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Eleições presidenciais brasileiras e as mazelas deste processo democrático

category brazil/guyana/suriname/fguiana | economia | opinião / análise author Saturday August 30, 2014 11:06author by BrunoL - 1 of Anarkismo Editorial Groupauthor email blimarocha at gmail dot com Report this post to the editors

Bruno Lima Rocha, 28 de agosto de 2014

No meio da corrida eleitoral de 1º turno, onde a 7ª economia do mundo vai decidir seu destino consultando a vontade e desinformação da 79ª sociedade mundial em índice de IDH, é preciso fazer uma série de reflexões. Para tal, precisamos ir além da denúncia do esvaziamento da democracia em sua versão liberal e indireta. Entendo que vivemos um problema estruturante, que tem relação direta com dois fenômenos. O primeiro passa pela individualização do cotidiano, com tarefas que se multiplicam e tempos esgotados. O capitalismo em sua era informacional não dá tempo hábil para a vida coletiva e menos ainda para as experiências políticas massivas. Quando isto ocorre, temos uma “crise”, como em junho de 2013. Saudável “crise” por sinal.
Na ausência de plena capacidade de participação e crítica, a democracia representativa acaba se tornando um ritual onde os que decidem pouco percebem sobre o que estão decidindo.
Na ausência de plena capacidade de participação e crítica, a democracia representativa acaba se tornando um ritual onde os que decidem pouco percebem sobre o que estão decidindo.

O segundo se aplica no descolamento do processo eleitoral em relação ao processo político. A escolha massiva de governantes, em especial dos concorrentes para o Poder Executivo, é atravessada pela linguagem publicitária, passando longe da propaganda política, anos luz das grandes ideologias e universos de distância das realizações de governo ou proposição de políticas públicas. Má notícia. Estes dois fenômenos não são fruto da infeliz democracia publicitária brasileira e sim um padrão no mundo ocidental, onde as democracias liberais, indiretas, não deliberativas e com tendências oligárquicas esgotam sua capacidade de representar as vontades de maiorias que decidem sem sequer saber ao certo sobre o que estão decidindo.

O descolamento eleitoral é simples de ser observado. Em alguns testes – não científicos, sem variáveis de controle – venho observando o seguinte processo, usando como ponto de debate a corrida eleitoral para a Presidência em 2014.

Se admitirmos como válidos os critérios sócio-econômicos do IBGE, indivíduos das classes C e D estariam propensos a votar em Marina, ainda que não consigam definir uma política de governo com a qual ela se comprometera. A medição dos candidatos se dá, majoritariamente, através de efeitos midiáticos, sendo que a maioria não entende o funcionamento do Estado brasileiro e menos ainda o peso da dívida pública, ainda que esta pauta tenha sido ressaltada no debate televisivo inicial (na Rede Bandeirantes, na 3ª dia 26/08/2014). Assim, as primeiras impressões definem mais as escolhas do voto do que qualquer análise mais racional dos benefícios advindos através do lulismo e seu governo de conciliação de classes e jogo do ganha-ganha. A fórmula é simples. Um ponto de variação da Taxa Selic implica em um ano de gastos do Bolsa Família. Ainda assim, nada indica a fidelização de votos dos beneficiados pelas tímidas políticas sociais do lulismo.

Já nas classes A e B, ao menos onde circula um bom nível de informação e o alinhamento tanto com o Ocidente como com o pensamento neoliberal mais duro não são tão evidentes, a tendência é vir a votar em Dilma pela lógica da sequência da projeção do Estado brasileiro e das políticas públicas abrangendo tanto os empreendimentos como as políticas sociais. Parece que o Aécio só ganha – segundo o tracking do Ibope - com gente com renda acima de 5 salários mínimos. Trata-se de oposição classista (do andar de cima e ideológica), assim a esperança dos tucanos que não são tão vinculados a um comportamento de tradição udenista migra para a chance de vitória com Marina.

Como o que vale é a regra de campanha, a presidente de fato é simbolicamente frágil. Dilma fala mal, se expressa mal e tem dicção truncada. É um péssimo produto televisivo e uma boa operadora de governo. Sem o Lula empurrando e com algum esgotamento do modelo brasileiro de crescimento, pode emperrar no 2o turno. Quanto ao PSDB, entendo que José Serra e Alckmin estão puxando votos para Marina, esvaziando a campanha do Aécio. Mas, pode ser que Marina não surfe nesta onda positiva por mais 30 dias e chegue com algum desgaste nas eleições (o caso do avião de Campos e o grupo de assessores diretos de campanha, com a Natura e o Grupo Itaú ao seu redor).

Se houvesse algum tipo de racionalidade neste processo, duas constatações óbvias seriam consenso. A primeira afirma ser a centro-esquerda a melhor gestora do capitalismo (e isso não é um elogio ou uma apreciação). A segunda constatação afirma que qualquer proposta de esquerda e democrática, deveria passar cada vez mais longe das urnas e sim na luta direta por direitos e formas democráticas deliberativas.

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