user preferences

international / anarchist movement / feature Friday August 12, 2022 23:44 byFelipe Corrêa
featured image
Felipe Corrêa

The steady revival of organized Anarchism in the anglosphere has led to a re-engagement with the fundamental strategic questions of Anarchism. In what way should a revolutionary organization be structured? How should a revolutionary organization struggle for reforms? What role does the revolutionary organization play in the revolutionary process? In grappling with these questions the most novel contemporary insights have undoubtedly come from the Anarchist movement in Latin America, where the tradition of organized, class struggle anarchism was growing and successfully struggling whilst in the anglosphere it was languishing in a long period of decline.

In the spirit of clarifying and spreading the debates of Latin American Anarchism to the anglosphere, I contacted Felipe Correa in early 2022 and asked him questions that various comrades had raised during reading groups and informal discussions concerning the tendency – questions that could not be easily answered by the texts available to us. His extensive response to my questions, ranging from the notion of power, the role of organizations, and the relation between Anarchism and class politics, offers valuable and unique insight into this important tendency.

[Português]

internacional / movimento anarquista / entrevista Friday July 29, 2022 01:28 byFelipe Corrêa

A constante renovação do anarquismo organizado no mundo anglófono levou a um reengajamento com as questões estratégicas fundamentais do anarquismo. De que maneira uma organização revolucionária deve estruturar-se? Como uma organização revolucionária deve lutar pelas reformas? Qual é o papel da organização revolucionária no processo revolucionário? Ao lidar com essas questões, os insights contemporâneos têm vindo, indubitavelmente, do movimento anarquista na América Latina, onde a tradição do anarquismo organizado e classista vem crescendo e obtendo bons resultados na luta, enquanto no mundo alglófono essa tradição tem estado em declínio há um longo período.

No espírito de esclarecer e difundir os debates do anarquismo latino-americano para o mundo anglófono, contatei Felipe Corrêa no início de 2022 e fiz a ele um conjunto de questões que vários companheiros levantaram nos grupos de leitura e nas discussões informais acerca do especifismo – questões que não podiam ser facilmente respondidas pelos textos disponíveis para nós. Suas extensas respostas às minhas questões – que abordam temas como conceito de poder, o papel das organizações e a relação entre anarquismo e política classista – oferecem insights valiosos e únicos dessa tendência contemporânea.

[English]

ELEMENTOS DE TEORIA E ESTRATÉGIA ANARQUISTA

Felipe Corrêa Em entrevista a Mya Walmsley[1]

A constante renovação do anarquismo organizado no mundo anglófono levou a um reengajamento com as questões estratégicas fundamentais do anarquismo. De que maneira uma organização revolucionária deve estruturar-se? Como uma organização revolucionária deve lutar pelas reformas? Qual é o papel da organização revolucionária no processo revolucionário? Ao lidar com essas questões, os insights contemporâneos têm vindo, indubitavelmente, do movimento anarquista na América Latina, onde a tradição do anarquismo organizado e classista vem crescendo e obtendo bons resultados na luta, enquanto no mundo alglófono essa tradição tem estado em declínio há um longo período.

Apesar de sua influência, grande parte das ideias e da história que motivaram esse movimento é muito inacessível ao público que fala inglês. A explosiva introdução dessa tradição – chamada de especifismo – ao mundo anglófono foi uma ampla introdução aos aspectos centrais dessa tendência, escrita em 2006 por Adam Weaver, que foi seguida pela tradução completa da plataforma de 2008 da Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ), que resumiu muitas conclusões teóricas do movimento naquela região. Ainda que o especifismo não tenha sido unanimemente adotado na América Latina, e que os debates entre as organizações sobre seu exato significado e modo de implementação continuem, essa plataforma produziu, pela primeira vez, uma abertura do público de fala inglesa a esse novo desenvolvimento teórico que ocorreu naquela região.

Talvez o livro mais importante traduzido depois disso tenha sido Anarquismo Latinoamericano [Anarchism in Latin America], de Ángel Cappelletti, publicado em 2018, não apenas uma fantástica história do movimento na América Latina, mas também um texto importante para o surgimento do especifismo. Entretanto, relevante para esta entrevista é o fato de que, nos últimos anos, a tradução de vários textos importantes de Felipe Corrêa, realizada por Enrique Guerrero-López vem funcionando para esclarecer e complementar o trabalho apresentado em Anarquismo Social e Organização, da FARJ. Como militante e teórico da Organização Anarquista Socialismo Libertário / Coordenação Anarquista Brasileira (OASL/CAB), em São Paulo, Corrêa proporciona, com esses textos, acesso ao debate estratégico e a certos acordos do anarquismo latino-americano. Com isso, ele revelou debates teóricos e estratégicos que, incomodamente, estavam indisponíveis para o público de fala inglesa.

No espírito de esclarecer e difundir os debates do anarquismo latino-americano para o mundo anglófono, contatei Felipe Corrêa no início de 2022 e fiz a ele um conjunto de questões que vários companheiros levantaram nos grupos de leitura e nas discussões informais acerca do especifismo – questões que não podiam ser facilmente respondidas pelos textos disponíveis para nós. Suas extensas respostas às minhas questões – que abordam temas como conceito de poder, o papel das organizações e a relação entre anarquismo e política classista – oferecem insights valiosos e únicos dessa tendência contemporânea.

Agradeço à paciência do companheiro Felipe Corrêa na resposta de minhas questões, e também à ajuda de Enrique Guerrero-López na tradução desse texto para o inglês.

Mya Walmsley

Mya Walmsley (MW): Obrigada por concordar em dar esta entrevista, Felipe! Agradeço pelo tempo utilizado nas respostas dessas questões, e espero que elas sejam interessantes e proveitosas. Para quem não conhece, você poderia falar um pouco de si, sobre o trabalho militante que realiza e sobre a tendência do especifismo?

Felipe Corrêa (FC): Olá Mya! Eu que agradeço pelo seu interesse. Para mim, é um prazer dar esta entrevista. Sou Felipe Corrêa e há mais de duas décadas tenho estado envolvido com a militância anarquista e também com outras atividades relacionadas ao anarquismo, como a pesquisa e a edição.

No campo da militância, eu faço parte da Organização Anarquista Socialismo Libertário / Coordenação Brasileira Anarquista (OASL/CAB), em São Paulo.[2] Tenho construído o especifismo no Brasil há quase 20 anos. Em nível estadual e nacional, atualmente estou envolvido com militância sindical – faço parte de um sindicato de professores (SINPRO), sou professor universitário, ligado principalmente à área das Ciências Sociais e às atividades de pesquisa – e também com gestão de recursos e formação política.

A CAB faz parte de uma corrente anarquista chamada de especifista – anarquismo especifista ou simplesmente especifismo –, que é uma expressão latino-americana do histórico dualismo organizacional anarquista, que existe desde Bakunin e a Aliança até o presente. Na América Latina esse termo vem sendo utilizado para se referir às concepções teóricas e práticas da Federação Anarquista Uruguaia (FAU) que, fundada em 1956, teve um papel central na luta contra a ditadura militar nas décadas de 1960 e 1970. Por meio de instrumentos organizativos que construiu e/ou fortaleceu, a FAU converteu-se na segunda maior força da esquerda uruguaia nesse combate. Em nível sindical e de massas esteve atrás apenas do Partido Comunista Uruguaio; em nível armado esteve atrás apenas dos Tupamaros. Foi, contudo, a única força que operou em ambos os campos.[3]

Com o fim das ditaduras latino-americanas o anarquismo especifista se rearticulou. Primeiro no Uruguai, em meados dos anos 1980, e depois em outros países. O Brasil foi importante nesse processo e teve suas primeiras experiências especifistas em meados dos anos 1990. Desenvolveu-se em diferentes regiões brasileiras e, em 2002, articulou-se no Fórum do Anarquismo Organizado (FAO). Com a ampliação de presença e aumento dos laços organizativos, foram criadas as condições para a fundação da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB), em 2012, cujo objetivo é constituir-se numa organização política nacional, com núcleos por todo o país.

Em termos de linha política, o especifismo é uma corrente anarquista inspirada nas posições de Bakunin e de Malatesta; possui proximidade com as perspectivas do grupo Dielo Truda e de outros clássicos históricos do anarquismo.

Trata-se de uma corrente que sustenta um conjunto de posições frente aos grandes debates estratégicos do anarquismo. Primeiro, em relação ao debate organizativo, os especifistas sustentam a necessidade de um dualismo organizacional, a partir do qual os anarquistas se articulam numa organização política, como anarquistas, e em organizações sociais (sindicatos e movimentos sociais), como trabalhadores. Segundo, frente ao debate sobre o papel das reformas, os especifistas consideram que estas podem, a depender da maneira que forem buscadas e conquistadas, contribuir para um processo revolucionário. Terceiro, em relação ao debate da violência, os especifistas consideram que ela deve ser protagonizada sempre no contexto e concomitantemente à construção de movimentos de massa. No nível social, dos movimentos de massa, o especifismo promove um programa que tem inúmeras afinidades com o sindicalismo revolucionário.

No campo da produção intelectual, tenho coordenado o Instituto de Teoria e História Anarquista (ITHA), projeto internacional que visa a aprofundar e difundir as pesquisas sobre o anarquismo. Venho produzindo pesquisas vinculadas ao ITHA, principalmente no campo da teoria política anarquista; e pesquisas vinculadas à universidade. Também sou editor da Faísca Publicações Libertárias, uma editora anarquista com cerca de 40 livros publicados, de propaganda militante e de estudos acadêmicos.[4]

MW: Começarei com uma questão bem abstrata. Em “Anarquismo, Poder, Classe e Transformação Social”[5], você define o anarquismo como uma ideologia, e faz uma distinção entre ideologia e teoria. Afirma que a ideologia traz contribuições políticas e subsidia intervenções estratégicas práticas, ao passo que a teoria traz contribuições metodológicas e contribui com a explicação da realidade. Por que essa distinção é tão importante e qual é a relação que ela implica entre teoria anarquista, ideologia anarquista e prática anarquista?

FC: Para nós, anarquistas que sustentamos a necessidade organizativa de unidade teórica e ideológica, é importante ter uma resposta precisa sobre o que é o anarquismo. E, nessa discussão, o especifismo latino-americano se referencia, em grande medida, num texto de 1972 da Federação Anarquista Uruguaia intitulado “Huerta Grande: a importância da teoria”. Trata-se de um texto que se baseia nas reflexões de Malatesta acerca da distinção entre os campos científico e ideológico-doutrinário.[6]

Segundo essa noção que aparece em “Huerta Grande” e em Malatesta, é necessário distinguir um campo da ciência e outro da ideologia-doutrina. A ciência subsidia a investigação do passado, do presente e, no máximo, indica aquilo que provavelmente pode acontecer no futuro. A ideologia-doutrina oferece elementos valorativos para que a realidade seja julgada e, principalmente, para que se estabeleçam objetivos e linhas de ação.

Essa distinção é muito importante por dois motivos. De um lado, ela busca evitar que a interpretação da realidade (campo científico) seja distorcida por elementos doutrinários-ideológicos – ou, como algumas vezes dizemos, que se substitua aquilo que foi e que é por aquilo que gostaríamos que tivesse sido ou que fosse. Uma estratégia consistente para o anarquismo deve partir de uma leitura precisa (teórica e cientificamente rigorosa) da realidade. De outro lado, ela pretende impedir uma perspectiva de futuro que abra mão da transformação em nome de um pragmatismo reformista ou mesmo conservador. Uma estratégia consistente para o anarquismo precisa conter elementos que poderíamos chamar utópicos ou finalistas e buscar realizá-los por meios revolucionários. Creio que essa posição foi bem sintetizada na consigna propagada pelo anarquista japonês Osugi Sakae, quando recomendou “atuar como um crente, pensar como um cético”.[7]

Essa posição também destaca, dentro desses elementos, quais são aqueles mais e menos flexíveis. O campo científico tem de ser mais flexível (aberto) que o campo doutrinário-ideológico. Precisamos usufruir dos desenvolvimentos no campo científico para aprimorar nosso entendimento da realidade social. Isso não implica, e nem pode implicar, a defesa de um pluralismo teórico inconsistente ou um vale tudo sem sentido. Trata-se apenas de uma abertura que garante que não estejamos presos a métodos, teorias e estudos equivocados, imprecisos ou ultrapassados, simplesmente porque são anarquistas.

