | entrevista author Monday March 14, 2011 21:23author by José Antonio Gutiérrez D. Report this post to the editors

A luta do povo líbio, que é parte da onda de rebeliões populares que se espalha como fogo em todo o mundo árabe, está adquirindo um caráter verdadeiramente dramático, com o povo que segue avançando sua luta contra um regime decidido a permanecer no poder por todos os meios. Gadaffi, pese o seu passado como uma dor de cabeça para os Estados Unidos, se converteu em um aliado chave para a Guerra contra o Terrorismo, a qual foi corroborada pela torpe e tardia reação dos Estados Unidos ante os eventos na Líbia, assim como pela igualmente tardia suspensão da União Européia de seu considerável comércio de armas com o regime líbio. Ainda que os Estados Unidos e as potências ocidentais pareçam re-descobrir que, depois de tudo, não lhes agradava tanto Gadaffi (depois de uma década de relações amistosas), começaram a falar de uma possível intervenção e porta aviões dos Estados Unidos tem se aproximado das costas líbias. Os resultados que poderiam ter semelhante aventura seriam horrendos. Entretanto, os Estados Unidos e seus aliados do Ocidente exploram as formas para assegurar que esta rebelião, tanto na Líbia quanto no resto do mundo árabe, não se comporte de forma revolucionaria e assegurar que seus interesses econômicos e estratégicos sejam servidos da melhor maneira possível em um cenário pós-Gadaffi. Para entender melhor o que ali ocorre, mantivemos outra conversa com nosso amigo e camarada, o anarquista sírio Mazen Kamalmaz, que edita o blog revolucionário: http://www.ahewar.org/m.asp?i=1385.

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Os comitês populares líbios devem ser à base de uma nova vida, não uma mera medida transitória

A luta do povo líbio, que é parte da onda de rebeliões populares que se espalha como fogo em todo o mundo árabe, está adquirindo um caráter verdadeiramente dramático, com o povo que segue avançando sua luta contra um regime decidido a permanecer no poder por todos os meios. Gadaffi, pese o seu passado como uma dor de cabeça para os Estados Unidos, se converteu em um aliado chave para a Guerra contra o Terrorismo, a qual foi corroborada pela torpe e tardia reação dos Estados Unidos ante os eventos na Líbia, assim como pela igualmente tardia suspensão da União Européia de seu considerável comércio de armas com o regime líbio. Ainda que os Estados Unidos e as potências ocidentais pareçam re-descobrir que, depois de tudo, não lhes agradava tanto Gadaffi (depois de uma década de relações amistosas), começaram a falar de uma possível intervenção e porta aviões dos Estados Unidos tem se aproximado das costas líbias. Os resultados que poderiam ter semelhante aventura seriam horrendos. Entretanto, os Estados Unidos e seus aliados do Ocidente exploram as formas para assegurar que esta rebelião, tanto na Líbia quanto no resto do mundo árabe, não se comporte de forma revolucionaria e assegurar que seus interesses econômicos e estratégicos sejam servidos da melhor maneira possível em um cenário pós-Gadaffi. Para entender melhor o que ali ocorre, mantivemos outra conversa com nosso amigo e camarada, o anarquista sírio Mazen Kamalmaz, que edita o blog revolucionário: http://www.ahewar.org/m.asp?i=1385.

José Antonio Gutiérrez D.
3 de Março, 2011

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O que é que está realmente ocorrendo na Líbia e no resto do mundo árabe?

Mazen Kamalmaz: É uma revolução. Depois de 42 anos sendo governadas pelo regime de Gadaffi, as massas tem saído às ruas. O mal, é que pela brutal repressão do regime, esta revolução só pode ser exitosa na parte Leste do país, a qual também possui diferentes tribos do Oeste e do Centro da Líbia. Rapidamente, as forças leais ao regime se repuseram da surpresa e sufocaram a rebelião em Trípoli, a capital, assim como no resto da Líbia, utilizando uma força extremadamente brutal. As massas tentaram sair novamente na quarta-feira passada, que foi um dia de furiosos protestos em todos os países árabes, mas não foram capazes de fazer frente às forças do regime. Agora existe uma situação de estabilidade entre dois poderes, o do povo e o do regime, ainda que ambas estejam tratando novamente de capitalizar esta situação a seu favor.

Independente dos protestos na Líbia, Iêmen esta ardendo durante semanas. Neste país existem várias tribos e minorias religiosas, a parte dos conflitos entre um norte dominante e um sul marginalizado que demanda autonomia. Os estudantes universitários e secundaristas têm conseguido, graças a sua devoção pela liberdade plena e sua vontade para sacrificar-se por esta causa, converterem-se em um fator de convergência para todas as facções da nação em torno ao objetivo de derrubar a ditadura.

