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Carlos Alberto Sardenberg, equívocos conceituais e desinformação histórica – 1

category brazil/guyana/suriname/fguiana | economia | opinião / análise author Wednesday January 06, 2016 08:50author by BrunoL - 1 of Anarkismo Editorial Groupauthor email blimarocha at gmail dot com Report this post to the editors

05 de janeiro de 2016, por Bruno Lima Rocha

Em plena véspera de Natal de 2015 (24/12/2015), o jornalista de economia das Organizações Globo, Carlos Alberto Sardenberg publicou um artigo de opinião na página 14 do jornal O Globo com o título “Uma esquerda neoliberal?”. No texto, o experiente comunicador, especializado na área de economia e defensor explícito dos paradigmas do neoliberalismo, afirma uma teoria de tipo conspiratória, onde acusa o pacto do Lulismo, e em especial o governo de Dilma Rousseff, no primeiro ano de seu segundo mandato, de haver indicado o hoje ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy para não fazer nada e apenas dar alguma satisfação “ao mercado”. O texto de quatro colunas necessitaria de ao menos o triplo de palavras para dissecar as confusões geradas quando este tipo de difusão vulgar da economia e da política atinge a massa de leitores e receptores que hoje acompanham a crise brasileira.
Como era de se esperar, Sardenberg compara Lula e Dilma a Fernando Henrique Cardoso (FHC) e aquele que seria sua grande inspiração, o ex-primeiro ministro espanhol, Felipe González.
Como era de se esperar, Sardenberg compara Lula e Dilma a Fernando Henrique Cardoso (FHC) e aquele que seria sua grande inspiração, o ex-primeiro ministro espanhol, Felipe González.

Afirmara o mesmo do próprio Lula, que chamara Henrique Meirelles (ex-presidente mundial do Banco de Boston) e tinha Joaquim Levy como secretário do Tesouro, foi ortodoxo enquanto houve necessidade e depois enveredou pela “nova matriz”, chegando ao auge do primeiro governo de Dilma, quando Guido Mantega fez a escolha pelo desenvolvimentismo e o aumento do gasto público como forma de subsidiar o crescimento (insisto, e não o desenvolvimento). Agora, que Dilma ressurge das cinzas, se equilibrando entre a disputa ferrenha na interna do PMDB (na aliança Michel Temer e Eduardo Cunha, com Moreira Franco passando pelo Rasputin dos oligarcas confrontando ao “coronel” Renan Calheiros e a base chaguista do PMDB fluminense), sai aquele que veio da mesa de vice-presidentes do Bradesco (Joaquim Levy) e entra o ex-ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, em tese um desenvolvimentista convicto.

Barbosa seria – ainda segundo Sardenberg – outra jogada de cena. Na primeira hipótese, a que considero mais viável, ele pode realizar a dureza do ajuste sem ter de confrontar-se com o que resta de base social para o bloco de centro-esquerda do governo (PT e PC do B). Na segunda hipótese, Barbosa entra para nada fazer, pois está convencido – assim como Dilma – que a “nova matriz” – uma inflexão desenvolvimentista sem um projeto de desenvolvimento do país – é a forma possível de acomodar interesses e manter o bem-estar social.

Como era de se esperar, Sardenberg compara Lula e Dilma a Fernando Henrique Cardoso (FHC) e aquele que seria sua grande inspiração, o ex-primeiro ministro espanhol (logo após o término do governo de Adolfo Suárez e o fim da transição pós-franquista), Felipe González. Confundindo conceitos fundamentais – a propósito ou por desconhecimento, embora com efeitos iguais – como “desenvolvimentismo”, “esquerdistas”, “esquerda social-democrata”, o experiente jornalista das Organizações Globo (com participações na cadeia CBN, na mídia impressa e eletrônica com base no texto, no Jornal da Globo, além de um concorrido blog por ele editado) coloca na vala comum posicionamentos totalmente distintos e até antagônicos. Obviamente, Sardenberg omite as passagens históricas, ou os constrangimentos e aportes estruturais que possibilitaram os “milagres do capitalismo moderno” defendido por FHC e González. Como afirmei no parágrafo inicial, vou precisar ampliar o espaço da crítica para desmontar aquilo que considero absurdo.

Começando pela “nova matriz”, de novo temos a presente confusão (entendo como proposital) entre crescimento econômico e desenvolvimento. Se nosso país, mesmo dentro de um capitalismo periférico e líder subalterno dos BRICS, insiste em ser governado através de um pacto de classes onde se acomodam as exigências dos agentes econômicos operando no Brasil e tem como base da balança comercial a colonial exportação de commodities primárias (grãos e minério de ferro basicamente), logo não temos um projeto de desenvolvimento e sim um modelo de crescimento.

Neste modelo, onde existe alguma política industrial – tímida e por vezes pífia – a condição dos oligopólios nacionais de atuar como clientes privilegiados do Estado (quase que uma necessidade dentro dos marcos dos países semi-periféricos) têm de espremer o caixa para salvar para si o que resta da fúria e do espólio do rentismo. Logo, não há “nova matriz” que resista ao incentivo às exportações de manufaturas asiáticas (produzidas com mão de obra com pouco ou nenhum direito), a consequente desindustrialização, e sendo sangrado o caixa da União com no mínimo 40% do orçamento anual indo pelo esgoto da rolagem da dívida pública interna e dos especuladores de sempre a faturarem com a jogatina.

O modelo anterior, advogado por Sardenberg, nem isso tinha – arremedos de política de crescimento – e que dirá de desenvolvimento, algo inexistente dentro do pacto de classes a sustentar o lulismo. Reduzir o pensamento de esquerda ao aumento do gasto público e a regulação secundária do agente econômico é no mínimo uma desinformação nefasta. Nem o pacto lulista e seus partidos de centro-esquerda (ex-esquerda) são ainda de Esquerda e tampouco são neoliberais. O jornalista desinforma duas vezes, reiterando uma piada pronta no subsistema político gaúcho. O deputado estadual Marcel Van Hattem (PP-RS), neoliberal assumido da escola de Ludwig von Mises é filiado ao Partido “Progressista”. O alvo preferido de sua histeria neo-lacerdista é a hoje deputada estadual pelo PC do B (RS), Manuela d’Ávila. Sendo muito franco, nem Van Hattem é “progressista” e tampouco Manuela (uma parlamentar correta no que se propõe, mas que como seu partido, abriu mão da luta popular e de classes há décadas) é “comunista”.

Jogar conceitos ao vento como se as palavras não tivessem carga e significado e omitir as relações causais e estruturantes de maior peso é confundir e desinformar. Mais do mesmo assim como o receituário neoliberal que Carlos Alberto Sardenberg defende diariamente.

Bruno Lima Rocha é professor de ciência política e de relações internacionais.

Site: www.estrategiaeanalise.com.br
Email: strategicanalysis@riseup.net
Facebook: blimarocha@gmail.com

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