Comparativamente, o campo doutrinário ideológico é bem menos flexível, em especial quando falamos dos princípios anarquistas. Não somos abertos e flexíveis (“antidogmáticos”) em relação a nossos princípios. Aqueles que tratam os princípios dessa forma caem num pragmatismo incapaz de mudança ou transformação social. No que diz respeito à estratégia, podemos afirmar que a estratégia geral é mais fixa, sendo seguida pela estratégia de tempo restrito, um pouco menos fixa e mais flexível, e, finalmente, pelas táticas, mais flexíveis.

Essa posição não pode ser confundida com certo positivismo, que preconiza – e acredita ser possível – alguma neutralidade frente às análises da realidade. Ela reconhece que tal neutralidade é impossível, mas que, ao realizar ciência, os anarquistas devem prestar atenção se não estão sendo traídos por suas posições ideológicas-doutrinárias. Algo que é muito comum no campo da esquerda em geral, incluindo o marxismo e o anarquismo.

A relação que isso implica entre teoria, ideologia e prática é a seguinte. Podemos dizer que, ao operar com esses pressupostos da FAU e de Malatesta, os anarquistas defendem: a necessidade de uma perspectiva teórica (científica) precisa para analisar a realidade e saber, precisamente, “onde estamos”; a necessidade de uma perspectiva ideológica (anarquista) para subsidiar nossos julgamentos dessa realidade, estabelecer os objetivos finalistas e as linhas de ação possíveis e desejáveis para o período em questão – ou seja, o anarquismo, a partir de sua crítica da dominação, defesa da autogestão e visão estratégica, propõe, em grandes linhas, “aonde pretendemos chegar” e “como”; o que nos leva a uma terceira necessidade, de uma prática política estratégica que possa nos conduzir de onde estamos aonde pretendemos chegar – prática esta baseada em uma estratégia geral, uma estratégia de tempo restrito e um conjunto de táticas.

Em resumo, a teoria anarquista subsidia a leitura da realidade, a ideologia anarquista subsidia o julgamento dessa realidade, o estabelecimento de objetivos estratégicos e de linhas estratégicas de ação, e a prática anarquista leva a cabo concretamente as ações no sentido de transformar social e revolucionariamente essa realidade.

MW: O que me parece único em seus escritos (e, em geral, na tradição anarquista na América Latina) – e falo como uma militante do mundo anglófono – é que eles se concentram bastante no conceito de “poder”. Em “Anarquismo, Poder, Classe e Transformação Social” você afirma que os anarquistas clássicos tenderam a misturar, imprecisamente, tratando poder, dominação e autoridade como o mesmo conceito. Essa imprecisão teórica dificultou que se visse qual forma de poder os anarquistas deveriam combater (dominação) e qual forma de poder os anarquistas deveriam construir (popular). Por que você pensa que o conceito de poder é tão central no anarquismo e quais são as implicações de um entendimento correto do poder em nossa prática e nossas doutrinas?

FC: Realmente nós temos aprofundado bastante a discussão sobre o conceito de poder. Temos destacado que ele é importante para os anarquistas, não apenas em termos de crítica, mas também construtivos e propositivos.

Antes de tudo é importante ressaltar que, como todos os grandes conceitos, poder é um conceito polissêmico (tem muitos significados) e pode ser definido de diferentes maneiras. Historicamente, e nas diferentes correntes de pensamento, é possível dizer – conforme observou Tomás Ibáñez – que o poder foi definido de três maneiras distintas: 1.) Como capacidade (possibilidade de realizar algo), por exemplo, quando dizemos que temos o poder de fazer isso ou aquilo; 2.) Como estruturas e mecanismos de regulação e controle (coisa concreta), por exemplo, quando dizemos que alguém ou algum grupo tomou o poder; 3.) Como assimetria nas relações de força (relação temporária de imposição), por exemplo, quando dizemos que uma classe – num momento determinado, e por um tempo determinado – estabeleceu uma relação de poder (se impôs) em relação a uma outra.[8]

Quando falamos dos anarquistas clássicos, eles também dialogam com essas abordagens, como argumentei em “Anarquismo, Poder, Classe e Transformação Social”. E, não raro, tratam as relações de dominação por meio de termos como dominação, poder e autoridade. Quando tomamos o caso dos anarquistas clássicos, na maioria das vezes que utilizam esses termos (dominação, poder, autoridade), eles têm em mente aquilo que nós nos referimos, em nossa corrente anarquista, como relações de dominação.

Alguns comentários são necessários sobre essas afirmações. Primeiro que, apesar dessa abordagem majoritária, em alguma medida todos os anarquistas clássicos oferecem elementos para o estabelecimento de uma teoria anarquista do poder. É certo que não foi algo que priorizaram durante sua vida, mas não há dúvida que em seus escritos há muitos elementos sobre esse tema. Segundo que, quando faço essas afirmações sobre os “anarquistas clássicos”, não estou considerando Proudhon entre eles – que, para mim e outros pesquisadores, é mais um tipo de pai do anarquismo do que anarquista em si, visto que consideramos que o anarquismo surgiu apenas no seio da Primeira Internacional, na segunda metade dos anos 1860.[9] Dentre os clássicos libertários do socialismo, Proudhon destaca-se com grandes contribuições nessa discussão sobre o poder. Terceiro, tanto Proudhon quanto os clássicos anarquistas, mesmo que na maioria dos casos tratem de maneira equivalente dominação, poder e autoridade, também abrem possibilidades para outras abordagens.

Proudhon reivindica um “poder social” como força coletiva dos trabalhadores. (De la Justice dans la Révolution e dans l’Église) Bakunin enfatiza que não rejeita toda forma de autoridade (Deus e o Estado) e reivindica inclusive o poder dos “aliados”, membros da Aliança, em relação aos trabalhadores (“Carta a A. Richard”). Malatesta fala de um “poder efetivo de todos os trabalhadores” (“La Dittatura del Proletariato e l’Anarchia”). Berneri defende o “uso de um poder político por parte do proletariado” (“La Dittatura del Proletariato e il Socialismo di Stato”). Muitas outras referências poderiam ser mencionadas. O que quero mostrar com isso não é que essas figuras tenham reivindicado permanentemente o termo poder para se referir às suas estratégias propositivas e construtivas, mas que, mesmo em suas obras, há momentos em que essas referências aparecem.

O que argumento em “Anarquismo, Poder, Classe e Transformação Social” é que, se nos desprendermos do termo e adentrarmos no conteúdo dessa discussão, verificaremos que, de maneira geral, todos os anarquistas identificam nos trabalhadores certa capacidade de realização; esses anarquistas normalmente discutem e põem em prática ações para transformar essa capacidade de realização numa força social capaz de intervir na realidade social e, finalmente, pretendem contribuir para que os trabalhadores se imponham, preponderem frente à burguesia, à burocracia, a seus inimigos de classe em geral, por meio de uma revolução social que conduza a um socialismo apoiado em estruturas e mecanismos de regulação e controle autogestionários e federalistas.

Como detalharei um pouco mais adiante nesta entrevista, esses elementos – capacidade de realização, força social, relação de imposição/preponderância e estruturas e mecanismos de regulação e controle – estão no cerne da teoria do poder que os especifistas têm defendido e que eu, particularmente, venho desenvolvendo em termos teóricos.

Creio que, a depender de como for definido, o conceito de poder pode ter um papel importantíssimo no anarquismo. Primeiro, para a explicação sobre o que é o próprio anarquismo. Utilizo, por exemplo, o conceito de poder como base da explicação que faço do anarquismo no meu livro Bandeira Negra: rediscutindo o anarquismo, que nada mais é do que um “O que é o anarquismo” renovado, que pretende solucionar os problemas dos estudos anteriores que abordam esse tema.

Quando defino o anarquismo nesse livro destaco, dentre outras coisas, que “o anarquismo [...] tem como objetivo transformar a capacidade de realização das classes dominadas em força social e, por meio do conflito social caracterizado pela luta de classes, substituir o poder dominador que surge como vetor resultante das relações sociais por um poder autogestionário, consolidado nas três esferas estruturadas da sociedade”. De modo que o projeto anarquista é por mim considerado um “projeto de poder”.[10]

Segundo, o conceito de poder pode subsidiar as análises da realidade elaboradas pelos anarquistas. Por meio dele (e de uma teoria do poder consistente) é possível entender, na história ou na atualidade (em termos conjunturais), quais são as forças em jogo num determinado contexto, quais delas estão se impondo/preponderando em relação a outras, quais são as relações de poder que se estabelecem nesses contextos e quais são as formas que tais relações assumem (dominadoras, autogestionárias, de maior ou menor participação).

Terceiro, e talvez esse seja o motivo principal, para que os anarquistas tenham clareza de seu projeto político e de onde/como pretendem chegar. A meu ver, presenciamos constantemente anarquistas que não compreendem quais são as ações que podem/devem empreender de modo a impulsionar seu projeto. Não conseguem avaliar concretamente a realidade e nem elaborar um programa adequadamente estratégico.

O mais grave, entretanto, ocorre quando anarquistas não compreendem que não basta eles existirem no mundo, ou levarem a cabo suas ações sem conseguir certos acúmulos e conquistas. Também não é suficiente, nos casos em que logram tais acúmulos e conquistas, não saber onde/como querem chegar. Deixe-me explicar. Ou os anarquistas pensam em formas de maximizar sua força social e, o que é mais importante, a força social dos trabalhadores, de modo que isso possa apontar para uma transformação revolucionária e autogestionária/federalista, ou eles não têm razão de existir. E mais. Ou os anarquistas compreendem que, em diversas ocasiões, eles terão de se impor a outros, preponderar em relação a outros (latifundiários, patrões, burocratas e mesmo outras forças de esquerda, socialistas, revolucionárias), ou também não terão condições de concretizar seu projeto. Mesmo que essa imposição/preponderância seja feita de modo antiautoritário.

Muitos exemplos poderiam ser citados. Mas focarei em um deles quando, no contexto da Revolução Espanhola, diversos membros influentes da Confederación Nacional del Trabajo (CNT) – uma organização anarcossindicalista que representava, à época, aproximadamente um milhão e meio de trabalhadores – entenderam que estabelecer um poder popular e autogestionário nas regiões em que a força social dos anarquistas/anarcosssindicalistas era amplamente majoritária, equivaleria a estabelecer uma “ditadura anarquista”.

Leitura conceitualmente equivocada e que, a meu ver, mostra a falta de noção de que o projeto anarquista é, realmente, um projeto de poder. Um projeto contrário à dominação e à exploração, baseado na autogestão e no federalismo, é verdade, mas, ainda assim, um projeto de poder. Com receio de se impor e preponderar frente às forças inimigas e adversárias, a CNT preferiu integrar o projeto colaboracionista com o governo republicano...

Essa relação que considero mal resolvida entre os anarquistas e a questão do poder ocasiona problemas desse tipo. Não apenas em situações revolucionarias e insurrecionais, mas também em circunstâncias cotidianas, como em movimentos e lutas sindicais, sociais, estudantis, comunitários etc.

Em resumo, a adoção dessa compreensão do poder que sustento aqui possui múltiplas implicações. Ela permite um entendimento mais adequado do anarquismo, um fortalecimento das análises da realidade e, principalmente, do projeto político anarquista. Em especial, essa compreensão do poder subsidia os anarquistas para que ampliem sua intervenção na realidade e se façam crescentemente mais influentes.

