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A Greve Geral de 1917 e a LDP

category brazil/guyana/suriname/fguiana | história do anarquismo | debate author Tuesday April 03, 2007 06:03author by Evandro Couto - FAGauthor email secretariafag at vermelhoenegro dot org Report this post to the editors

Contribuição à memória de luta da classe operária

No inicio do século XX, foi de muita importância a participação dos anarquistas e do sindicalismo revolucionário no sentido de construção de uma cultura de combate, ação direta e de mobilização permanente. Muitas das várias entidades do movimento operário brasileiro do período: os sindicatos por ramos e ofícios, as ligas e uniões operárias, as federações estaduais, a Confederação Operária Brasileira (fundada em 1906) estavam sob forte influência dos anarquistas.
Concentração do movimento grevista na Rua da Praia. Porto Alegre 1917.
Concentração do movimento grevista na Rua da Praia. Porto Alegre 1917.


A GREVE GERAL DE 1917:
Contribuição à memória de luta da classe operária*

Anderson Romário Pereira Corrêa


A efervescência do operariado brasileiro, que culmina no movimento grevista de 1917, tem na inter-relação de vários fatores econômico-sociais suas possíveis explicações: a ação organizativa e propagandista do sindicalismo revolucionário – ou seja, o processo implementado pelos militantes anarquistas ao movimento operário; e a conjuntura econômica proporcionada com a crise gerada pela forma com que a economia brasileira estava inserida ao capitalismo internacional durante a Primeira Guerra Mundial. O seguinte trabalho se desenvolverá descrevendo primeiro a cultura combativa de segmentos da classe operária, e em seguida a conjuntura de crise econômica do período da Primeira Guerra Mundial acirrando-se em 1917 e a “luta e organização” das mobilizações populares em 1917 no Rio Grande do Sul.

Além da conjuntura de crise econômica, os operários gaúchos também agiram em reflexos as mobilizações nos outros estados do centro do país (alguns historiadores apontam inclusive as primeiras noticias da Revolução Russa como motivadores das mobilizações proletárias). Aqui no sul destaca-se o papel dos militantes anarquistas, dos operários da Viação Férrea, a Liga de Defesa Popular de Porto Alegre, o Comitê de Defesa Popular em Pelotas.

Cultura combativa e luta de classes: De nada adianta haverem conjunturas de acirramento das contradições, crises econômicas etc.; estes “momentos” de crise somente proporcionam ações de caráter reivindicativo e de acúmulo revolucionário se houverem ambientes e cultura popular com “identidade de classe” que saibam aproveitar estas conjunturas e acirrarem as lutas. Destacamos o papel de incansáveis militantes, abnegados na luta de classes. É fundamental o nível de conscientização, o grau de mobilização e capacidade de organização do movimento social no que se refere a sua ação política e social. Estes elementos estão inter-relacionados.

No inicio do século XX, foi de muita importância a participação dos anarquistas e do sindicalismo revolucionário no sentido de construção de uma cultura de combate, ação direta e de mobilização permanente. Muitas das várias entidades do movimento operário brasileiro do período: os sindicatos por ramos e ofícios, as ligas e uniões operárias, as federações estaduais, a Confederação Operária Brasileira (fundada em 1906) estavam sob forte influência dos anarquistas. Implementavam um sindicalismo revolucionário na maioria das entidades que tinham condições de estabelecer hegemonia política: Consideravam que o sindicalismo não deveria envolver-se na disputa eleitoreira da “democracia burguesa”, não deveria atrelar-se à partidos políticos, em fim, preconizavam a independência de classe em relação à agenda burguesa e aos patrões. Seus métodos eram os da ação direta e a greve geral com propósitos revolucionários, orientados a um objetivo de construção de uma nova sociedade socialista e libertária, ou como eles diziam na época: comunismo libertário (anarquista).

Os militantes operários buscavam abarcar todos os espaços possíveis do cotidiano da família proletária. Além do companheirismo nos locais de trabalho, de passarem as mesmas dificuldades, sofrerem juntos os mesmos problemas: salários baixos, jornadas cansativas e insalubridades – os militantes operários (anarquistas) proporcionavam através dos sindicatos, centros de cultura social, escolas e universidades populares, jornais, teatros, piqueniques, em fim, várias oportunidades de cultura, lazer e luta. Assim construíam uma “cultura de classe” e identidade de luta permanente. No Rio Grande do Sul muitos dos militantes de 1917 foram “formados” nas escolas racionalistas mantidas pelos militantes libertários.