A quarta-feira passada também foi bastante agitada no Iraque, onde milhares de jovens iraquianos, tanto sunitas como xiitas, os quais estiveram a pouco tempo as bordas de uma guerra civil, saíram as ruas para protestar contra o corrupto governo pró-yanque. A polícia respondeu com a mesma repressão que em outras partes, o que ocasionou algumas mortes entre os manifestantes.

O Sultanato de Oman também se uniu aos países em rebelião, quando os jovens saíram às ruas a gritar, como em outras partes, por mais liberdade e melhores condições de vida.

Ainda há aqueles que olham Gadaffi como um socialista e um anti-imperialista… isto está certo?

Mazen: Este é um mito bastante enganador e ilusório, e é produto da antiga esquerda autoritária, que ainda persiste. Isto, devido em parte, ao renascimento da esquerda autoritária com figuras como Chávez.

Devemos ter em mente que o regime de Gadaffi tem gozado de uma melhoria significativa em suas relações com as principais potências ocidentais desde 2003, depois de que o ditador líbio abandonou seu programa nuclear. Então, a ex-secretaria de Estado dos Estados Unidos, Condolezza Rice, proclamou este gesto como um modelo para restaurar as relações normais entre os Estados Unidos e os países do terceiro mundo, inclusive aqueles que os Estados Unidos tem qualificado como regimes “canalhas”. Isto abriu as portas a Berlusconi, Blair e Sarkozy para que visitassem a Líbia e assinassem multibilionários contratos com empresas ocidentais, incluindo venda de armamento. Assim, Gadaffi acabou aparecendo inclusive em uma reunião do G8 para conversar com Obama. Igualmente com Ben Ali e Mubarak, as grandes potências capitalistas, sinceramente ignoraram as violações aos direitos humanos do regime de Gadaffi, cometidas contra seu próprio povo. Ainda quando Gadaffi se declarava um antiimperialista, faz muito tempo, não era outra cosa mais que lábia que utilizava enquanto se envolvia, como autoritário que é, em atos terroristas triviais, os quais não foram feitos para apoiar os objetivos libertários das vítimas do imperialismo.

Devemos distinguir entre ser anti-yanque, anti-capitalista e ser um genuíno socialista, já que não são poucos os anti-yanques que são tão autoritários e repressores como o sistema global do fascismo corporativo ou como os regimes pró-yanques. Não nos esqueçamos do estalinismo. Gadaffi mesmo chegou ao poder quando o nacionalismo árabe estava em seu clímax, o qual era anti-imperialista em um sentido retórico, ainda que tenha conduzido aos países árabes de derrota em derrota em todas suas confrontações com o imperialismo e sua agente local mais importante, Israel. A última destas derrotas foi o Iraque no ano de 2003. Depois da derrota de 1967 do Egito, Síria e Jordânia, por parte de Israel, muitos esquerdistas terminaram por chegar à conclusão de que a natureza exploradora e repressiva destes regimes era a verdadeira responsável por estas derrotas. No ano seguinte, jovens e estudantes egípcios começaram a protestar contra o regime de Nasser, protestos que tiveram conotações libertarias. O fato é que o Egito sob Nasser, Iraque sob Saddam ou Síria sob Assad, todos tem sido meros exemplos de capitalismo de Estado burocrático, ou seja, regimes que tem reprimido e explorado seu próprio povo.

Qual foi o papel dos Estados Unidos na crise? Sabendo-se que Gadaffi esteve em bons termos com eles durante bastante tempo…

Mazen: Durante a Guerra Fria, ambas potências repressoras como foram os Estados Unidos e a URSS, praticaram um jogo dúbio: por um lado, reprimiam a seus próprios povos em sua esfera de influência e “apoiavam” as lutas de liberação nas esferas de influência de seu rival. Assim, a União Soviética apoiou a luta popular vietnamita contra a intervenção yanque e a Revolução Cubana, assim como outras rebeliões na América do Sul e outros lugares infestados de ditadores pró-Estados Unidos. Por outro lado, os Estados Unidos e o bloco capitalista apoiaram a onda de protestos na Europa do Leste, etc. Este jogo hipócrita ainda é jogado hoje. Os Estados Unidos estão ansiosos em apoiar rebeliões no Irã, por exemplo, mas jamais na Arábia Saudita. No Iraque, o governo de Bush ajudou a Saddam a retomar o poder mesmo após sua derrota na primeira Guerra do Golfo em 1991, em momentos em que este enfrentava uma enorme revolução popular e apenas uma pequena parte do Iraque estava sob seu governo. Sua intenção era derrotá-lo quando fosse mais fácil e quando fazê-lo não significaria um risco para seu domínio regional.