MW: Para muitos anarquistas ocidentais, o foco conceitual na questão do poder está associado com os escritos de Michel Foucault. Para alguns, essa associação é positiva, mas para muitos que defendem o anarquismo de massas essa associação implica o abandono da luta de classes. Qual impacto, se é que teve algum, Foucault teve nos debates latino-americanos? As pessoas leem Foucault e, se sim, que contribuições acreditam que ele possui?

FC: É verdade que “para muitos anarquistas ocidentais, o foco conceitual na questão do poder está associado com os escritos de Michel Foucault”. Mas isso, a meu ver, diz mais sobre os “anarquistas ocidentais” do que sobre o debate do poder no anarquismo.

Foucault sem dúvida é um dos grandes pensadores do século XX e muito estudado nas universidades. Minha impressão – e essa tem sido uma das minhas grandes críticas ao universo anarquista em geral – é que muitos anarquistas, talvez por comodidade intelectual, ou mesmo para seguir os modismos acadêmicos, acabam se apropriando de autores de outras tradições, de outras correntes político-ideológicas, em vez de buscar as contribuições que existem dentro do nosso próprio campo. O pior é que essa apropriação é feita, na maioria dos casos, de maneira acrítica, e não para complementar as contribuições anarquistas, mas para substituí-las.

Isso que considero ser, em diversas partes do mundo, uma moda em torno de Foucault dentre os anarquistas reflete, para mim, certo “anarquismo sem anarquistas”, que infelizmente encontramos em muitas localidades neste momento. Há hoje inúmeros “estudos anarquistas” sem qualquer relação com o anarquismo e os anarquistas históricos.

O que quero dizer é que, dentre os anarquistas – e anarcossindicalistas, sindicalistas revolucionário e socialistas libertários/antiautoritários tomados de maneira mais ampla – há inúmeras contribuições nessa discussão do poder e em muitas outras. Mas estudá-los significa, na maioria das vezes, “quebrar pedra”: os textos não são muito fáceis de encontrar, muitos deles não estão traduzidos, não há praticamente comentadores, não há manuais, ninguém os estuda na universidade... Ou seja, temos que reconhecer que não é fácil estudar Bakunin, Malatesta, Kropotkin, Proudhon etc.

Considero ser mais do que necessário nos dedicar aos estudos de nossa tradição expandida (anarquista, anarcossindicalista, sindicalista revolucionária, socialista libertária/antiautoritária) e produzir, elaborar, oferecer nossas contribuições críticas frente a elas. Neste momento estou trabalhando exatamente em um livro que reconstrói as contribuições teóricas de Malatesta acerca das relações de poder. Não há dúvida que, mesmo tais contribuições sendo incríveis, é muitíssimo trabalhoso recuperá-las, reconstruí-las, complementá-las.

Retorno ao Foucault. Sim, nossa tradição do anarquismo especifista teve certa influência de Foucault (no Uruguai e em algumas regiões do Brasil, especialmente no sul), que foi e é um autor lido por parte da militância. Vale ressaltar que não apenas dele, dentre os não anarquistas. Eu conheço bem a discussão de Foucault sobre o poder; já dei aulas e escrevi sobre esse tema. Acontece que, como você muito bem aponta, Foucault tem suas complicações e ambiguidades.

O que posso falar, como alguém que conhece essa discussão sobre o poder em Foucault, é que o que nós especifistas fizemos, mais do que realizar uma leitura acadêmica rigorosa desse autor, foi propor uma apropriação crítica de alguns de seus conceitos e perspectivas teóricas, e adaptá-las ao quadro geral de referência de nosso anarquismo – de modo que elementos como classes sociais e o classismo continuaram presentes. Na minha avaliação, essa leitura especifista de Foucault foi feita pela esquerda, bem pela esquerda.

De qualquer modo, entendo que há certo risco em procedimentos desse tipo. Pois, apesar da distinção que fazemos entre teoria e ideologia, e de termos uma postura de maior flexibilidade e abertura frente à primeira do que à segunda, é inegável que as contribuições teóricas possuem elementos ideológicos e, às vezes, sem perceber, por bebermos em certo material teórico, podemos terminar incorporando certos elementos ideologicamente complicados para o anarquismo.

Já vi isso acontecer no campo anarquista em distintas épocas e regiões, tanto com a incorporação de teoria marxista – que, depois, terminou se convertendo em elementos ideológicos “marxizantes” –, quanto com a incorporação de teoria pós-moderna – que, do mesmo modo, gerou perspectivas ideológicas bem complicadas e distantes do anarquismo.

Quando falo que Foucault possui complicações e ambiguidades, me refiro a alguns pontos em particular. Ele nunca foi um pensador anarquista e nem teve grandes preocupações programáticas e estratégicas. Se suas ideias podem ser interpretadas desse modo, mais à esquerda, como feito pelos especifistas, elas também podem ser tomadas numa perspectiva bastante liberal e, mesmo, de completa resignação – neste último caso, apontando para leituras do tipo: se há poder em todas as relações, então não há muito a fazer, já que todos somos, ao mesmo tempo, oprimidos e opressores. Realmente há riscos importantes nesse sentido.

Cumpre notar que, estudando a fundo vários clássicos anarquistas, anarcossindicalistas, sindicalistas revolucionários e socialistas libertários/antiautoritários, posso afirmar que tudo aquilo que nossa corrente utilizou de Foucault está presente nos “nossos” autores. Não há nada que tenhamos nos apropriado de Foucault que não esteja, por exemplo, em Malatesta e/ou Proudhon.

Acredito que precisamos evitar a todo custo esse procedimento (infelizmente bem presente no anarquismo) de sair pegando e incorporando acriticamente tudo aquilo que parece interessante, que está na moda (acadêmica ou militante), que a gente estuda na universidade ou discute nos movimentos. Historicamente o anarquismo possui certas linhas (e cada corrente anarquista linhas mais específicas dentro do anarquismo). Por isso, é importante ter em mente que as contribuições devem complementar essas linhas e não descartá-las, colocá-las em xeque ou distorcê-las.

MW: Outro termo que parece ter bastante foco na tendência do especifismo é “força social”. Força social é a força “realizada” de uma classe dominada, quando ela é organizada e canalizada utilizando meios corretos para os fins que estão em seus interesses. Assim, o conceito de força social valoriza a organização – tanto prática quanto ideológica – das classes dominadas, pois maior organização equivale a maior capacidade de transformação social. Você pode falar um pouco mais sobre como essa “força social” se realiza? E mais, e esse talvez seja um problema de tradução: Qual é a diferença entre poder e força social? Pelas minhas leituras de seus textos traduzidos, aparentemente há distintas camadas de força social implícitas, e que não são descritas explicitamente. Primeiro, partindo de Proudhon, há um tipo de força potencial que os trabalhadores obtêm trabalhando cooperativamente. Depois, há um tipo de força obtida pelo trabalho cooperativo num sentido político-ideológico: trabalhar coletivamente rumo a um objetivo e um programa comuns. Finalmente, há força social no sentido que você mais discute, no nível das classes sociais, em que as classes dominadas, em função de sua posição de classe, podem construir poder popular. Você pode falar da relação entre essas camadas (independente de você concordar com minha expansão do termo)? Para reformular essa questão em termos mais práticos: Qual é o papel da organização anarquista na organização do poder das classes dominadas?

FC: Há muitos elementos nessa questão que creio ser importante detalhar e organizar. Aos poucos tenho escrito outros materiais sobre esse tema do poder, que abarcam tudo aquilo que você pergunta. Vou tentar sistematizar de uma maneira mais didática para facilitar a compreensão. E tudo que eu falo abaixo tem referência em autores clássicos (Bakunin, Malatesta, Proudhon, principalmente) e contemporâneos (Alfredo Errandonea, Tomás Ibáñez, Fábio López, Bruno L. Rocha), incluindo as organizações anarquistas especifistas e minha própria produção.[11]

Antes de tudo, é importante recordar, como eu disse antes, que o poder foi historicamente definido de três maneiras: 1.) Como capacidade; 2.) Como estruturas e mecanismos de regulação e controle; 3.) Como assimetria nas relações de força. Esses três elementos são importantes e estão presentes na teoria do poder que venho desenvolvendo. Não necessariamente como parte do conceito de poder em si, mas que estão a ele relacionados.

Tomemos como ponto de partida uma definição de poder que considero adequada: o poder é uma relação social concreta e dinâmica entre diferentes forças assimétricas, na qual há preponderância de uma(s) força(s) em relação a outra(s). Há, nessa definição, alguns aspectos importantes.

Primeiro, que quando afirmo o poder como uma relação social, estou dizendo que poder significa relação de poder, e que envolve no mínimo duas partes (pessoas, grupos, classes etc.). Segundo, quando falo de uma relação concreta e dinâmica, estou excluindo aquela noção de poder como capacidade, que se coloca no campo das possibilidades, de algo que pode ou não se concretizar; refiro-me, mais especificamente, a uma relação que de fato ocorre. Relação esta que nunca é permanente – sempre se localiza num contexto (tempo-espaço) e é temporária; ninguém tem o poder eternamente, mas apenas durante um certo tempo. Por isso, as relações de poder estão em permanente mudança e podem ser transformadas a qualquer momento.

Terceiro, quando falo em relação entre diferentes forças assimétricas é necessário definir, precisamente, este conceito acessório ou subconceito: força social. Força social pode ser definida como a energia aplicada por agentes em conflitos sociais para atingir determinados objetivos. Tal força pode ser individual, grupal ou classista e significa a materialização da capacidade de realização. Temos aqui o primeiro aspecto que organiza aquelas três maneiras históricas de conceituar o poder; faço uma distinção entre capacidade de realização e força social.

A capacidade de realização é aquela possibilidade de fazer algo no futuro, aquele possível vir a ser que pode se concretizar ou não. Nos referimos à capacidade de realização quando, por exemplo, afirmamos que os trabalhadores têm o poder de transformar o mundo. De acordo com os conceitos que tenho adotado, essa frase seria melhor formulada da seguinte maneira: os trabalhadores têm a capacidade (possibilidade) de transformar o mundo. Isso porque, mesmo com essa capacidade, eles podem ou não transformar o mundo; não se trata de algo concreto, que de fato acontece.

A capacidade de realização converte-se em força social quando sai do campo da possibilidade de realizar algo no futuro, que pode ocorrer ou não, e é de fato colocada em prática, começa a fazer parte do jogo de forças que constitui uma realidade social. Voltemos ao nosso exemplo: Os trabalhadores têm a capacidade de transformar o mundo. Mas eles podem todos estar tocando sua vida cotidiana, indo para o trabalho, cuidando da família, vivendo uma vida que não tem qualquer impacto nos rumos do desenvolvimento da sociedade capitalista. Nesse caso, eles continuam apenas com essa capacidade potencial.

Agora, quando começam a aplicar sua energia nos conflitos sociais visando a certos objetivos, esses trabalhadores constituem uma força social. Por exemplo, quando começam a se organizar, quando fazem lutas, reivindicações etc. Veja que aqui aquela capacidade foi transformada em força social. Essa força pode ser bem minoritária – e, assim, ser incapaz de modificar os rumos da realidade; mas ela pode ser mediana ou mesmo grande e, desse modo, protagonizar mudanças e transformações.


Quando falo de força social é importante ter duas questões em mente. A primeira é que todos nós nascemos já com a força física de nosso próprio corpo, que pode ser mobilizada em certos conflitos. Por exemplo, a força física de um homem pode ser utilizada para que ele se imponha a uma mulher num determinado conflito. A segunda é que uma força social pode ser individual ou coletiva e, no segundo caso, devemos sempre considerar que a força coletiva é maior que a soma das forças individuais. Por exemplo, a força coletiva de cem trabalhadores protestando em frente a uma prefeitura durante uma hora é muito maior do que se esses trabalhadores permanecessem ali, cada um, individualmente, durante uma hora, um depois do outro. Mesmo que a quantidade de horas de protesto por pessoa seja a mesma, sem dúvida a força social do coletivo (pessoas juntas) é muito maior que a força social dos indivíduos (pessoas separadas).