A conjuntura e crise: O Brasil inseriu-se na 1º Guerra Mundial como fornecedor de gêneros alimentícios às populações civis e às tropas da “Entende”. As exportações de bens de primeira necessidade cresceriam de forma acelerada a partir de 1915. O aumento das exportações dos gêneros de primeira necessidade deslocou uma parcela ponderável da produção tradicional que era voltada para o mercado interno, e passou a atender as demandas externas. O preço dos produtos acabou encarecendo para o consumo interno – dos brasileiros. A esta ascensão dos preços correspondiam salários nominais estanques e a política oficial de “apertar os cintos”, a freqüente instituição de contribuições “pró-pátria” descontados em folha e outras formas de socializar a crise. Portanto, a elevação do custo de vida fez-se acompanhar do declínio constante do salário real.

Abaixo está reproduzido um quadro que procura demonstrar quantitativamente a industrialização e o número de operários no Brasil, três anos após a Greve de 1917. No levantamento de informações, é a representação mais próxima que podemos ter da realidade daquele ano.

Estatística Industrial – 1920.
Estado Número de estabelecimentos Número de Operários
Distrito Federal 1.451 56.229
Minas Gerais 1.243 18.552
Rio de Janeiro 454 16.794
Rio Grande do Sul 1.773 24.661
São Paulo 4.145 83.998
Demais Estados 4.180 75.278
Total 13.336 275.512

Observamos que o Rio grande do Sul em 1920 ocupava o segundo lugar em relação aos outros estados no tocante ao número de indústrias e o terceiro em relação ao número de operários.

No Rio Grande do Sul, durante a Primeira Guerra Mundial, instaura-se um processo de substituição de exportações, concentrando no setor de bens de consumo não-duráveis: têxteis, calçados, bebidas, produtos alimentares, etc. Ou seja, a elevação dos preços dos gêneros de primeira necessidade se deu graças à produção voltada para o mercado externo. Os principais compradores dos nossos produtos eram os países em Guerra. Produzíamos para alimentar as potências em guerra e o nosso povo passava fome. A expansão industrial dá-se à custa da intensificação da força de trabalho: a jornada de trabalho situava-se entre 10 e 12 horas diárias nas fábricas, oficinas e construção civil: no comércio têm-se notícia de jornadas diárias ainda mais prolongadas. Também era alta a percentagem de mulheres e crianças empregadas em fábricas. O trabalho feminino e infantil percebia uma remuneração ainda mais baixa do que o trabalho operário masculino adulto.

Estatística Industrial do Rio Grande do Sul (1905 – 1919)
Ano Número de Fábricas Capital (contos de réis) Produção (contos de réis) Operários Força Motriz
1905 314 49.200 99.780
1908 314 14.434 99.778 15.426
1915 2.787 101.586 220.551 29.617 25.969
1916 9.477 119.801 265.963 38.488 30.930
1917 11.787 142.792 371.707 52.444 37.583
1918 12.770 155.556 399.718 58.680 43.230
1919 12.950 160.000 420.000 65.000 43.600

Demonstra-se através do quadro acima, que houve um elevado crescimento econômico (em todos os sentidos: número de indústrias e operários inclusive) no ano de 1917, em relação à tendência de crescimento ano a ano verificada no período.

Fica claro que a crise era para as classes mais baixas, os trabalhadores e operários em geral. Alguém estava lucrando com a conjuntura de Guerra e crise “econômica e social”: a burguesia industrial.

Sobre Porto Alegre o quadro que segue é bem interessante, podemos ver que nos anos próximos 1917 o número de oficinas, era bem maior do que o número de indústrias. Mostra assim outro perfil do período. Demonstra que a classe operária não era formada por “proletários” industriais de linhas de produção, mas com mestre de ofícios, artesãos, aprendizes de artesãos, etc.

Anos Número de Fábricas Número de oficinas
1908 100 18
1907 126 24
1908 112 38
1909 117 33
1910 129 37
1911 154 149
1912 180 172
1913 180 172

O censo de 1920 registrou em Porto Alegre um total de 179.263 habitantes, porém a população economicamente ativa era de 53.178 pessoas. Este número subestima demais a realidade, pois muitos trabalhadores que participavam da economia urbana não apareceram nos registros oficiais. A economia informal, que naquela época era representativa, está fora dos registros estatísticos. Destes trabalhadores aferidos, 74,7 % eram nacionais e 25, 3 % eram estrangeiros.