Mas o mundo está girando a todo tempo, às vezes contra a vontade dos Estados Unidos, como ocorreu no Egito e na Tunísia. Apesar de todos seus esforços para manter a Ben Ali e a Mubarak no poder, as massas criaram uma nova realidade, a qual os Estados Unidos estão tratando de adaptar-se. Na Líbia, as coisas são um pouco diferentes. Os Estados Unidos são como um animal predador, que têm em sua frente a um regime de Gadaffi debilitado e detestado por seu povo e sobre tudo com um território líbio cheio de petróleo. O qual lhes aparece como uma vítima fácil e de grande porte. A parte disto pode ter a vantagem adicional de fazer aparecer o principal apoio das ditaduras em nossa região, os Estados Unidos, como se fosse um lutador pela liberdade, ajudando a liberar de seu sanguinário ditador, ao qual consideravam até há pouco tempo um amigo, a uma nação desamparada. O mal de ser um predador é que não consegue resistir à tentação de uma presa fácil, pese a suas experiências dolorosas passadas. É muito importante levar em consideração quando se fala deste possível plano de intervenção dos Estados Unidos que ninguém na Líbia, nem as massas rebeldes, nem sequer a oposição líbia no Ocidente, está a favor de uma intervenção militar estrangeira.

Desde sempre, tal coisa seria um golpe contra a luta de toda nação líbia, um golpe contra sua luta independente pela libertação e também representaria uma ameaça contra seu futuro. Os líbios estão a ponto de derrubar o regime e conquistar a posse de seu petróleo e de sua vida. Eu não creio que, ao menos a maioria deles, estejam dispostos a sacrificar o que tem conquistado até agora em troca de uma vitória fácil, mas que não seria sua própria vitória.

Qual é a natureza do governo civil-militar declarado hoje (27 de fevereiro) em Benghazi?

Mazen:Ainda não existem instituições estatais propriamente ditas nas áreas liberadas. Há aqueles que estão tentado consolidar sua liderança elitista, mas sem êxito até o momento.

Faz pouco tempo a imprensa yanque e a imprensa árabe pró-yanque, começaram a falar de um conselho interino em Benghazi, o qual estaria liderado por um ex-ministro do governo de Gadaffi, somente para ressaltar sua posição favorável a uma possível intervenção dos Estados Unidos. A parte deste suposto conselho interino, nenhuma outra força ou grupo das zonas liberadas, aceita tal intervenção.

Qual é o papel dos Comitês Populares líbios? Estão criando, o povo, mecanismos para sua própria democracia direta?

Mazen: Na prática, estes comitês, se converteram em parte integral de todas as revoluções no mundo árabe. Considero que sim, são bons exemplos de democracia direta. Todas as zonas libertadas são controladas por eles, tal qual ocorreu depois da queda de Ben Ali na Tunísia e depois de que Mubarak ordenara as suas forças de segurança abrir o caminho aos bandidos para que saqueassem por todas partes a fim de amedrontar as massas rebeldes. O que necessitamos agora é que se convertam em uma nova forma de vida, e não sinceramente em uma medida provisória: tal deve ser nossa mensagem as massas.

Há aqueles que têm levantado as bandeiras da monarquia… acreditas que o fantasma de um retorno ao velho regime de Idris esteja em vista?

Mazen: Para dizer a verdade, qualquer coisa pode suceder. Creio que nem sequer os líbios rebeldes sabem muito bem quem ou como governará o país quando consigam derrubar a Gadaffi. Devem descobrir eles mesmos sua própria maneira de fazê-lo. Mas creio que é difícil que isto ocorra, pois já não se submeterão facilmente a um novo governo. Tiveram conhecimento de seu poder e não será fácil lhes expropriarem isso novamente.

Qual é a perspectiva no imediato para esta rebelião?

Mazen: Depende. Ainda não foi finalizada a luta contra a ditadura, nem ela foi ganha. Mas devemos perceber o enorme potencial que existe. A vitória da revolução significará uma grande mudança na região. Devemos ter em mente que a Nova Ordem Mundial foi declarada e implementada aqui pela primeira vez, em função da crise do Golfo, em 1990 e 1991. Desde então, esta região tem substituído a América do Sul como o pátio traseiro de Washington. Somado ao que já vimos na Tunísia ou no Egito, as mudanças serão duradouras e profundas. Como sempre, há duas opções: ou se instaura um novo regime das elites, ou as massas conseguem construir uma sociedade verdadeiramente livre, organizada segundo o modelo destes comitês populares que o mesmo povo criou no calor de sua luta.

Tradução: Juvei - agência de notícias anarquistas-ana

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