Além disso, devemos ter em mente que há inúmeras formas para ampliar a força social. Vejamos algumas delas que são bastante conhecidas.

As pessoas podem: 1.) Ampliar sua força física e aperfeiçoar as técnicas para utilização dessa força, com exercícios e artes marciais. Num conflito entre torcidas organizadas, por exemplo, a força física pode ser um fator determinante. Ou mesmo no caso de combates militares que exijam capacidades e esforços corporais. 2.) Agregar e mobilizar pessoas com um propósito comum. Para um abaixo assinado, uma eleição ou uma marcha nas ruas, por exemplo, a quantidade de pessoas agregadas e mobilizadas é elemento fundamental. 3.) Possuir dinheiro, propriedades, máquinas e recursos naturais. É disso que se trata, por exemplo, quando vemos que é muito mais fácil os ricos se imporem aos pobres do que o contrário; que um país com uma grande quantidade de petróleo possui maior peso nas relações geopolíticas internacionais do que um país sem petróleo; que, na concorrência capitalista, os grandes tendem a submeter os pequenos.

4.) Conquistar posições de mando e decisão, pois as pessoas que as ocupam têm uma chance muito maior de se impor àquelas que não as ocupam. Quando dizemos, por exemplo, que não há livre negociação de salários entre patrão e empregado, é justamente por esse motivo. Por ocuparem uma posição de mando e decisão ou mesmo por serem donos da empresa, gestores e proprietários quase sempre terão uma força social muito maior do que aquela do trabalhador nos conflitos trabalhistas. Isso explica porque, num movimento popular burocratizado, as posições de mando e decisão são fortemente disputadas por entidades e partidos políticos.

5.) Desenvolver capacidade de influência e persuasão, quando há pessoas que, por meio de argumentos ou carisma, em conversas, discursos etc., convencem e trazem outras pessoas para seu lado. 6.) Possuir armas e tecnologias de guerra, elementos fundamentais para, por exemplo, determinar os resultados de uma guerra. 7.) Ter informação e conhecimento, que permite não apenas incidir melhor nos conflitos, mas saber antecipadamente dos passos de adversários e inimigos. Muitas outras formas de ampliação da força social poderiam ser mencionadas.

Cumpre notar que, em cada caso, há um conjunto de “regras” sobre as maneiras possíveis e legítimas de se investir no aumento de força social. Vejamos. Para os conflitos físicos entre torcidas organizadas, frequentar uma academia e fazer uma arte marcial é muito mais aceitável (“normal”) do que para os conflitos trabalhistas de negociação de salário numa empresa. Para os conflitos concorrenciais entre empresas, possuir propriedades e dinheiro – investir para ter cada vez mais, e fazer disso um mecanismo para se impor – é muito mais aceitável/normal do que nos conflitos sociais encampados por movimentos populares e organizações socialistas revolucionárias.

Quero dizer que cada forma de conflito possui um certo conjunto de regras acerca daquilo que é mais aceitável, normal, usual para se investir no aumento de força social. O que não significa que outros caminhos não possam ser adotados. Por exemplo, as armas em geral não fazem parte da normalidade de uma eleição sindical, mas no Brasil sabemos que, a depender do sindicato, isso é uma realidade.

Outro aspecto importante dessa discussão é que as relações entre forças sociais se dão sempre num determinado cenário – certa estrutura ou ordem com regulações, controles, normas, instituições. Cenário esse que também é formado por relações de forças, mas que são mais duradouras, que perduram no tempo-espaço e que se institucionalizam fazendo com que o próprio cenário tenha suas regras e, por isso mesmo, exerça força no jogo. As forças sociais que jogam a favor da estrutura/ordem têm muito mais facilidade (são maximizadas) do que as forças que se contrapõem a ela (são minimizadas).

Isso explica porque, em termos sociais, dar continuidade a alguma coisa que já acontece em geral é mais fácil que modificá-la; movimentos que afirmam a ordem têm geralmente mais facilidade que movimentos que contestam a ordem. Imaginemos, por exemplo, dois movimentos com a mesma quantidade de pessoas e recursos: um de defesa do capitalismo e outro anticapitalista. O que estou argumentando é que, numa circunstância como essa, mesmo que com os mesmos recursos/pessoas, o movimento capitalista terá mais facilidade, pois estará jogando num cenário, numa estrutura capitalista, usufruindo da inércia que tais relações possuem.

Como se pode perceber, essa noção de força social é útil para pensar distintas questões, especialmente conflitos entre certas forças em nível micro, meso e macrossocial. Essa mencionada dinâmica de correlação de forças assimétricas pode ser utilizada para se compreender a relações entre pessoas, gangues, empresas, países, partidos, meios de comunicação, classes etc.

Podemos conceber a realidade social como o resultado de um enfrentamento entre distintas forças sociais, as quais, na maioria dos casos, não se resumem a duas (força A X força B). São frequentemente múltiplas forças, que incidem de maneira distinta na realidade, que possuem proximidades e distanciamentos com outras, que se aliam, cooperaram entre si.

Chego aqui ao conceito mais específico de poder, anteriormente colocado. Poder que ocorre exatamente quando uma ou algumas forças preponderam (se sobrepõem, se impõem) a outra(s). E aqui se torna evidente a diferença entre força social e poder. Constituir uma força social significa estar incidindo na realidade, tendo algum papel nos conflitos; ter poder significa fazer de sua própria força social uma força que preponderou frente às outras, que se sobrepôs, que se impôs.

Podemos dizer, nesse sentido, por exemplo, que desde seu ressurgimento dos anos 1990 em diante, anarquistas, anarcossindicalistas e sindicalistas revolucionários, em termos globais, têm constituído uma força social. Porque, em distintos países, possuem incidência na realidade, seja nas lutas e protestos de maneira geral, seja em movimentos sindicais, comunitários, estudantis, agrários, ou mesmo no campo das ideias de maneira mais geral.

Isso não significa, de modo algum, que o anarquismo, o anarcossindicalismo e o sindicalismo revolucionário possuam poder. Atualmente, ele constitui uma força social minoritária dentro da esquerda de maneira geral, e quase ínfima quando pensamos nas forças sociais que disputam os rumos globais da sociedade.[12]

Quando sustentamos a necessidade de um anarquismo que busque o poder, isso implica, obrigatoriamente, conceber e por em prática formas de maximizar a força do anarquismo e, principalmente, das classes populares, de modo que se tornem agentes poderosos não apenas na esquerda, mas nos cenários locais, regionais, nacionais e mesmo internacionais.


O poder está presente em todos os campos e níveis da sociedade. Ele fornece as bases para as regulações, os controles, os conteúdos, as normas etc. Possui, dessa maneira, uma relação direta com as tomadas de decisão.


Temos, até agora, certos aspectos teóricos capazes de subsidiar análises da realidade, seja ela passada ou presente. Esses aspectos teóricos permitem que elaboremos reflexões históricas e análises de conjuntura, por meio de respostas a um conjunto preciso de questões. Num determinado cenário (momento/território): Quais são as forças sociais em jogo? Como elas incidem no campo social? Qual(is) prepondera(m)? Quais as resultantes desta relação? Mapear as forças em jogo, sua incidência na realidade, as preponderâncias e resultantes desse enfrentamento é fundamental para entender um determinado cenário da sociedade.

Tanto as relações de poder quanto as regulações e controles que ocorrem na sociedade podem ou não implicar dominação. Isso significa que, conforme eu e outros especifistas temos sustentado, poder e dominação não são sinônimos; nem regulação/controle e dominação. Ou seja, uma relação de poder pode ser uma relação de dominação, mas pode também não ser. Um conjunto de mecanismos de regulação e controle pode ser dominador, mas pode também não ser.

O que permite fazer essa afirmação é outro conceito acessório ou subconceito: participação. Em termos gerais, participação é a ação de tomar parte ou contribuir com decisões coletivas; ela se relaciona com todo o processo discutido de constituição de forças sociais, enfrentamentos/disputas e de estabelecimento de relações de poder. As relações de poder e os mecanismos de regulação e controle podem ser analisados e concebidos frente à maior ou menor participação que envolvem.

De modo que poder, regulação e controle podem ser dominadores (e, assim, contar com menor participação) ou autogestionários (e, assim, contar com maior participação). O poder pode ser assim concebido como uma relação que oscila entre esses dois extremos: a dominação e a autogestão.

Dominação é uma relação social hierárquica, em que um ou uns decidem aquilo que diz respeito a todos; ela explica as desigualdades, envolve as relações de exploração, coerção, alienação etc. A dominação explica as classes sociais, ainda que haja outras formas de dominação para além da dominação de classe. Autogestão é a antítese da dominação; trata-se de uma relação social não hierárquica (igualitária), em que as pessoas participam dos planejamentos e decisões que lhes afetam, pessoal e coletivamente. A autogestão fundamenta o projeto de uma sociedade sem classes e outras formas de dominação.

Algumas noções derivam disso. Primeiro, que a dominação é uma forma de poder, assim como a autogestão. Podemos dizer que, historicamente, a ampla maioria de relações de poder que se estabeleceram em nível macrossocial foram relações de dominação (poder dominador, portanto). Mas também é possível afirmar que, paralelamente, inúmeras outras relações de poder, em nível meso e macrossocial, foram relações de autogestão (poder autogestionário, portanto). Isso notamos tanto em movimentos e lutas, quanto em certos momentos de experiências insurrecionais e revolucionárias.

Quando os especifistas reivindicam ser necessário “construir o poder popular”, o que se defende nada mais é do que a construção de uma força social popular capaz de promover uma revolução social e, com isso, estabelecer uma relação de poder frente às classes dominantes e grandes agentes da dominação de maneira geral. Obviamente, não se trata da construção de qualquer poder, mas de um poder autogestionário, que implique o combate direto das relações de dominação, e que aponte para uma sociedade sem classes e outras formas de dominação. Portanto, nossa concepção de poder popular é uma concepção de poder autogestionário.

O papel da organização anarquista vai exatamente nessa direção. Ela tem por objetivo, em primeiro lugar, contribuir para transformar a capacidade de realização dos trabalhadores numa força social. Em segundo lugar, colaborar para o aumento permanente dessa força social dos trabalhadores. Em terceiro lugar, reforçar as posições de esquerda, socialistas, revolucionárias e libertárias/antiautoritárias frente às posições de direita, capitalistas, reformistas e autoritárias presentes entre os trabalhadores e seus movimentos. Em quarto lugar, estimular a construção de relações de poder autogestionárias, que apontem para um processo revolucionário de transformação social, estabelecendo instituições de regulação e controle igualitárias e libertárias, e permitindo a expansão desse projeto em termos regionais, nacionais e internacionais.

MW: Numa perspectiva mais prática, a definição de poder e de dominação no especifismo tem sido utilizada para explicar teoricamente a estratégia de construção de uma “frente de classes oprimidas”. Alguns de nossos companheiros tem a preocupação de que essa estratégia leve a um abandono de liderança da classe trabalhadora [working class] e sua relação única com a produção durante a revolução socialista. Também nos preocupamos que isso possa levar a uma análise “voluntarista” da transformação social. Ou seja, parece que se está priorizando a relação de dominação frente à relação com os meios de produção, no entendimento do papel que uma classe terá na revolução social e, assim, potencialmente, uma priorização na conscientização frente ao confronto político na produção. Gostaria que você respondesse a essas preocupações. Elas representam uma compreensão precisa de suas posições?