Destaca-se no quadro acima, a representação gráfica do proporcional de habitantes em Porto Alegre e os trabalhadores economicamente ativos. Outro destaque é possível fazer quanto à questão do papel do imigrante no movimento operário do período. Percebemos a mínima quantidade da representação imigrante - cerca de um quarto do total de trabalhadores, e os trabalhadores de nacionalidade brasileira representavam três quartos do proletariado. Na greve de 1917, a maioria dos militantes operários, como já dissemos, conviveu e foi “formada” nas ações políticas e culturais do próprio movimento operário. Eram em sua maioria militantes nascidos no Brasil, e gaúchos. Podemos considerar também, que embora não tenhamos dados sobre o total da população do Estado e o número de operários, pode-se ter uma idéia a partir do momento que Porto Alegre era, junto com Rio Grande e Pelotas, as cidades com um maior número de oficinas e indústrias.

Distribuição setorial do pessoal economicamente ativo (1919) Número de pessoas Proporção
Indústria 16.880 31,7%
Transporte 4.189 7,9%
Comércio 12.458 23,4%
Agricultura 9.390 17,7%
Exploração do subsolo 171 0,3%
Administração/prof. liberais 10.090 19,0%
Total população economicamente ativa com profissão definida
53.176
100,00%

Luta e organização: As organizações operárias no rio Grande do Sul começam a surgir nas últimas décadas do século XIX. Destacamos um ponto importante neste aspecto que é a constituição de organizações operárias esparramadas por todo interior do Estado. Pode-se ver no primeiro congresso operário, no ano de 1898 a participação de várias cidades como: Porto Alegre, Rio Grande, Pelotas, Alegrete, Cruz Alta, entre outras. Assim destacamos que existiam organizações operárias em Alegrete, Uruguaiana, Quarai, Livramento, Dom Pedrito, Bagé, São Francisco de Assis, São Gabriel, Santa Maria, Passo Fundo, Cachoeira do Sul, etc.

A redução no nível e condições de vida, o agravamento nas condições de existência do operariado durante a Primeira Guerra atingiu seu clímax no ano de 1917. O descontentamento se generaliza no meio operário e seus efeitos começam por São Paulo. A partir do mês de junho eclodem várias greves que se alastram e ampliam no mês de julho. Atingiram seu ponto alto entre os dias 12 e 15 de julho, quando se forma um Comitê de Defesa Proletária que negocia aumentos salariais.

As notícias da “Greve Geral” chegam pela imprensa, noticiando a paralisação dos operários de São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Curitiba, etc. No Rio Grande do Sul a greve de 1917, de acordo com Silvia Petersen, em termos organizativos foi obra da Liga de Defesa Popular, pois a FORGS, pouco ou nada fez para mobilizar os trabalhadores. A greve foi fruto da insistência de grupos de operários, militantes que tomaram para si a responsabilidade de organizar os trabalhadores. A pesquisadora Silvia Petersen aponta que em nota publicada na imprensa, a FORGS declara que: “(...) não cogita de greve, tendo até mesmo se esforçado junto às associações que lhe são federadas para que esta capital nada venha sofrer na sua tranqüilidade.” Sobre este aspecto relacionado à participação da FORGS, também colabora Adhemar Lourenço da Silva Jr . Destacando que: “Há indícios de que os cargos da diretoria da Federação Operária não eram então ocupados por anarquistas e que tais militantes eram inclusive contrários a uma greve geral.” Estes “tais militantes” a que se refere Adhemar, só para ficar bem claro, eram os não anarquistas. Existia no entanto a União Operária Internacional, organização anarquista que se empenhava pela greve. No dia 26 de julho começa a ocorrer alguns incidentes. Operários da viação Férrea percorrem a linha propagando a greve. No dia 30 de julho era feita uma convocação assinada pela União Operária Internacional marcando uma concentração pública para o outro dia na Praça da alfândega. No final desta concentração ao clamor e gritos de Greve! Greve! – foi eleita uma “Liga de Defesa Popular”. Os principais organizadores da greve em Porto Alegre, eram membros da Liga: Luis Derivi, secretário do sindicato dos pedreiros, carpinteiros e classes anexas e o líder tipógrafo Cecílio Vilar, o qual entre outras coisas afirma:

“...mas o momento não é para conciliações, é de luta. A luta mais justificável, a luta pela vida. Os operários devem se erguer como um só homem, para sair às ruas e conquistar o pão que nos está sendo roubado e a fim de protestar contra a exploração de que é vítima a classe trabalhadora (...)

