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opinião / análise
Thursday March 16, 2006 23:01 by CAZP - Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares - AL - Brasil cazpalmares at hotmail dot com
Esse texto busca analisar o movimento estudantil, particularmente o universitário, em suas potencialidades enquanto agente transformador da realidade e instrumento para superação do capitalismo. Contribuição à análise do Movimento EstudantilSe é verdade que o movimento estudantil é um movimento social, é preciso, para analisá-lo, traçar criticamente suas peculiaridades. Dentre elas, duas se mostram fundamentais para entendê-lo: o caráter temporário e policlassista que possui. Estes, longe de serem apenas detalhes, serão as duas principais características que moldarão e limitarão sua atuação e papel na luta de classes. O fato de ele ser temporário se baseia em que o estudante não será estudante toda a vida, passando em média cinco anos na universidade, onde, na maioria das vezes, nem todos são dedicados a militância. Isso exige uma renovação de militantes muito rápida, que nem sempre consegue ser suprida, dificultando uma atuação madura e contínua. Isso é notável ao se analisar os históricos de entidades. Tem-se a impressão de que sempre se está começando. Há, assim, uma dificuldade grande de construir trabalhos com frutos a médio e longo prazo. Isso exige um bom trabalho de formação e capacitação que garanta a renovação e o amadurecimento político daqueles que chegam. Quanto a ser policlassista, se evidencia na própria composição da universidade. Diferente de outros movimentos sociais que vão ser formados no seio da classe trabalhadora e oprimida, aqueles que têm acesso ao ensino superior, são majoritariamente os provenientes, senão das camadas mais abastadas da sociedade, ao menos daquelas que podem ou se esforçam para pagar uma formação educacional privada a seus filhos. Isso faz com que o movimento estudantil seja um movimento formado por uma maioria pequeno-burguesa que, percebendo as contradições do sistema social que vivemos, tenta fazer alguma coisa para mudar. Dada a composição do movimento, esta logo impõe limites a sua atuação. O primeiro é que este movimento, enquanto instrumento de luta contra a ordem estabelecida, nunca representará os anseios da totalidade dos estudantes já que grande parte não pertence à classe que é oprimida diretamente com o capitalismo e, assim, a participação será quase sempre feita por uma minoria. O outro limite que a composição do movimento traz é a facilidade com que ele assume um caráter reformista e/ou pequeno burguês, na medida em que não almeja ou não trabalha com perspectivas de ruptura. Isso se dá, entre outras coisas, devido à distância que os estudantes estão das contradições mais agudas da sociedade. Se podem vê-las, é certo que a maioria não as vive no dia a dia. Daí a necessidade de o movimento transpor os muros da universidade, evitando o academicismo ou meramente as questões internas da instituição. Isto não quer dizer negligência quanto às necessidades imediatas do meio em que se fala, que estamos inseridos. Afinal, o que faz o estudante despertar pra luta? Seriam os baixos salários do operário da Fiat? E o que faz o operário da Fiat despertar para a luta? Seria a precarização do ensino? Devemos sim, partir de uma base material, de uma luta que, como método de mobilização, toma inicialmente um caráter reivindicativo (o que de forma alguma quer dizer que este seja necessariamente reformista) elevando a um nível maior, de luta política de intenção revolucionária, na medida em que faz o diálogo da realidade local com a sociedade em geral, compreendendo a luta em sua totalidade. Faz-se, então, essencial o contato com os demais movimentos sociais para que a vivência com o povo pobre organizado crie consciência de classe no militante e uma maior responsabilidade com a luta. A discussão sobre a importância de uma universidade voltada para as camadas populares, que sirva como um instrumento para se pensar uma sociedade justa e libertária, contrapondo a idéia de pólo gerador de mão-de-obra e tecnologia para o mercado, é essencial para fortalecer este contato e mesmo aprofundar teoricamente questões como sociedade e organização popular. Porém, devido às limitações antes comentadas, o principal papel, mas não o único, que surge para o movimento estudantil na construção de um outro projeto de sociedade é o de “escola”. Escola de militância que nas ruas, seja pelo Passe Livre, seja contra a Reforma Universitária, forje lutadores do povo compromissados com a luta, fazendo uma opção de classe clara, tomando uma postura de embate ao lado dos que realmente sofrem com a exploração do Capital. E é fundamental ter em mente este papel, para que não se veja o ME com um fim em si mesmo. Para evitar que valiosos militantes ao se formarem sejam apenas mais alguns dentre os profissionais liberais, não contribuindo como poderiam com a luta das massas laboriosas. Para que se tenha em mente que mudar o mundo não é trabalho apenas para os fins de semana ou para os tempos de juventude, mas sim para toda uma vida. .:(A):. |
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