FC: Quero iniciar enfatizando que o conceito de classes sociais com o qual operamos, em geral, é muito próximo daquele defendido por distintos anarquistas clássicos, como Bakunin e Malatesta. O problema aqui, novamente, me parece ser aquela mencionada importação de elementos teóricos (neste caso, do marxismo) para o anarquismo, algo que nos impede de conhecer e de usufruir de nossas próprias contribuições.

Esses e outros anarquistas possuem reflexões importantes para essa discussão sobre as classes sociais. Antes de tudo, para Bakunin, Malatesta e outros, classes sociais nunca foi um conceito exclusivamente econômico. Sem dúvida, as classes abarcam (não raro, prioritariamente) elementos de ordem econômica, como a propriedade dos meios de produção e de distribuição, e os consequentes privilégios econômicos. Pode-se dizer que há, nesse sentido, um poder econômico.

Mas as classes também abarcam outros elementos de ordem política, como a propriedade dos meios de administração e coerção, e os consequentes privilégios políticos. Pode-se dizer que há, nesse sentido, um poder político. Enfim, as classes ainda abarcam os elementos de ordem intelectual/ moral, como a propriedade dos meios de comunicação e instrução, e os consequentes privilégios intelectuais. Pode-se dizer que há, nesse sentido, um poder intelectual.

No sistema capitalista-estatista – e, portanto, na sociedade contemporânea – é possível afirmar que há um conjunto de classes dominantes e um conjunto de classes oprimidas. Economicamente, podemos falar em proprietários (burgueses e latifundiários), que submetem proletários (no sentido mais restrito, de trabalhadores assalariados) e camponeses. Politicamente, podemos falar em uma burocracia (governantes, juízes, policiais), que submete um amplo contingente de governados. Intelectualmente, podemos falar em autoridades religiosas, comunicacionais e educacionais, que submetem aqueles que possuem pouco ou nenhum impacto na produção das ideias de uma sociedade em geral.

Portanto, em nossa sociedade, quando falamos de classes sociais, podemos identificar esses três amplos conflitos sociais: proprietários X proletários e camponeses (econômico); burocratas X governados (político); autoridades religiosas/comunicacionais/educacionais X pessoas com pouca ou nenhuma incidência na produção das ideias macrossociais (intelectual).

É importante observar que esses conflitos estão sempre articulados em termos sistêmicos. De modo que essa distinção dos três campos ou esferas (econômico, político e intelectual) e dos três mencionados conflitos a eles relacionados, é apenas analítica. Pois, na realidade, essas três partes compõem um todo estrutural, que funciona como um sistema. A articulação desses três conflitos aponta exatamente para aquilo que mencionei há pouco. Não há apenas burguesia e proletariado; não há apenas duas classes em conflito.

Há, como colocado, um conjunto de classes dominantes e um conjunto de classes oprimidas. Exercendo a dominação em nossa sociedade temos esse conjunto de classes composto por: proprietários + burocracia + autoridades religiosas/comunicacionais/educacionais (ressaltando que falo aqui, obviamente, das grandes religiões, empresas de comunicação e educação, ou seja, aqueles que de fato pautam a produção de ideias na sociedade contemporânea). Conjunto que possui, concomitantemente, a propriedade dos meios de produção e de distribuição, de administração e coerção, de comunicação e instrução; e que usufrui, concomitantemente, de privilégios econômicos, políticos e intelectuais.

Sofrendo a dominação em nossa sociedade temos outro conjunto de classes composto por: proletários + camponeses (e povos tradicionais) + marginalizados, os quais são, em conjunto, e concomitantemente, vítimas da exploração econômica, da dominação político-burocrática, da coerção física e da alienação intelectual. Há, também, um setor intermediário, menos relevante, entre esses dois amplos conjuntos de classes.

Desse modo, quando falamos de luta de classes, é preciso entender que ela pode se manifestar (e realmente se manifesta) de duas maneiras distintas. Uma, particular, por exemplo, quando trabalhadores assalariados de uma empresa enfrentam um patrão em particular. Outra, mais geral, que envolve ambos os mencionados conjuntos: classes dominantes X classes oprimidas.

Se você e outros companheiros tiverem interesse, podemos compartilhar um estudo que usufrui desses pressupostos teóricos para fazer uma leitura das classes sociais no Brasil contemporâneo. É bastante completo e muito interessante.

Essa concepção de classes sociais possui implicações que tornam evidentes as diferenças entre nossas posições e aquelas normalmente vinculadas ao campo do marxismo. Em especial quando consideramos a burocracia uma classe dominante e, assim, tão inimiga de classe dos trabalhadores quanto os burgueses ou latifundiários; o mesmo vale para as grandes lideranças religiosas, os proprietários dos grandes conglomerados de mídia e de educação – são todos inimigos de classe dos trabalhadores e devem ser igualmente combatidos para que o socialismo seja possível.

Socialismo este que abarca, também, esses três campos ou esferas: buscamos um socialismo integral, que não se restrinja à economia. Defendemos a socialização (e não a nacionalização ou o controle estatal) dos meios de produção e de distribuição (do poder econômico), mas também da propriedade dos meios de administração e coerção (do poder político), e da propriedade dos meios de comunicação e instrução (do poder intelectual). É isso que entendemos como fim do capitalismo, do Estado, das classes sociais. Ou seja, a socialização completa do poder social.

Sobre a proposta de uma “frente de classes oprimidas”, posso dizer que, em nossa concepção, ela significa, tão somente, como em geral significou para inúmeros anarquistas clássicos, a compreensão que todos os “de baixo” – trabalhadores assalariados, tanto da cidade como do campo, tanto da indústria como dos serviços, trabalhadores precarizados, autônomos, marginalizados, assim como camponeses – devem ser levados em conta quando se trata de conceber um projeto amplo de transformação revolucionária como aquele proposto por nós.

Nesse aspecto é possível identificar outras divergências, agora com certos setores históricos do marxismo e mesmo do anarquismo. Foi comum, entre tais setores, conceber o capitalismo como um modo de produção econômico e entender que sua base é urbana e industrial. Não há dúvida que a economia é um campo/esfera central na sociedade capitalista, que as cidades e indústrias têm um papel importantíssimo no capitalismo. Mas o capitalismo é muito mais do que uma forma histórica de economia. Trata-se, como mencionei antes, de um sistema que, além da economia, inclui o Estado e as ideias que são fundamentais para legitimar as relações sociais capitalistas.

Portanto, não há dúvida que trabalhadores urbanos e industriais sejam fundamentais para a luta e para uma revolução social. Agora, quando se afirma a “liderança da classe trabalhadora [working class] e sua relação única com a produção durante a revolução socialista”, isso tem diferentes possibilidades de interpretação. “Working class” pode significar exclusivamente o proletariado urbano e industrial – e aí, certamente, essa posição não é a nossa –, mas também pode significar classe trabalhadora em sentido amplo, termo que às vezes utilizamos, e que abarca todos os sujeitos anteriormente mencionados.

Se é verdade que os setores mais diretamente envolvidos na produção precisam estar envolvidos em qualquer projeto revolucionário, quando se discute esse tema em perspectiva global, ou mesmo quando se pensando sobre a nossa realidade na América Latina, parece inconcebível um projeto revolucionário anarquista que não dê conta do proletariado rural, dos camponeses, dos trabalhadores informais e mesmo dos marginalizados.

Creio que neste ponto é necessário detalhar um pouco mais os termos que utilizamos, pois podemos estar falando a mesma coisa ou ter grandes divergências.

Isso nos leva a outro ponto abordado na questão, sobre o voluntarismo analítico. Nossa posição, como se pode notar, não é voluntarista e nem estruturalista. Ela compreende que as estruturas possuem um papel fundamental em nossa sociedade, construindo parte importante da realidade social. Mas também que a vontade, a ação humana, possui um papel relevante. Ainda que seja grosseiro, gosto de pensar na realidade social como 70%-80% determinada estruturalmente, e 30%-20% determinada pelas ações humanas voluntárias.

Me parece que essa posição está em linha com a maioria das teorias sociais contemporâneas (das Ciências Sociais ou da História) que buscam conciliar estrutura e ação, concedendo à primeira mais peso de a segunda, mas fugindo concomitantemente do estruturalismo e do voluntarismo deterministas.

O século XX tornou evidente que os argumentos de um certo setor do marxismo estavam equivocados, e que a posição de um conjunto importante de anarquistas históricos era, realmente, a mais acertada. Nesse período notamos, ao observar as distintas realidades econômico-sociais no mundo, que a estrutura do capitalismo avançado não foi suficiente para produzir, por si só e de maneira automática, sujeitos e processos revolucionários.

E mesmo quando observamos os países que contaram e não contaram com revoluções, o que se constata é que o desenvolvimento das forças produtivas não criou ambientes revolucionários mais radicalizados ou com maior potencial que nos países ditos “atrasados”, nos quais ocorreram tais revoluções. Constatamos, ao mesmo tempo, que não há um etapismo, por meio do qual as revoluções só podem acontecer depois de um desenvolvimento avançado do capitalismo.

Ainda que se deva notar que essas revoluções, cuja maioria terminou construindo aquilo que seria conhecido como “socialismo real”, sequer socializaram ou iniciaram uma socialização consistente do poder econômico, para não falar do poder político ou intelectual. Elas não chegaram, nem de perto, à emancipação dos trabalhadores, e nem mesmo caminharam nessa direção. Por isso, não podem ser tomadas como modelos revolucionários de sucesso.

A posição de uma fração de classe, de um grupo ou de indivíduo na estrutura da sociedade não é suficiente para torná-lo mais ou menos revolucionário. Para isso, é imprescindível a ação, a conscientização (ação de classe, consciência de classe) que, juntamente com as determinantes estruturais, produzirá esse novo sujeito revolucionário que necessitamos. Para uma transformação rumo ao socialismo autogestionário que defendemos, não basta fazer parte de uma estrutura desigual. É necessário que essa estrutura seja percebida como injusta, que se acredite na possibilidade de mudança. É fundamental que as ações caminhem num determinado sentido – precisamos de um projeto consistente. Os trabalhadores não se transformam em sujeitos revolucionários sem engajamento nas lutas e conscientização.

Por último, gostaria de enfatizar que não estou “priorizando a relação de dominação frente à relação com os meios de produção”. Como apontei, as relações de dominação, da maneira que as compreendo, envolvem, abarcam as relações com os meios de produção (em sentido marxiano); a exploração, nesse sentido, é uma forma de dominação, assim como as outras que mencionei (dominação político-burocrática, coerção física e alienação cultural). Mas vale recordar que quando falo em dominação de classe, não me restrinjo aos meios econômicos, mas também aos meios políticos e intelectuais.

Devo notar, ainda, que essa posição não confunde a dominação de classe com outras formas de dominação, como a dominação nacional (colonialismo/imperialismo), a dominação étnico-racial (racismo) e a dominação de gênero (patriarcado). A dominação possui várias formas; a dominação de classe é uma delas – importantíssima na sociedade capitalista, sem dúvida – e que se relaciona com todas as outras formas acima mencionadas. Tal relação permite explicar a sociedade capitalista em suas múltiplas relações de dominação.

Também não há, na estratégia do especifismo, “priorização na conscientização frente ao confronto político na produção”. Nossa estratégia sempre teve foco na construção e no fortalecimento de movimentos populares a partir de um determinado programa que, em termos históricos, como já mencionei, possui muita proximidade com o sindicalismo revolucionário. Não somos educacionistas e nem defendemos prioridade na propaganda. Nosso foco está no trabalho de base regular e cotidiano, na construção de lutas sindicais, comunitárias, agrárias, estudantis, de mulheres, LGBTs, negros, indígenas etc. a partir de nosso programa. A luta nos espaços de trabalho industriais e urbanos está contemplada em nossa estratégia, mas ela vai além disso. Não apenas em função do cenário econômico-social brasileiro, mas mesmo desde uma perspectiva global.