À noite a Liga reuniu-se e divulgou uma nota, com uma a seguinte pauta:

  1. Diminuição dos preços dos gêneros de primeira necessidade em geral;
  2. Providências para evitar o açambarcamento do açúcar;
  3. Estabelecimento de um matadouro municipal para fornecer carne à população a preço razoável;
  4. Criação de mercados livres nos bairros operários;
  5. Obrigatoriedade da venda do pão a peso e fixação semanal do preço do quilo;
  6. A intendência deve cobrar pelo fornecimento da água 10 % sobre os aluguéis e reduzir para 5% as décimas dos prédios cujo valor seja inferior a 40$000.
  7. Compelir a companhia Força e Luz a estabelecer passagens de 10 réis de acordo com o contrato feito com a municipalidade;
  8. Aumento de 255 sobre os salários atuais;
  9. Generalização da jornada de 8 horas;
  10. Estabelecimento a jornada de 6 horas para as mulheres e crianças.”
No dia 1º de agosto uma comissão é recebida por Borges de Medeiros que iria estudar as reivindicações operárias. Naquele inicio de agosto, Porto Alegre viveu momentos de empolgação revolucionária, pois a Liga de Defesa Popular constitui-se num verdadeiro poder paralelo, expressão de um “poder popular”. A força da Liga de Defesa Popular é bem ilustrada nos casos dos Salvo-condutos. Instituições, repartições púbicas, empresários além é claro, dos operários que recorriam à Liga de Defesa Popular para tratarem de assuntos de gestão da cidade e de algumas empresas que procuravam permissão da Liga. Nenhum veículo pôde circular sem salvo conduto.

Houve confrontos entre os operários e a brigada militar, como é possível afirmar a partir da pesquisa de João Batista Marçal , na biografia de “Djalma Fettermann, a bomba que assustou os brigadianos”:

Djalma Fettermann teve uma atuação importantíssima na Greve geral de 1917 e nos movimentos que precederam e sucederam, principalmente nas ações de rua, contra a policia e os fura-greves. Adepto da ação direta, juntamente com Reinaldo Geyer e Zenon de Almeida, aperfeiçoou um dispositivo de detonação de bombas que aterrorizou a brigada militar.

Além desta referência a enfrentamentos com a policia, o livro sita vários outros exemplos referentes a estes fatos da greve de 1917 em Porto Alegre.

“Concentração de grevistas na Rua da Praia por ocasião da greve de julho de1917”, este é o comentário abaixo da foto. A pesquisadora Sandra J. Pesavento , acrescenta: “Piquetes de operários cruzavam as ruas com praças da policia administrativa e da Brigada Militar, que patrulhavam a cidade.” Segue ela: “as ruas onde se situava o alto comércio da capital, onde nos dias normais era intenso o movimento, se encontravam paralisadas (Correio do Povo, 03/08/1917).”

No dia dois Borges de Medeiros baixa dois decretos atendendo boa parte das reivindicações feitas pela Liga de Defesa Popular: O Decreto 2.287 estipula aumentos salariais para todos “proletários ao serviço do Estado”, enquanto o decreto 2.288 regula a exportação de produtos alimentícios do estado. Segundo Miguel Bodea “Um veículo, portando, uma bandeira branca com as iniciais da Liga, L.D.P., estampadas em vermelho, percorria as ruas da cidade. A Liga concitava os operários a não voltarem ao trabalho, apesar das concessões já obtidas pelo governo estadual.” Na noite do dia 3 de agosto, o chefe de polícia Firmino Paim Filho comunica à Liga que as reivindicações dos operários serão atendidas. No dia 4 de agosto o Intendente municipal José Montaury Leitão baixa o Ato 137, estabelecendo o tabelamento de preços de gêneros de primeira necessidade com preços reduzidos ou tabelados: arroz, banha, açúcar, cebola, erva-mate, ovos, leite, pão, salame, manteiga, sal, charque, querosene, vela de sebo, massa branca, milho, fósforo, polvilhos, etc. Também é reeditado o Ato 107, de 1914, que regula as normas de venda de carne verde. Cedendo à pressão do movimento operário quase todas as firmas concedem aumentos de 25% e jornadas de trabalho de 8 horas. Alguns dos acordos seriam depois descumpridos. No dia 05 de agosto a Liga de Defesa Popular resolve encerrar a greve (em Porto Alegre). Porém permaneceram em greve os operários cujos patrões não tinham concedido a diminuição da jornada de trabalho e o aumento salarial. No boletim de 05 de agosto da Liga de Defesa popular lemos: “...examinando as conquistas feitas pelo proletariado local no atual movimento e o alcance das medidas tomadas pelos poderes públicos ... cessa o motivo da greve geral e a Liga de Defesa Popular aconselha a volta ao trabalho a todas as classes que julgarem conveniente. Aos que quiserem prosseguir em greve, por não terem conseguido seu objetivo, a Liga e a Federação Operária hipotecam sua solidariedade...”

