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Sobre as origens da crise presente do capitalismo

category internacional | economia | opinião / análise author Tuesday June 24, 2008 23:12author by Manuel Baptista - Colectivo «Luta Social»author email iniciativalutasocial at gmail dot com Report this post to the editors

Cadernos LUTA SOCIAL Nº2

O mundo tem vindo a sofrer uma das mais graves crises do sistema capitalista e esta ainda vai a meio. Podemos traçar a sua origem próxima (a sua origem remota radica no próprio sistema capitalista como modo de produção): é a crise do crédito à habitação nos EUA. Com efeito, há cerca de um ano e meio, neste país, começaram os créditos hipotecários – concedidos principalmente aos compradores de suas habitações – a ficar de cobrança incerta, devido às dificuldades económicas diversas que a classes média e trabalhadora vêm experimentando desde há sete anos. O regime de Bush incentivou o consumo, o recurso ao crédito, como uma espécie de keynesianismo em tempo de «guerra contra o terror», afirmando o «patriotismo» de se gastar, de recorrer ao crédito, de se fazer dívidas. Isto, num país já tradicionalmente inclinado a consumir mais do que produz e a recorrer ao crédito com muita frequência.
Os especuladores, ansiosos por salvaguardar os lucros gerados nas bolsas, correram a um «mercado derivado», que dava menos para especular, mas com a segurança de que o devedor tinha uma razoável probabilidade de pagar a tempo e horas o crédito imobiliário e os juros correspondentes. Quando isto tudo faliu, assistiu-se (em Setembro – Outubro de 2007) a injecções massivas de biliões de dólares nos bancos que estavam em maiores dificuldades, por parte do banco central, o banco emissor de moeda, «Federal Reserve Bank». Claro que isto iria criar ainda mais inflação.
A inflação é estrutural, tal como o desemprego, num sistema capitalista. Neste, não há maneira de dominar a inflação completamente, porque a massa monetária mundial está na proporção de 6:1 relativamente a tudo o que se poderia comprar (quer esteja à venda, quer não) neste planeta. Seriam necessários 7 planetas Terra, para que o valor monetário total correspondesse ao valor de tudo aquilo que tem hipótese de ser adquirido com ele.
Assim, os especuladores deixaram de ter um «porto seguro» para as suas mais-valias, geradas nos casinos que são as bolsas de valores no mundo inteiro, New York, London, Paris, Frankfurt, Tóquio, Hong-Kong etc.
Os grandes investidores, como os bancos, que promovem sociedades de investimento em acções por eles geridas, captando as poupanças dos trabalhadores ou mesmo fundos de pensão geridos pelos próprios sindicatos, têm que assegurar aos seus clientes uma elevada «rentabilidade»: só poderão obter um retorno do investimento com mais-valias superiores a dez por cento (já descontada a taxa de inflação) nos mercados mais especulativos. Porém, a volatilidade dessas cotações é tal, que apenas derivando uma parte dos lucros para investimentos de retaguarda, como obrigações a juro fixo (de grande estabilidade, mas dando pouco lucro) ou … o mercado matérias-primas, visto que o crédito hipotecário estava em crise.

O facto é que, desde o verão de 2007, em plena crise do crédito hipotecário, os capitais especulativos vão investir e especular cada vez mais com o oiro, o petróleo, os cereais. Não espanta pois a subida em flecha das cotações dessas matérias-primas. O que espanta é a profusão de pseudo análises que esconde propositadamente a razão e a lógica que está subjacente a estes bruscos aumentos. Estes são os mecanismos tradicionais em momentos de recessão económica. A classe capitalista não quer perder completamente os lucros gerados em fase expansiva e vai exercer pressão de compra nas matérias primas. O que gera a actual crise da subida nos cereais não é a subida do petróleo, não é uma súbita sucessão de catástrofes naturais que, conjugadas, fizessem baixar as reservas de cereais que existem em muitos países. Não! A crise é gerada e mantida pelo afã de lucro do capital especulativo, que nunca está saciado e precisa de sua mais-valia como um «junkie» precisa da sua dose de heroína quotidiana.
A expropriação e abolição da propriedade dos meios de produção de todos os bens e dos serviços continuam a ser indispensáveis agora, como há cem anos atrás. O movimento operário e socialista, nas suas diversas componentes, sabe isso. Experimentou-o com maior ou menor sucesso em vários momentos da sua história, Comuna de Paris, Revolução Russa, Revolução Espanhola, etc.
A propriedade privada dos meios de produção é o principal obstáculo à gestão racional e dirigida à satisfação básica dos seres humanos. A propriedade estatal apenas irá criar uma nova classe de proprietários, os burocratas, como aconteceu no chamado «socialismo real», que se apropria colectivamente das mais-valias geradas pelos trabalhadores, os quais são espoliados de qualquer semblante de controlo sobre os instrumentos de produção (os sindicatos tornam-se máquinas do regime, totalmente submissas, destinadas a enquadrar as massas).
Resta pois avançar em direcção ao socialismo libertário, etapa nunca atingida a uma escala global, de um país ou continente inteiro. Não se trata de nenhuma utopia no sentido de algo irrealizável, mas de uma forma alternativa de organização da sociedade. Como seres fortemente determinados culturalmente (o mesmo é dizer com grande indeterminação genética) somos capazes de inventar diversas formas sociais, como tem sido feito ao longo da história. Neste momento, há que avançar com a utopia realizável, preparando-nos para o aprofundar dos abalos, das fendas e rupturas que estão a acontecer debaixo dos nossos pés e diante dos nossos olhos: Só vejo uma maneira; reforçar os valores e as práticas da solidariedade, do espírito livre e igual. Temos de nos unir, nós somos a imensa maioria, nós que não beneficiamos com a economia mafiosa e especulativa dos ricos.
Manuel Baptista
(Colectivo Luta Social)

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