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Nossa concepção de organização anarquista

category brazil/guyana/suriname/fguiana | movimento anarquista | debate author Saturday March 22, 2008 21:56author by Federação Anarquista do Rio de Janeiro - FARJauthor email farj at riseup dot net

Concepção de organização anarquista da FARJ

Optamos pelo modelo de organização específico – conhecido por outros nomes como “especifismo” ou anarquismo organicista – em grande medida inspirado na Federação Anarquista Uruguaia (FAU). Pelas discussões que tivemos, chegamos à conclusão de que seria imprescindível trabalhar com movimentos sociais e populares, e que, para isso, deveríamos criar uma organização com ênfase no compromisso militante. Uma organização nestes moldes defende algumas posições claras: a organização como minoria ativa; a ênfase na necessidade de organização; a unidade teórica e a unidade de ação; a produção de teoria; a necessidade de trabalho social e inserção social; o entendimento do anarquismo como ferramenta para a luta de classes na busca de um projeto socialista libertário; a diferenciação entre os níveis de atuação político (da organização anarquista) e social (dos movimentos populares); e a defesa de uma militância que seja feita com estratégia. Obviamente que a organização não nasceu trabalhando com todos estes conceitos, mas temos aprimorado nosso trabalho neste sentido, ao longo desses anos.

A ORGANIZAÇÃO ESPECÍFICA ANARQUISTA

Este modelo de organização sustenta que a função da organização específica anarquista é coordenar e fazer convergir às forças advindas das atividades militantes, construindo uma ferramenta de luta sólida e consistente, que busca um objetivo finalista: revolução social e socialismo libertário. Acreditamos que o trabalho sem (ou com pouca) organização, em que cada um faz o que quer, mal articulado ou mesmo isolado, é ineficiente. O modelo de organização que defendemos busca multiplicar o resultado e a efetividade das forças militantes.

MINORIA ATIVA

Neste modelo, a organização específica anarquista trabalha como minoria ativa, ou seja, um grupo de anarquistas que, organizados no nível político e ideológico, parte para as ações no nível social – movimentos sociais, sindicatos, etc. Neste trabalho, a organização de minoria ativa trabalha para influenciar os movimentos e lutas com os quais está envolvido, para que funcionem da forma mais libertária possível. Sempre que atua no nível social, a minoria ativa não busca posições de privilégio, não impõe sua vontade, não luta pelos movimentos sociais, mas sim com eles, por isso diferencia-se da “vanguarda” marxista-leninista. É assim, a ideologia dentro do movimento social e não o inverso.

UNIDADE TEÓRICA E UNIDADE DE AÇÃO

Entendemos a unidade teórica como necessária, pois a organização não pode trabalhar com qualquer teoria, ou com múltiplas teorias; isso conduz a uma falta de articulação, ou mesmo a uma articulação conflituosa do conjunto de conceitos que leva, sem dúvidas, a uma prática equivocada, confusa ou mesmo muito pouco eficiente. Esta unidade é sempre atingida coletivamente e de maneira horizontal no seio da organização. A unidade teórica caminha junto com a unidade de ação. Por meio dela, a organização atua para pôr em prática as ações que foram estabelecidas dentro da estratégia de luta. Tendo definido uma linha teórico-ideológica e um programa estratégico, todos os militantes – logo, a organização como um todo – possuem a obrigação de realizar as ações táticas estabelecidas dentro do programa estratégico. Em suma, todos devem “remar o barco no mesmo sentido”.

NECESSIDADE DE TRABALHO E INSERÇÃO SOCIAL

Este modelo de organização caracteriza-se, ainda, pela ênfase que dá à necessidade do trabalho social e da inserção social. O trabalho social é a atividade que os anarquistas organizados realizam nos movimentos sociais e populares; e a inserção social é a inserção das idéias e dos conceitos libertários nesses movimentos. Se queremos lutar por uma sociedade sem exploração e dominação, não há coerência em se fazer isso sem o envolvimento daqueles que são as maiores vítimas da sociedade capitalista de classes: o povo explorado e dominado. Assumir esta postura não significa idolatrar o povo ou acreditar que ele é revolucionário na essência, mas apenas concordar com a idéia que a luta contra a exploração deve se dar com o envolvimento daqueles que são os maiores explorados. Por isso, estimulamos fortemente a atuação em movimentos sociais populares, autônomos e combativos ou mesmo sua criação. Acreditamos que o anarquismo, para florescer, deve ser utilizado como ferramenta para a luta de classes.

NIVEIS POLÍTICO E SOCIAL

Outra característica deste modelo de organização é a diferenciação entre os níveis político e social de atuação. Não acreditamos que há uma hierarquia da organização política sobre o movimento social (como é para os autoritários); para nós, esta é uma relação complementar e dialética, imprescindível para ambos. Assim, o nível político da organização anarquista deve atuar no nível social, nos movimentos sociais organizados em torno de questões pragmáticas para melhoria das condições de vida da classe explorada.

ESTRATÉGIA E TÁTICA

Para que isso seja feito com coerência, desenvolve-se estratégia no seio da organização anarquista: é neste âmbito que são feitas as análises de conjuntura; que se trata dos contextos mundial, nacional e regional; que se analisam os movimentos e as forças populares em jogo, suas influências, potencialidades; as questões da política institucional que têm influência sobre os ambientes nos quais nos propomos a atuar. Neste mesmo âmbito da organização específica, acontecem as reflexões sobre os objetivos de longo prazo, ou seja, forjar nossas concepções de revolução social e do próprio socialismo libertário. Após isso, o mais complicado: pensar em uma proposta de ação que buscará atingir tais objetivos, ou ao menos, fazer com que eles se tornem mais palpáveis. A estratégia terá que responder a seguinte questão: como sair de onde estamos para chegar onde queremos? A essa linha “macro” (de diagnóstico, objetivos de curto, médio e longo prazo) chamamos estratégia e os grandes objetivos, os objetivos estratégicos. A estratégia, em seguida, é detalhada em uma linha mais “micro”, ou seja, tática, que determinará as ações que serão colocadas em prática por militantes ou grupos de militantes e que buscarão atingir os objetivos táticos. Obviamente que, a realização dos objetivos táticos nos aproxima de forma importante dos objetivos estratégicos.

NÍVEL DE COMPROMETIMENTO

Assim, tal opção de organização exige um alto nível de comprometimento dos militantes.


* Trecho de “Entrevista com a Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)”, por Thierry Libertad. Pode ser lida na íntegra em: http://www.anarkismo.net/newswire.php?story_id=7482&results_offset=20

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