Para listar as categorias e cidades em que trabalhadores gaúchos aderiram as greves de 1917 utiliza-se o levantamento feito por Silvia Petersen “Relação das Greves no Rio Grande do Sul” :
Ano/duração: 1917 – 30 de julho/ 9 de agosto.
Local: Santa Maria, Bagé, Livramento, Carazinho, Porto Alegre, Gravataí, Cruz Alta, Julio de Castilhos, Passo Fundo, Caxias, Pelotas, Santa Cruz, Rio Grande, São Leopoldo, Montenegro, Caí, Cachoeira, Cacequi, São Gabriel, São Jerônimo, D. Pedrito.
Categorias: Operários da Viação Férrea.
Motivos: Aumento Salarial, jornada de 8 horas, Semana Inglesa.
Observações: Dela participaram todos os municípios servidos pela Viação Férrea.

Ano/duração: 1917 – 01 a 05 de agosto.
Local: Porto Alegre
Categorias: Condutores de veículos e motores, empregados da Cia. Força e Luz, tipógrafos, estivadores, chapeleiros, operários do estaleiro Mabilde, empregados da Cia Telefônica, empregados moinho Rio-grandense, empregados das casas de Domingos Felippeto e Caetano Fulginatti, operários da fabricação de tamancos, empregados da destilaria Scalzilli, empregados da fabrica Castor, empresa de carruagens, União de ferros, Casa Singer, Victor Fischel, alfaiates, Gerdau, Cia Fabril Porto Alegrense, carpinteiros e marceneiros, Usina elétrica municipal e Cia Fiat Lux.
Motivos: Custo de vida e aumento Salarial
Observações: Vitória Parcial

Ano/duração: 1917 – agosto?
Local: Montenegro
Categorias: Operários da Fábrica de banha de J. A. Renner.
Motivos: Aumento de salário: jornada de 8 horas, solidariedade com companheiros de Porto Alegre.
Observações: Conseguem aumento salarial.

Ano/mês/duração: 1917 – 8 a 20 de agosto.
Local: Pelotas
Categorias: Motorneiros e condutores de bondes elétricos.
Motivos: Aumento Salarial, diminuição da jornada.
Observações: Greve Geral coordenada pela Comissão de Defesa Popular.

Ano/duração: 1917 - 8 agosto.
Local: Caxias
Categorias: Empregados de Amadeu Rossi.
Motivos: Aumento salarial, diminuição da jornada.
Observações:

Ano/duração: 1917 – agosto.
Local: Jaguarão
Categorias: Estivadores
Motivos: Aumento Salarial
Observações: Vitória

Os ferroviários haviam se adiantado ao movimento e no dia 31 de julho pela tarde começa a greve nas estações de Porto Alegre, Santa Maria, Pelotas, Rio Grande, Bagé, Gravataí, Passo Fundo, Couto, Cacequi e Rio Pardo.O inspetor geral da VFRGS Mr. Cartwrigth, começa a despedir funcionários e solicita a intervenção das tropas da 7ª Região militar. No dia 2 de agosto é feita a ocupação da estação de Santa Maria. Em represália os operários arrancam trilhos, derrubam pontes e bloqueiam a via com os dormentes e postes telegráficos em vários pontos do estado. Em Passo Fundo ocorrem violentos choques entre ferroviários e as forças militares. No dia 5 termina a greve dos ferroviários devido a forte intervenção militar. O movimento retorna em 1918.

