Em uma data forjada no calor da luta da classe trabalhadora, símbolo da vitória que foi a consolidação da jornada de 8 horas de trabalho diário, hoje somos obrigados a assistir às centrais sindicais brasileiras (aquelas mesmas que se consideram no direito de representar a classe e negociam às custas dos direitos das e dos trabalhadores) transformarem o luto e a luta em palanque político eleitoral. Seria patética, se não fosse trágica, a traição que CUT, CTB e demais centrais cometem ao chamar para discursar figuras como Rodrigo Maia, João Dória, David Alcolumbre, Fernando Henrique Cardoso e Dias Toffoli. Inimigos declarados das e dos de baixo, esses senhores foram e são responsáveis pelos mais diversos ataques feitos ao nosso povo, ataques esses que só nos trouxeram mais miséria e opressão. Tal desatino também serve para mostrar a incapacidade desses setores da esquerda que acreditam ainda na disputa pelo aparelho de Estado, disputa essa que os leva a cálculos sujos e os obriga a tentar alianças com o que há de mais podre na política profissional.
Coordenação Anarquista Brasileira
No entanto, apesar dessa disputa de poder dos de cima, há muita coisa em comum entre eles, pois ninguém move esforços reais para preservar os empregos e a renda ao mesmo tempo em que se preserva a saúde. Demissões vêm ocorrendo nos estados e municípios que “defendem” a saúde e que incentivam o isolamento social. Assim como não há políticas concretas em socorro aos trabalhadores informais e autônomos que arriscam sua saúde, tendo que sair para trabalhar (como é o caso de trabalhadores de aplicativos) ou que têm visto sua renda diminuir cada vez mais.
Bolsonaro segue sem se importar com o colapso do Sistema de Saúde Pública e suas consequências, que atingem tanto os trabalhadores da saúde como a maioria do povo que acessa esse serviço. Enquanto a doença se alastra pelo país, são flexibilizadas as medidas de distanciamento social e, por pressão de setores da burguesia associados ao bolsonarismo, diversos governos planejam o retorno à normalidade. Não consideram o aumento das mortes, a subnotificação do contágio e o número de leitos de UTI insuficientes para atender toda a demanda.
Em relação aos profissionais de saúde, a situação também é dramática. Na linha de frente, estão diretamente expostos ao vírus, muitas vezes sem Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) suficientes, tendo que trabalhar com a falta de recursos, em hospitais superlotados e em regimes de plantão extenuantes. Neste 1º de Maio, não poderíamos deixar de fazer uma menção especial e estender nossa solidariedade para esses trabalhadores e trabalhadoras da saúde que hoje, mais do que nunca, colocam suas vidas em risco para cuidar da saúde coletiva.
Não é de hoje o sucateamento da saúde pública e das nossas condições de vida. A pandemia é só mais um fator de agravamento e deixa mais evidente o estrago feito por anos de reformas neoliberais e pela lógica de subfinanciamento do setor. Os gastos com saúde privada são superiores aos gastos com a saúde pública, que deveria ser um direito de todos e todas. Para termos uma noção, os gastos pelas famílias com saúde chegam a 5,3% do PIB, valor superior ao gasto público, que é de 3,9%. E a principal despesa das famílias com saúde são os serviços de saúde privada.
São cerca de 38 milhões de brasileiros e brasileiras trabalhando na informalidade. Em conjunto, movimentam aproximadamente 1,12 trilhões de reais, cerca de 17,3% do PIB. E quais as medidas de apoio do governo a essa parcela da população que, ou não pode ficar em casa, ou tem visto suas fontes de renda diminuir consideravelmente? Um irrisório valor de R$ 600,00. Se já é difícil sobreviver com um salário mínimo, imagina com um valor bem abaixo. E como ficam a pessoas que não são consideradas pelo Decreto? As que não possuem as ditas “condições” para recebimento do auxílio? Muitas ainda esperam angustiadamente pela mudança do status “em análise” no aplicativo para poder sacar o dinheiro.
Os efeitos da crise do Covid-19, da crise do petróleo e o aumento vertiginoso do dólar precipitam um cenário que intensifica a precariedade social. Apesar dos estímulos econômicos, nenhuma dessas medidas é suficiente para barrar a recessão que se avizinha de maneira global.
Os governos não possuem nenhum compromisso com as demandas das classes oprimidas. Seu compromisso é com os de cima, com os banqueiros, grandes empresários, os super-ricos desse país. Não à toa, os trilhões em socorro aos dominantes de sempre já estão garantidos. Tanto Bolsonaro quanto Guedes desprezam a vida e só querem que trabalhemos para aumentar suas fortunas e lucros, às custas do nosso suor.
O segundo é ações que devemos levar adiante enquanto classes oprimidas para reivindicar nossas urgências e acumular forças no enfrentamento aos de cima. Quando dizemos “Os ricos que paguem”, estamos falando de mexer nos lucros, de coletivizar as fortunas, de exigir que os patrões paguem pelas consequências da crise provocada em partes pela pandemia, em partes pelos governos que a alimentam como técnica de controle. A luta por uma vida digna e por um mundo em que as riquezas sejam melhor distribuídas, em que não existam mais pessoas a morrer de fome, nem sem acesso a condições básicas de vida (como saúde, saneamento básico, trabalho e educação), passa necessariamente pelo confronto contra as classes dominantes.
Que a data de hoje nos traga à memória o exemplo dos nossos mártires de Chicago, que souberam dar suas vidas à causa da emancipação do povo oprimido, e que, tocados por sua lembrança e por seus sentimentos de justiça social, cerremos nosso punho e arranquemos o fim da miséria daqueles que nos oprimem todos os dias. É tempo de sermos consequentes, organizar nossa luta e nossa resposta contundente contra aqueles que nos atacam todos os dias.
À luta, companheirada!
VIVA O 1º DE MAIO CLASSISTA E COMBATIVO!
ARRIBA LAS Y LOS QUE LUCHAN!