Março, 2022


Notas

1. Militante vinculada ao grupo plataformista/especifista Black Flag Sydney (Austrália), que atualmente vive em Montreal (Canadá).
2. Site da OASL: https://anarquismosp.wordpress.com/. Site da CAB: https://cabanarquista.org/. Declaração de Princípios da CAB (em inglês): https://www.anarkismo.net/article/23028.
3. Sobre a história da FAU (em inglês), ver: https://www.anarkismo.net/article/32515. Sobre a estratégia do anarquismo especifista, ver a longa entrevista que fiz com Juan Carlos Mechoso, militante histórico da FAU (em inglês): https://theanarchistlibrary.org/library/juan-carlos-mechoso-uruguayan-anarchist-federation-fau-the-strategy-of-especifismo.
4. Site do ITHA: https://ithanarquista.wordpress.com/. Site da Faísca: http://editorafaisca.net/.
5. Em: https://www.anarkismo.net/article/32540.
6. “Huerta Grande” (em inglês) pode ser lido em: https://blackrosefed.org/huerta-grande/. Sobre as posições de Malatesta a este respeito, ver o capítulo “Anarquismo e Ciência” da compilação Errico Malatesta: Life and Ideas, organizada por Vernon Richards: https://libcom.org/files/Malatesta%20-%20Life%20and%20Ideas.pdf.
7. O texto em que Osugi Sakae faz essa afirmação está parcialmente disponível (em inglês) na antologia Anarchism: a documentary history of libertarian ideas”, vol. 1, organizada por Robert Graham (Black Rose Books, 2005).
8. Sobre este e outros argumentos de Ibáñez, ver minha resenha de seu artigo “Por un Poder Político Libertario” (em inglês): https://www.anarkismo.net/article/19736.
9. Sobre esse argumento, ver meu artigo “Anarchist Theory and History in Global Perspective” (em inglês): https://ithanarquista.wordpress.com/2021/12/15/felipe-correa-anarchist-theory-and-history-in-global-perspective/.
10. O já citado artigo “Anarchist Theory and History in Global Perspective” (em inglês) apresenta um resumo deste livro.
11. Infelizmente há poucos escritos em inglês desses autores contemporâneos.
12. Tais são algumas das conclusões de uma pesquisa que realizei ao longo de dois anos sobre o ressurgimento global do anarquismo, do anarcossindicalismo e do sindicalismo revolucionário entre 1990 e 2019. Os resultados dessa pesquisa podem ser encontrados no capítulo “The Global Revival of Anarchism and Syndicalism (1990-2019)” do livro The Cambridge History of Socialism: a global history in two volumes, organizado por Marcel Van der Linden (Cambridge, 2022) e no “Dossier Contemporary Anarchism: anarchism and syndicalism in the whole world (1990-2019)”: https://ithanarquista.wordpress.com/contemporary-anarchism/.

international / anarchist movement / opinion / analysis Wednesday June 01, 2022 21:09 byFelipe Corrêa and Rafael Viana da Silva

The present text —the core of which was taken from the introduction that we wrote for the French edition of Social Anarchism and Organization, by the Anarchist Federation of Rio de Janeiro (FARJ)[1]— aims to discuss the question of the specific anarchist political organization, based on the contributions of Mikhail Bakunin, Errico Malatesta and the Organizational Platform for a General Union of Anarchists, written by militants organized around the magazine Dielo Trudá, among whom were Nestor Makhno and Piotr Archinov.

We are going to take up the contributions of Bakunin and Malatesta to establish a dialogue between them and the Platform, trace the similarities and differences between the proposals of anarchists who advocate an organizational dualism and those of the Bolsheviks, and we will see the proximity of Malatesta with the Synthesis, as well as the historical impact of the Platform, which will make it possible to elucidate the positions that have been disseminated about this debate.

BAKUNIN, MALATESTA AND THE PLATFORM DEBATE

The Question of Anarchist Political Organization

Felipe Corrêa and Rafael Viana da Silva

The present text —the core of which was taken from the introduction that we wrote for the French edition of Social Anarchism and Organization, by the Anarchist Federation of Rio de Janeiro (FARJ)[1]— aims to discuss the question of the specific anarchist political organization, based on the contributions of Mikhail Bakunin, Errico Malatesta and the Organizational Platform for a General Union of Anarchists, written by militants organized around the magazine Dielo Trudá, among whom were Nestor Makhno and Piotr Archinov.

We are going to take up the contributions of Bakunin and Malatesta to establish a dialogue between them and the Platform, trace the similarities and differences between the proposals of anarchists who advocate an organizational dualism and those of the Bolsheviks, and we will see the proximity of Malatesta with the Synthesis, as well as the historical impact of the Platform, which will make it possible to elucidate the positions that have been disseminated about this debate.

Anarchism is a political-doctrinal ideology that emerged in the nineteenth century, with a hegemony of mass oriented strategies, especially syndicalism (revolutionary syndicalism and anarcho-syndicalism). Among the fundamental positions of “mass anarchism” are the defense of organization, of reforms as a possible path to revolution (provided they are properly conquered through class struggle) and of violence when associated with previously organized popular movements. Such positions are distinguished from other minority positions characterized by their anti-organizationism, their opposition to the struggle for reforms and their defense of violence as a trigger for popular mobilization (“propaganda by the deed”).

Those who have taken part in mass anarchism and defend organizational dualism—concomitant organization on two levels, one political/anarchist and the other mass/social—are not the majority, but among them there are relevant authors with significant positions and, above all, a solid historical experience, supported by the theoretical and practical construction of anarchist organizations.[2]

Contributions from Bakunin

Despite the fact that, after important attempts to compile them, Bakunin’s complete works have finally been published in French[3], his writings on the so-called “Fraternity” of 1864 and “Alliance” of 1868 —to use the terminology proposed by Max Nettlau— are very little known.

Bakunin’s mass strategy has been thoroughly discussed in relevant texts such as Bakunin: Founder of Revolutionary Syndicalism, by Gaston Leval,[4] and several others by René Berthier.[5] Not so much his theory of political organization—which he addresses extensively in different documents—which is his attempt to base the political-organizational proposals he had in terms of principles, program, strategy and organization.

There seems to be some shame around these writings, especially among French anarchists. It is as if they belonged to an authoritarian heritage, perhaps of Blanquist and Jacobin inspiration, which remains in the author and should not be brought to light.[6]

We believe that Bakunin’s positions on anarchist political organization, from 1868 onwards, are fully reconciled with his mass strategy, which he proposed to the International Workingmen’s Association (IWA), and should be recognized as a relevant part of his anarchism. Today, such positions seem to carry weight as a pillar for fruitful reflections on the most suitable organizational model for anarchist intervention.

Bakunin argued that the Alliance should have a dual objective: on the one hand, to stimulate the growth of and strengthen the IWA; on the other, to bring together all those who had political-ideological affinities with anarchism—or, as it was generically called in that period, revolutionary socialism or collectivism— around principles, a program and a common strategy.[7] In sum, create and strengthen both political organization and a mass movement, which has been called organizational dualism:

They [Alliance militants] will form the inspiring and vivifying soul of that immense body that we call the International Workers’ Association […]; then they will deal with issues that are impossible to discuss publicly; they will form the necessary bridge between the propaganda of socialist theories and revolutionary practice.[8]
For Bakunin, it was not necessary for the Alliance to have a large number of militants: “The number of these individuals should not, therefore, be immense.” The Alliance had to constitute a political organization, public and secret, with an active minority and collective responsibility among the members, to bring together “the most safe, the most committed, the smartest and the most energetic, in a word the most intimate,” with groups in various countries and the ability to decisively influence the working masses.[9] The organization had to be based on internal regulations and a strategic program to establish, respectively, its organic functioning and its political-ideological and programmatic-strategic bases, forging a common axis for anarchist action.

Only “he who [has] frankly accepted the entire program with all its theoretical and practical consequences and who, along with intelligence, energy, honesty and discretion, [has] also a revolutionary passion” could be a member of the organization. Internally, there should be no hierarchy among the members of the Bakuninist political organization and decisions had to be made from the bottom up, generally by majority (varying from consensus to simple majority depending on the relevance of the issue), and all had to abide by decisions taken collectively. This meant applying federalism—advocated as a form of social organization that must decentralize power and create “a revolutionary organization from the bottom up and from the periphery to the center”—in the internal bodies of the anarchist organization.[10]

The Alliance should not exercise a relationship of domination and / or hierarchy over the IWA, rather it should complement it; and vice versa. Together, these two organizational bodies had to complement and enhance the revolutionary project of the workers, without the submission of either party.

The Alliance is the necessary complement to the International ... But the International and the Alliance, tending towards the same end goal, pursue different goals at the same time. One’s mission is to bring together the working masses, the millions of workers, with their different professions and countries, across the borders of all States, in a single huge and compact body; the other, the Alliance, has the mission of giving the masses a truly revolutionary leadership. The programs of one and the other, without being in any way opposite, are different by the very degree of their respective development. That of the International, if taken seriously, contains in germ, but only in germ, the whole program of the Alliance. The program of the Alliance is the ultimate expression of the [program] of the International.[11]

The union of these two organizations—one political, of minorities (cadres), another social, of majorities (masses)—and their horizontal and permanent organization enhance the strength of workers and increase the opportunities of the anarchist transformation process. Within the mass movement, the political organization makes anarchists more effective in disputes over positions. This formation, organized and in favor of its program, is opposed to forces that are oriented in the opposite direction and that may seek: to raise to the status of principle any of the different political-ideological and/or religious positions; to minimize its eminently class-based character; to strengthen reformist positions (viewing reform as an end) and the loss of combativeness of the movement; to establish internal hierarchies and/or relations of domination; to direct the force of workers toward elections and/or toward strategies of change that imply the takeover of the State; to submit the movement to parties, states or other organizations that eliminate, in the process, the protagonism of the oppressed classes and their institutions.

Contributions from Malatesta

Various ideas from Malatesta resemble those described previously, especially the set of organizational proposals on the “anarchist party,” the name by which he referred to the specific anarchist organization. “Parties” of this type took shape historically and had considerable involvement, as were the cases of the Anarchist Socialist Revolutionary Party, of 1891, the Anarchist Party of Ancona, of 1913, and the Italian Anarchist Union, of 1919–1920.[12]

Malatesta conceptualized the anarchist party as “the ensemble of those who are out to help make anarchy a reality and who therefore need to set themselves a target to achieve and a path to follow.” For him, “staying isolated, with each individual acting or seeking to act on his own without entering into agreement with others, without making preparations, without marshalling the flabby strength of singletons into a mighty coalition, is tantamount to condemning oneself to impotence, to squandering one’s own energies on trivial, ineffective acts and, very quickly, losing belief in one’s purpose and lapsing into utter inaction.”[13]

In order for anarchists to be effective in their action, they had to establish a common strategy and program and overcome the form of affinity groups that have no contact with social struggles. The goal of the party was stated as follows: “We want to act on it [the mass] and propel it along the path that we believe to be best, but as our objective is to liberate and not dominate, we want to accustom it to free initiative and freedom of action”[14]. Obviously that path was that of the social revolution.

The Malatestian party is founded on revolutionary discipline and in the principle of unity. “Without understanding, without coordination of each other’s efforts for common and simultaneous action, victory is not materially possible.” But “discipline must not be slavish discipline, blind devotion to bosses, an obedience to the one who always speaks so as not to have to move.” This is about revolutionary discipline, which means “consistency with accepted norms and fidelity to assumed commitments, […] feeling obliged to share the work and the risks with comrades in struggle”[15]. The principle of unity establishes that it is not enough to have a platform of association that calls itself anarchist. Although anarchists may seem united, Malatesta affirms that he does not believe “in the soundness of organizations built upon concessions and subterfuge and where there is no real agreement and sympathy between the members.” He continues, “Better dis-united than mis-united”[16].