Em alguns núcleos urbanos do interior ocorreram conflitos bem mais sérios dos que ocorreram na Capital. Em Pelotas, segundo maior núcleo urbano do Rio Grande do Sul (60 mil habitantes na época) o poder público resolveu o enfrentamento aberto ao movimento operário. A greve começa em 04 de agosto com várias categorias entrando em greve, e em atitude semelhante à de Porto Alegre e São Paulo criaram o Comitê de Defesa Popular. No dia 10 de agosto o movimento se radicaliza:

Uma passeata realizada no centro da cidade culmina com um comício na Praça 7 de julho. Durante o comício ocorre a violenta intervenção da policia, provocando tiroteios entre policiais e grevistas. A seguir intervém o 11º regimento de cavalaria: o conflito degenera em verdadeira batalha campal, que terá como resultado vários feridos.

Os operários se concentram na sede da Liga operária e novamente a polícia se envolve. Os operários resistem à ação da polícia que busca prendê-los e fechar a sede operária. O chefe de polícia tem seu cavalo abatido a tiros pelos operários e um funcionário da intendência municipal é mortalmente ferido. Depois de muita resistência os operários são finalmente desalojados da sede da liga operária. Ocorre uma radicalização cada vez maior das lutas e os operários de orientação anarquista, em boletins proclama: “companheiros! Não vos qualifiqueis: companheiros se já tendes título rasgai-o a fim de não dar a esses régulos o vosso voto. (...)”

O chefe de polícia da capital é deslocado para Pelotas em 12 de agosto para mediar a situação. No dia 15 de agosto a greve termina com a baixa dos preços dos gêneros de primeira necessidade.Também houve greves importantes em Rio Grande, Passo Fundo, Santa Cruz, Montenegro e Bagé.

A origem dos vários direitos que os trabalhadores possuem hoje, foram conquistados na luta, no enfrentamento contra os patrões e o governo. Quanto à greve de 1917: destacamos a conquista por algumas categorias das 8 horas de trabalho diárias e para Porto Alegre ficou o começo das “Feiras Livres” que existem até hoje.

Depois das mobilizações de 1917 o governo de Borges de Medeiros desencadeou uma série de ações de repressão, perseguição, prisões, deportações e morte de militantes operários anarquistas em porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Conseguiu assim diminuir a influencia destes militantes e dessa ideologia de luta no seio do movimento operário, além de outros fatores conjunturais das décadas seguintes. Em relação às mobilizações de Julho/agosto de 1917, percebemos:
- Que a classe operária representava um número relativamente pequeno em relação ao restante da população, principalmente em relação ao interior do estado (além de visualizarmos as limitações operárias em um Estado eminentemente agro-pecuário, percebemos a força do proletariado em vergar o governo e os patrões );
-Que esta classe operária não era composta em sua maioria de operários industriais, mas sim de pequenos artesões e mestre de ofícios - de oficinas, inclusive no interior do Rio Grande do Sul (a formação da classe operária, como já demonstrou E. P. Thompson, não é um derivado automático das estruturas econômicas, nem fruto da grande indústria moderna);
- Que a pauta de reivindicações contemplava questões que abarcavam as demandas daqueles setores que não apareciam na economia formal, ou seja, as demandas da população excluída do mercado de trabalho: moradia, transporte, preço dos gêneros alimentícios, etc. (traz naquela época, a preocupação da articulação das lutas dos oprimidos, como vivenciamos atualmente, porém não tiveram possibilidades de articular a luta camponesa e os trabalhadores rurais /Contestado/ – De acordo com o pesquisador Jorge Telles de Rosário do Sul, algumas tentativas foram feitas com Honório Lemes em 1923 mas não surgiram efeito);
- Que a mobilização grevista foi fruto de um processo acumulativo da cultura política operária, seus métodos de luta eram alicerçados na orientação anarquista;
- Papel fundamental dos organismos de gestão populares criados tanto em São Paulo, quanto em Porto Alegre e Pelotas (cabe aprofundar estudos sobre estas iniciativas e tecer paralelos com propostas de Poder Popular);
- Deixa claro a necessidade de um instrumento político anarquista que implementasse a partir de uma estratégia revolucionaria, táticas de luta na condução, na articulação e unificação das lutas – assim como preparar-se para a conjuntura de perseguições aos militantes operários que viriam a seguir.


