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A novela Beira-Rio ganha mais um capítulo

category brazil/guyana/suriname/fguiana | cultura | opinião / análise author Wednesday February 29, 2012 20:00author by Anderson Santos, Dijair Brilhantes e Bruno Lima Rocha Report this post to the editors

Os colorados arranjaram até canetas para a construtora assinar. Mas parece que falta mesmo é grana...
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No último final de semana a novela envolvendo Internacional, Andrade Gutierrez e Banrisul ganhou um importante capítulo. Só que, ao contrário das tramas globais, está longe de ser o sonhado final feliz.

Em nota oficial, a construtora culpou o Banrisul por ainda não ter assinado o contrato com o Internacional para as reformas do Estádio Beira-Rio. O Banco do Estado do Rio Grande do Sul (estatal, mas com 49% de capital aberto em ações preferenciais) se defendeu, ao anunciar que não recebeu garantias suficientes para fazer o empréstimo.

Enquanto nada se acerta, a Copa pode estar saindo do Rio Grande, ou mudando de endereço, se Grêmio Empreendimentos e OAS Construtora ajeitarem algumas coisas.

Voltando à orla do Guaíba, por mais fácil que pudesse parecer em seu início, já que seria uma reforma orçada na casa dos R$ 100 milhões, a utilização do Beira-Rio para a Copa do Mundo ganhou ares de drama.

Primeiro, o que seria feito com recursos próprios, acabou indo para uma “parceria” com o dobro do valor imaginado. Há quem diga que teria sido imposição da FIFA para atender ao seu seleto grupo de empreiteiras...

Depois, quando toda a parte inferior de um pedaço de arquibancada já estava derrubada, houve a imensa demora do Conselho Deliberativo colorado em aprovar o contrato. Algo que só ocorreu, após muitas idas e vindas de papeis entre advogados, em dezembro de 2011, no dia em que os conselheiros tiveram 15 minutos cada para ler a minuta. Porque será? Porque um contrato sigiloso?

Apesar disso, a obra continua parada. Já são 250 dias! Há mais de dois meses que a empreiteira busca “parceiros” para bancar a reformulação, mas estaria encontrando dificuldades. Já até se sondou que fundos previdenciários de empresas estatais bancariam cerca de 75% das obras, mas nada foi oficializado.

Menos mal neste caso, porque empatar dinheiro público ou de fundos públicos para obra privada – embora seja o padrão da CBF com os governos Lula e, agora, Dilma – não muda em nada a triste correlação de forças. No Brasil se promove um bismarkismo futeboleiro, além de um bismarkismo coronelista e por aí vai. Os peões de Rondônia assim como os obreiros da OAS no bairro Humaitá em Porto Alegre que o digam!

Para piorar, a negativa do Banrisul é mais uma ducha de água gelada – mesmo que estejamos no verão, o clima dessa obra é do Polo Norte. O governador do Estado, Tarso Genro, defendeu o banco estatal ao dizer que não era justo que o mesmo assumisse todos os riscos da construtora, que ficaria com a utilização do estádio para outros fins.

Segundo o vice-presidente do Banrisul, Flávio Sommel, a operação não está bem estruturada, faltariam garantias. Caso a construtora não esteja satisfeita com as exigências, ela deveria procurar outra instituição financeira para tentar o empréstimo. É, parece que ainda há quem não se dobre...

Torcida chegou a protestar

No início de fevereiro, um grupo de torcedores colorados inconformados com a demora da construtora para assinar o contrato com o Internacional, levaram centenas de canetas ao Beira Rio antes do jogo da Libertadores contra o Juan Aurich - clube de uma país em que os jogadores realizam greve para que paguem os salários atrasados.

O protesto também teve adesão nas redes sociais. A campanha era feita através da hashtag #AssinaAG. Apesar disso, não parece que incomodou.

Imprensa também resolveu pressionar

Depois da nota enviada a todos os grandes jornais do Rio Grande do Sul, a imprensa resolveu cobrar publicamente a construtora. Muitos especialistas emitiram comentários contra a empresa. Cabe o debate: é papel da mídia cobrar uma empresa privada por não estar fazendo a obra de um espaço também privado?

A imprensa deve sim fazer cobranças (e como é bom quando o fazem sem jabá), mas não apenas da empresa, também das autoridades que escolheram a sede e se comprometeram em deixá-la pronta para o mundial de 2014.