Propaganda and education were fundamental activities to be carried out by the anarchists. We “carry on our propaganda to raise the moral level of the masses and induce them to win their emancipation by their own efforts.” Of course, propaganda should be organized and planned: “Isolated, sporadic propaganda which is often a way of easing a troubled conscience or is simply an outlet for someone who has a passion for argument, serves little or no purpose.” For Malatesta, “seeds sown haphazardly” had great difficulty germinating and taking root. Rather, what is needed “is continuity of effort, patience, coordination, and adaptability to different surroundings and circumstances.” Anarchists should occupy themselves with education, “education for freedom,” “making people who are accustomed to obedience and passivity consciously aware of their real power and capabilities”[17]. However, he believed that propaganda and education alone were not enough. “We would be deluding ourselves in thinking that propaganda is enough to raise them [the people] to that level of intellectual development which is needed to put our ideas into effect.”[18] In relation to education, Malatesta criticizes the “educationists […] who assert that through propaganda and instruction, the defense of free thought and positive science, with the establishment of popular universities and modern schools, it is possible to destroy in the masses religious prejudice, moral subjection to state rule and belief in sacrosanct property rights”[19].

In reality, for him these initiatives were very limited: “Educationists should see how powerless their generous efforts are.” The consciousness of the masses could not be sensibly elevated and the environment transformed “as long as the economic and political conditions [of the moment] [lasted]”[20].

Malatesta proposed organizational base building work, to be carried out daily by anarchists:

In normal times [it is necessary] to carry out the long and patient work of preparation and popular organization and not to fall into the illusion of short-term revolution, achievable only by the initiative of a few, without the effective participation of the masses. Since this preparation is carried out in an adverse environment, do not neglect propaganda, agitation or organization of the masses, among other things.[21]
The activities of organized anarchists would therefore be “the propagation of our ideas; unceasing struggle, violent or non-violent depending on the circumstances, against government and against the boss class to conquer as much freedom and well-being as we can for the benefit of everybody”[22].

Bakunin, Malatesta and the Platform: “Anarcho-Bolshevism”?

First of all, it must be said that when Bakunin developed his praxis—and his theory and practice of political organization—which would directly influence Malatesta, Lenin had just been born and Bolshevism would still take many years to emerge. Therefore, to accuse Bakuninist organizational dualism of being “Leninist” is an anachronism.[23]

At the same time, it also seems problematic to assume that by defending organizational dualism Bakunin, Malatesta and Lenin should be considered part of the same current or political-ideological tradition, resembling each other to some extent. As is known, this dualism was understood and practiced in a very distinct way in the anarchist tradition and in the Leninist tradition, including its Trotskyist and other variations. Any canonical text of Marxism-Leninism on the question—for example, Lenin’s What Is to Be Done?[24]—shows this clearly. Apart from parallel work on two different levels, one of the cadre party and the other of the mass movement, there are no major similarities.

To be concise, there are two fundamental differences that can be marked between the organizational praxis of Bakunin and Malatesta and that of Lenin: the internal structure of the organization and the relationship between organization and mass movements.

In the first instance, in the anarchist political organization there is internal democracy and decisions are made from the bottom up. It is the grassroots organizations and the militants themselves who discuss and resolve all the organization’s issues. There is no hierarchy between the members so there is no leadership-base division. Leninist political organization, on the contrary, is based on “democratic centralism,” which envisioned a hierarchical organizational model, with a leadership-base division, so that although the base is consulted for decision-making, who in fact deliberates is the leadership, including against the positions of the base. In other words, there is no internal democracy and decisions are made from top to bottom.

Unity of action, defended by a sector of anarchism, is often confused with democratic centralism. What makes the difference between the two positions is not the obligation regarding the decisions made, common in both cases, but who makes the decisions and the way they are made. In anarchist organizations everyone effectively participates and deliberates on all issues (sometimes through majority mechanisms); in Leninist organizations, on the other hand, even though the rank and file are consulted, the leadership is the one who decides and hierarchically imposes decisions.

Secondly, the anarchist political organization functions in a complementary way to mass movements and does not attempt to impose a relationship of hierarchy and/or domination. Its function is to strengthen the leadership of these movements, since in the anarchist project the masses must be responsible for revolutionary social transformation. The organization is part of the masses and brings together an ideologically related sector that seeks to strengthen its position in political disputes. The Leninist organization differs in that it believes that popular movements are only able to fight in the short term, in the struggles for demands. Leninists believe that it is the party that must provide movements with transformative capacity and that the party itself must lead in the process of revolutionary social transformation. The party is conceived as a separate sector of the masses that exerts a relation of hierarchy and domination over them, withdrawing their class independence and protagonism.

That is why we are not in agreement with the assertion that the positions of Bakunin and Malatesta—according to our point of view, as we will argue later, rescued in several respects by the Platform and by various anarchist political organizations—constitute some kind of “anarcho-Bolshevism” or carry Leninist traits. Both Bakunin and Malatesta—and later Makhno, Archinov, Ida Mett and others—had the anarchist political organization as one of their important topics for reflection and established its framework within anarchist principles.

The link between anarchist organizational dualism and Leninism, which has been established with some frequency in the past and continues to establish itself in the present, has no historiographical foundation, not even theoretical-logical. It seems to relate more to the self-serving motives of those who make these claims than to a historical phenomenon.

Anyone who takes on this topic with a minimum of seriousness and intellectual honesty will verify the erroneousness of the alleged relationship of Bakunin, Malatesta and the Platform with Bolshevism. In the case of the Platform, its main aspects are based on the long anarchist political tradition and its authors lived through the experience of a concrete social revolution, dulled by the authoritarian politics of the Bolsheviks, which makes the characterization of its authors as anarcho-Bolsheviks more absurd.[25]

The Platform and the debate between anarchists

The Organizational Platform of the General Union of Anarchists, written in 1926 by a group of Russians and Ukrainians exiled in France, constitutes a frame of reference in the discussion on anarchist organization. In our view, the debate on this document has been relatively truncated and, for certain reasons, misunderstood by a significant part of those interested in the subject.

The result of a process of self-criticism by anarchists in the wake of developments of the Russian and Ukrainian revolutions, the Platform was published as a program proposal for anarchists. Divided into three major sections —general, constructive and organizational—the Platform upholds, among other things: the critique of capitalist society, the State and representative democracy and the centrality of class struggle; the need for leadership of the masses for the revolution, through class and federalist intervention; criticism of the dictatorship of the proletariat as a period of transition; the defense of syndicalism as a relevant means for anarchist action; the establishment of a post-revolutionary society in which production and land have been socialized; the creation of organs for the defense of the revolution; the formation of an anarchist political organization programmatically based on theoretical and tactical unity, on responsibility and federalism.[26]

Two reasons mark the misunderstanding of the Platform, especially if the recently discussed contributions of Bakunin and Malatesta are taken into account.

Regarding Bakunin, ignorance of his texts on the Alliance has prevented appreciating the similarities between his conception of political organization and that of the Platform. With respect to Malatesta, it must be said that the partial dissemination and excessive focus on part of his mail exchange with Makhno about the Platform—specifically the first letter sent by the Italian—has impeded a clearer understanding of his positions.

There is a third reason, in addition, which has to do with sectors that have set the standard for debate in the world, establishing a version that many researchers and militants hold: A significant part of the discussion about the Platform has been monopolized by an interpretation that is dominant in European anarchism in general, particularly French, and which is mostly critical of the Platform.

Next we present elements for the discussion on these three relevant questions, in order to contribute to solidifying our position.

Bakunin and the fundamentals of the Platform

We agree with researchers such as Frank Mintz when they argue that the Platform, rather than introduce a new organizational debate among anarchists, takes up fundamental elements of the Bakuninist strategy.[27] In this sense, Van der Walt correctly states that “Makhno and Archinov explicitly related the Platform to the Bakunin heritage.” Quoting Colin Darch on the makhnovitchina, he states:

Bakunin’s “aspirations concerning organizations, as well as his activity in the First International give us every right” to view him as an “active partisan” of the idea that anarchism “must gather its forces in one organization, constantly agitating, as demanded by reality and the strategy of class struggle.”[28]

Fundamental elements found in the Platform are certainly tributaries of Bakunin, among them the social critique of capitalist and statist domination and the centrality of class struggle, the need for the simultaneous intervention of anarchists at both levels, anarchist organization and mass movements (organizational dualism), the need for a violent social revolution, and in general libertarian socialism as a proposal for a future society.

In a more detailed analysis, as much as we can find differences, there are similarities in the main lines. The federalist functioning of the anarchist organization, without hierarchy or domination among the members, and its complementary relationship with mass movements, are also characteristic elements that allow Bakunin to be related to the Platform. This is not the time to do so, but it would not be very difficult to establish with substance and detail this whole series of parallels.

According to this analysis and what we have mentioned above, far from innovating, the Platform simply proposed a “return”—adapted to a concrete historical context—to the Bakuninist organizational strategy of the post-1867 period. We should recall that this model took shape, in theoretical and practical terms, in other circumstances, in the most diverse times and locations, the Platform being only one of them. For this reason, we understand that the qualifier platformist —beyond having the merit of differentiating, among anarchists, a particular organizational strategy—can be easily substituted by others that refer to other authors and experiences, some of which occurred during the first great wave of anarchism in the world.

Malatesta, the Platform and Synthesis

Analyzing the controversy around the Platform,[29] in which the debate between Makhno and Malatesta stands out, the proximity between Malatesta and the Platform is not as obvious as it is with Bakunin. According to what we have indicated, if we take into account the more than six decades of Malatesta’s anarchist militancy, we can understand that at certain times his positions are closer to those of the Platform and in others to the Anarchist Synthesis.[30]

Texts such as those published in 1897 in L’Agitazione, especially “Organization I” and “Organization II”[31], and compilations such as Anarchist Ideology,[32] allow us to identify positions quite similar to that of the Platform. However, texts such as “Communism and Individualism”[33] and “Individualism and Communism in Anarchism”[34], as well as Malatesta’s interventions at the Anarchist Congress in Amsterdam in 1907,[35] show positions much closer to Synthesis.

In his texts closest to Synthesis, Malatesta criticizes the fact that “anarchists of various tendencies, despite wanting basically the same thing, find themselves in their daily lives and in their propaganda in fierce opposition to each other.” Based on this criticism, Malatesta defends the need to “reach some understanding” and that “when agreement is not possible [it is necessary] to know how to tolerate each other. Work together when there is consensus and when there is not, allow others to do what they consider best, without interference”[36]. This should be the case, since “individualist and communist anarchism is one and the same thing — or almost,” “there are no fundamental differences”[37].

At the Amsterdam congress, trying to mediate between the positions of syndicalist anarchists and others with individualist influences, Malatesta affirms that “cooperation is indispensable, today more than ever. Without doubt, the association must allow individual members complete autonomy and the federation must respect this same autonomy for its groups.” If on the one hand, he says, it is understood that it is “wrong to present the ‘organizationists’, the federalists, as authoritarians, [on the other hand] it is equally wrong to imagine that the ‘anti-organizationists’, the individualists, have to be deliberately condemned to isolation.” In short, Malatesta believed that the dispute between individualists and organizationists was a “simple dispute of words”[38].

These and other positions allow authors to correctly claim that Malatesta “flirted with the synthesist position on some occasions”[39]. But it is necessary to acknowledge that there are also times when he defends quite different positions.