Notas Bibliográficas:
* Este trabalho é uma introdução ao tema – GREVE GERAL DE 1917 - a partir de uma revisão bibliográfica.
Graduado em História, URCAMP/Alegrete - 2000. Especialista em Gestão Educacional – URCAMP/Alegrete -2002. Mestrando PPG - História PUCRS/POA – 2007. E-mail: arpcorrea@bol.com.br
2 BODEA, Miguel. A Greve de 1917: As origens do trabalhismo gaúcho.L&PM, POA, s/d;p.21. Tem quadro com números. Ver outras fontes.
3 REICHEL, Heloisa J. A Industriali2zação no Rio Grande do Sul na República Velha. In: RS; Economia e política; por Guilhermino César e outros. Org. Hildebrando Dacanal e Sergius Gonzaga. S ed. Porto Alegre. Mercado Aberto, 1993.p.267.
4REICHEL, Heloisa J. A Industriali2zação no Rio Grande do Sul na República Velha. In: RS; Economia e política; por Guilhermino César e outros. Org. Hildebrando Dacanal e Sergius Gonzaga. S ed. Porto Alegre. Mercado Aberto, 1993.p.17.
5 BODEA, Miguel. A Greve de 1917: As origens do trabalhismo gaúcho.L&PM, POA, s/d;p.25.
6 PETERSEN, Silvia Regina Ferraz. “Que a União Operária Seja Nossa Pátria!”: hitória das lutas dos operários gaúchos para construir suas organizações. Santa Maria: editoraufsm; Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2001. p329.
7 SILVA Jr. Adhemar Lourenço. A bipolaridade política rio-grandense e o movimento operário (188? – 1925). Estudos Ibero-Americanos. PUCRS, v.XXII, n.2, dez.1996, p.19. Faz-se necessário incluir, mesmo que em “nota”, os importantes estudos do Professor Adhemar Lourenço Silva Jr. Professor Adhemar possui várias pesquisas sobre a classe operária gaúcha, com destaque para os acontecimentos de1917. É indispensável o estudo de seu trabalho inclusive para percebemos as contradições que ocorriam no próprio movimento e no fazer-se da classe operária e “movimento anarquista”.
8 BODEA, Miguel. A Greve de 1917: As origens do trabalhismo gaúcho.L&PM, POA, s/d;p.31.
9BODEA, Miguel. A Greve de 1917: As origens do trabalhismo gaúcho.L&PM, POA, s/d;p.32.
10 MARÇAL, João Batista. Os anarquistas no Rio Grande do Sul: anotações biográficas, textos e fotos de velhos militantes da classe operária gaúcha. Porto Alegre, EU/ Porto Alegre, 1995.p.76.
11 PESAVENTO, Sandra Jatahy. O espetáculo da Rua. 2 ed. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1996. p.82.
12 Ibidem, p.41.
13MARÇAL, João Batista. Os anarquistas no Rio Grande do Sul: anotações biográficas, textos e fotos de velhos militantes da classe operária gaúcha. Porto Alegre, EU/ Porto Alegre, 1995.p.46.
14 PETERSEN, Sílvia R. Ferraz. As Greves no Rio Grande do Sul. In: RS; Economia e política; por Guilhermino César e outros. Org. Hildebrando Dacanal e Sergius Gonzaga. S ed. Porto Alegre. Mercado Aberto, 1993.p.290.
15 BODEA, Miguel. A Greve de 1917: As origens do trabalhismo gaúcho.L&PM, POA, s/d;p.47.
16 BODEA, Miguel. A Greve de 1917: As origens do trabalhismo gaúcho.L&PM, POA, s/d;p.48.

Bibliografia consultada:
BODEA, Miguel. A Greve de 1917: As origens do trabalhismo gaúcho.L&PM, POA, s/d.
MARÇAL, João Batista. Os anarquistas no Rio Grande do Sul: anotações biográficas, textos e fotos de velhos militantes da classe operária gaúcha. Porto Alegre, EU/ Porto Alegre, 1995.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. O espetáculo da Rua. 2 ed. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1996
PETERSEN, Sílvia R. Ferraz. As Greves no Rio Grande do Sul. In: RS; Economia e política; por Guilhermino César e outros. Org. Hildebrando Dacanal e Sergius Gonzaga. S ed. Porto Alegre. Mercado Aberto, 1993.
PETERSEN, Silvia Regina Ferraz. “Que a União Operária Seja Nossa Pátria!”: hitória das lutas dos operários gaúchos para construir suas organizações. Santa Maria: editoraufsm; Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2001.
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