Falando nisso, como vão as obras que “ficarão” após o evento, como as de infraestrutura, melhoria de transporte público e aeroviário – com fiscalização sobre as recentes privatizações no setor – e como estão tratando as pessoas que moram em volta de obras?

Para além desse evento específico, porque não analisar quais os tipos de relações que se deram em torno desta empreiteira, de entender o porquê o Inter não mais reformar por conta própria, e de analisar a participação do Banrisul no futebol gaúcho, para o bem e/ou para o mal?

Se a gente torna a análise mais complexa, aí o futebol serve de escola para a interpretação dos fatos em sociedade. Do contrário, restará pouca poesia no pão e circo onde abundam de baixarias de “guerreiros” que demonstram valentia fechando bordéis ou batendo em mulheres no meio da madrugada.

O risco de perder a Copa

Os gaúchos correm sim o risco de perder a sede do mundial, assim como ocorreu com a Copa das Confederações. Em visita ao Estado no inicio do mês o ministro do Esporte Aldo Rebelo (PCdoB/SP) disse estar tranquilo com relação à sede gaúcha, mas parece óbvio que isso não passa de discurso político. A própria visita deve ter servido como forma de cobrança.

O ministro também garantiu que não existe plano B, ou será no Beira Rio ou não haverá jogos da Copa do Mundo FIFA 2014 em Porto Alegre. As autoridades gaúchas defendem o estádio colorado porque todo o planejamento da cidade para a Copa foi feito tendo ele como meta. As obras para a mobilidade urbana estariam direcionadas para a zona sul – embora pouco já tenha sido feito.

Para variar, quebraram Plano Diretor, rasgaram códigos e leis ambientais, aproveitaram o embalo da Copa para chamar de Lago um estuário conhecido como Rio (e assim mudar a margem de defeso, diminuindo a área protegida de vegetação nativa), dentre outras proezas em nome da “paixão da dupla Gre-Nal”.

O desespero fica a cargo do deputado estadual Paulo Odone (PPS/RS), o homem a colocar, curiosamente, o número do seu partido na camisa do recém-chegado Vanderlei Luxemburgo - deu 23 nas costas do Luxa!, em plena entrevista coletiva de apresentação... queremos ver na hora que o ex-lateral do Inter de 1978 mandar a fatura do alfaiate! Odone sonha em levar o mundial para a Arena do Grêmio, que está sendo construída em ritmo acelerado no bairro Humaitá.

Este seria o Plano B, mas em princípio nem mesmo isso poderá ser considerado como hipótese. A construtora OAS e a diretoria gremista se reuniram e decidiram criar um fosso para dividir a torcida e o campo de jogo, em detrimento das placas de acrílico usadas em boa parte dos estádios – talvez com o medo de que volte a ocorrer a quebra sob forte pressão, como se deu em Caxias, quando os tricolores visitaram o Juventude.

Por mais que isso não signifique recuo, que prejudique a visão do torcedor, a FIFA proíbe que estádios utilizem desse artifício por conta dos graves problemas para uma possível evacuação – algo que lembra a “clássica” final da Copa João Havelange, quando os torcedores do Vasco eram expulsos por Eurico Miranda de dentro do gramado após a queda das grades por superlotação...

Enquanto isso...

Já falamos muito da discussão sobre a Lei Geral da Copa. A promessa de votá-la em janeiro foi por água abaixo. Como bem reclamou o deputado federal Romário (PSB/RJ), os congressistas só começam o ano mesmo depois do carnaval (e mais uns dias chorados), independente de pressão de FIFA ou quem quer que seja.

Ah, para “burlar” a meia-entrada, já parecem ter descoberto uma alternativa: vão dobrar o valor do setor 4, para US$ 50, e o ingresso para estudantes e idosos fica segundo as contas da FIFA, US$ 25. Esperteza é outra coisa...

Mas, ao menos, boa parte dos estádios do país está se encaminhando, mesmo que a trancos e barrancos - alguns até mais trancados, casos de Natal e Curitiba.

No caso gaúcho, a Andrade Gutierrez parece querer desistir da obra e busca um culpado. Atado por se tratar de uma negociação entre entes privados, o governo rio-grandense assiste a novela, torcendo para que a gangue denunciada por Andrew Jennings não venha a sediar partidas do esporte bretão na casa hoje comandada pelo ex-líder da tropa de choque de Antônio Britto na Assembleia Legislativa do Rio Grande. No final das contas, os gaúchos podem ficar sem jogos da Copa.

Além das Quatro Linhas

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