The debate between Makhno and Malatesta: necessary clarification

With regard to the debate between Makhno and Malatesta on the Platform,[40] Malatesta’s positions are also modified throughout the debate, hampered by issues of text comprehension and mutual comprehension. There are some aspects relative to context that should be pointed out: the fact that Malatesta was on house arrest and quite removed from anarchist discussions; the problem of translation of the Platform, done by Volin, one of its greatest opponents, who “adjusted” it to his point of view through a series of terminological choices;[41] a certain difference of evaluation of anarchism at that moment, which the Russians considered much more critically than Malatesta and, consequently, they saw more need for a significant change in their organizational patterns. Their critical position is related to the historical experience of Russian-Ukrainian anarchism, since their progress and defeats contributed to reinforcing their conviction on the importance of the specific anarchist organization and of its fundamental axes.[42] We will discuss some questions on this debate that we consider necessary to address in more depth.

First of all, it makes sense to clear any doubts about our position: for us, Malatesta as well as Makhno and other Russians who wrote the Platform are anarchists, considering a historical and global approach to anarchism. Both positions can be more or less historically identified in various anarchist authors and episodes. Mainly in his first letter, Malatesta exaggerates and commits misunderstandings when criticizing the Platform. There is no justification for a statement like the one in which he says that the Platform is “typically authoritarian” and does not constitute a document of anarchism, but rather “a Government, a Church,” which Makhno simply refused to comment on due to its degree of absurdity. Malatesta also hints that the Platform admits that “to organize means to submit to leaders and belong to an authoritarian, centralizing body that suffocates any attempt at free initiative.”[43] For us, there is no doubt that the Platform is anarchist, it does not bear any relation with governments, churches or any other type of authoritarianism, fits without difficulty into the historical tradition of anarchism and does not assume, as its detractors said from the beginning, a Bolshevik detour.

Second, there are unquestionable similarities between the positions of Makhno and Malatesta. They both agree, for example, in the need for anarchists to organize themselves in a revolutionary political organization (a “General Union” for the first, an “Anarchist Party” for the second). They are also in agreement —despite terminological divergences[44]— on their conception of organization as a promoter of their ideas and practices among the masses (that’s why they use terms like “influence,” “orientation,” “suggestion,” even “direction”) and as guiding the direction of struggles and workers’ movements towards social revolution and socialism or communism libertarian. Malatesta says:

I believe that we, anarchists, convinced of the validity of our programme, must strive to acquire overwhelming influence in order to draw the movement towards the realization of our ideals. But such influence must be won by doing more and better than others, and will only be useful if won in that way.[45]
In this same sense, Makhno asserts that “anarchism is a revolutionary social doctrine that must inspire the exploited and oppressed”[46] in the struggles for social transformation, and as the Platform proposes, it must make “revolutionary anarchist positions” penetrate into the movements of “workers and peasants,” to become a “pioneer” and “theoretical guide” of popular organizations in the city and countryside.[47] The Supplement to the Platform affirms that the tools to influence the masses should be “propaganda, force of argument, and spoken and written persuasion”[48]. Third, it should be noted that two of Malatesta’s criticisms of the Platform are completely misplaced: the idea that the Russians were proposing a hierarchical organization and that the Executive Committee (despite its name, which indicates that it executes and not that it deliberates) should control the decisions of the organization.

It was not for nothing that Makhno was surprised by Malatesta’s first text and told him: “My impression is that… you have misunderstood the project for the ‘Platform’.”[49] Let us agree that it is true to some extent.

The Platform is clear about the functions of the Executive Committee:

The execution of decisions taken by the Union with which it is entrusted; the theoretical and organisational orientation of the activity of isolated organisations consistent with the theoretical positions and the general tactical line of the Union; the monitoring of the general state of the movement; the maintenance of working and organisational links between all the organisations in the Union; and with other organisations.[50]
It is, according to our point of view, a type of secretariat that guides the decisions made by the base of the organization.

The proposed organizational form is federalist, built by the base, from the bottom up, so that it reconciles “the independence and initiative of individuals and the organisation with service to the common cause.” However, so that “shared decisions”—that is, socialized among the whole membership and established collectively—can be carried out, federalism demands that members “undertake fixed organisation duties, and demands execution of communal decisions”[51].

There is nothing in the Platform or in documents related to it that allows for linking it with an organizational model based on hierarchy and domination (internal or with respect to the masses) or that allows for conceiving the Executive Committee as a type of central committee that would decide the direction of the General Union.

The debate between Makhno and Malatesta: real divergences

At this point we will identify issues that, taking into account the entire debate, constitute real disagreements between the two militants. The question that undoubtedly occupied most of the debate was the question of collective responsibility. At first, for Malatesta the idea that there was mutual responsibility between militant and organization (“the entire Union will be responsible for the political and revolutionary activity of each member; in the same way, each member will be responsible for the political and revolutionary activity of the Union as a whole”[52]) constituted an “absolute denial of all individual independence, all freedom, all freedom of initiative and action”[53]. In this text, for Malatesta responsibility means autonomy and independence of individuals and groups: “Full autonomy, full independence and, therefore, full responsibility of individuals and groups”[54].

In his first reply, Makhno claims that Malatesta always accepted the individual responsibility of anarchist militants: “You yourself, dear Malatesta, recognize the individual responsibility of the anarchist revolutionary.”[55] His rejection of collective responsibility would be, according to Makhno, “without basis” and would be “dangerous for the social revolution”[56]. Makhno further relates collective responsibility to the question of anarchist ideological influence on the masses:

The collective spirit of its militants and their collective responsibility will allow modern anarchism to eliminate from its circles the idea, historically false, that anarchism cannot be a guide—either ideologically or in practice—for the mass of workers in a revolutionary period and therefore could not have overall responsibility.[57]
Archinov, for his part, supporting Makhno’s positions and criticizing Malatesta, reinforces the sense of collective responsibility in the following way:
The practical activity of a member of the organization is found in full harmony with general activity and, inversely, the activity of the whole organization cannot be in contradiction with the conscience and activity of anyone of its members, provided that you have accepted the program on which the organization is based.[58]
The idea is that an anarchist organization cannot be founded if not on this principle, in the sense that the member “could not carry out his political and revolutionary work if not in the political spirit of the Union […] his activity could not be contrary to that which was developed by all its members”[59].

In the following response, Malatesta is still standing his ground, going so far as to relate collective responsibility with governments, the military that kill rebel soldiers or the armies that decimate populations in invasions—another completely out of place comparison, from our point of view—noting:

I accept and support the view that anyone who associates and cooperates with others for a common purpose must feel the need to coordinate his actions with those of his fellow members and do nothing that harms the work of others and, thus, the common cause; and respect the agreements that have been made, except when wishing sincerely to leave the association when emerging differences of opinion or changed circumstances or conflict over preferred methods make cooperation impossible or inappropriate. Just as I maintain that those who do not feel and do not practice that duty should be thrown out of the association.[60]
Malatesta complements his criticism by saying that “perhaps, speaking of collective responsibility, you mean precisely that accord and solidarity that must exist among the members of an association” and emphasizing that, if this were the case, “agreement would soon be reached”[61].

In the following response, Makhno once again affirms that “anarchist action on a wide scale will only achieve its goals if it possesses a well-defined organizational base, inspired and guided by the principle of the collective responsibility of its militants”[62].

Some time later, Malatesta would go on to affirm that responsibility is essentially individual: “Moral responsibility (and in our case we can talk of nothing but moral responsibility) is individual by its very nature.” Adding: “If a number of men agree to do something and one of them allows the initiative to fail through not carrying out what he had promised, everyone will say that it was his fault and that therefore it is he who is responsible, not those who did what they were supposed to right up to the last.”[63]

In sum, it can be said that there are points of agreement and others of divergence in this controversy between Malatesta and the editors of Dielo Trudá. Malatesta does not relent when it comes to the idea that responsibility is essentially individual, although he understands the need for coordinated actions and agreement and respect for these actions and pacts on the part of the members of an anarchist organization. For Makhno and Archinov, responsibility is individual and collective at the same time, it necessarily binds the militant and the organization, making them responsible to each other, and it has to do with the guiding role of anarchism in the revolutionary process. As Malatesta himself notes, the notion of collective responsibility and the position of full independence and autonomy that he himself defends are incompatible.[64]

Another divergence has to do with the greater or lesser need for unification (homogeneity) of anarchists. While the Russians advocate that the anarchist organization must bring together the majority, if not the entire organized and revolutionary sector of anarchists—emphasizing “the great need for an organization that [brings together] most of the participants in the anarchist movement”[65]—, Malatesta affirms: “Let us therefore abandon the idea of bringing together all [the anarchists] in a single organization.” For the Russians fragmentation was the central problem, something that doesn’t seem to be that essential for Malatesta.

There are also very important differences in terms of organization—that is, to the organic functioning of the anarchist grouping—which includes the level of commitment and autonomy of the members and groups that belong to the organization in relation to collective decisions and the decision-making method of deliberation. For Makhno and the Russians, action with a clear strategy and program was fundamental, which, in addition to anarchist principles, established a common and unitary path for the organization as a whole: “such a role [of anarchists in a revolution] can only be played successfully when our Party is ideologically homogeneous and unified from the point of view of tactics”[66]. He further states that “our Party must [...] make clear its political unity and organizational character”[67], in a position similar to what Archinov called “homogeneous theoretical and practical program”[68], a form of collective deliberation with binding decision for all its members.

For Malatesta, members and groups of the organization had to have the most complete autonomy and decisions should not be mandatory, but only recommendations that may or may not be followed: “full autonomy, full independence and, therefore, full responsibility of individuals and groups,” so that the decisions of the organization’s congresses “are not mandatory rules but suggestions, recommendations, proposals.” Malatesta even goes so far as to elevate this position—according to our point of view related to organizational strategy—to a principle of anarchism, when he emphasizes the “principles of autonomy and free initiative which the anarchists profess,” certainly a doubtful conclusion from a historical point of view.[69]

Archinov asks: “What would be the value of a congress that only issued ‘opinions’ and did not take charge of making them come true? None. In a vast movement [like anarchism], a solely moral and non-organizational responsibility loses all its value”[70]. Indirectly, the previously discussed issue of collective responsibility comes up again.

When it comes to matters related to the program of anarchist organization, Malatesta relates them more to anarchist principles than to a well-defined strategy. Unlike what he does in the texts of 1897, he goes so far as to affirm that the anarchist party is “the group of those who are on the same side, who have the same general aspirations, who in one way or another fight for the same end against common adversaries and enemies”[71]. Which is to say that the party would be formed by the “partisans” of anarchism, almost automatically, by the simple fact of existing.

Makhno and the Russians advocate that for the formation of a coherent strategy and program for the anarchist organization, in case of divergence in positions, majority voting would be adopted and the result of the deliberations would be binding for the entire organization, which consequently must apply them. This applies provided members decide to remain in the organization, since the right to a split is given.

Malatesta criticizes decision-making by majority and proposes that differences are voluntarily readjusted, by means of some type of consensus-dissent, and says that the good sense of militancy should lead it to contribute positively to the dynamics of organizational activities: “an adaptation [that] must be reciprocal, voluntary and derive from the awareness of the need to not paralyze social life by mere stubbornness.”[72] For him, this means working with a broad program, around anarchist principles, that allows each member and group of the organization to carry out any action that in practice they judge will contribute to that program.

Malatesta, closer to the Synthesis or the Platform?

As the complete works of Malatesta are not yet published, not even in Italian, we will have to wait until that happens to be able to deepen the discussion on the positions of Malatesta and be able to decide which were in the majority, which were in the minority, to what extent the positions adopted are related to certain periods of his life, etc. For the moment, we can conclude that, according to what has been said, his positions are varied and allow different interpretations: particularly in reference to the Platform-Synthesis debate, we have already demonstrated that it is possible to link his positions without great difficulty to one or the other camp depending on the texts and extracts taken into consideration.

Debate: historical impact of the Platform and the dominance of the Synthesis interpretation

The distrust of a large part of anarchists in relation to the elements that culminated in the formalization of the Platform began in 1923, shortly after the publication of Archinov’s book, History of the Makhnovist movement.[73] Distrust spread rapidly in anarchist networks.

Marc Mrachny, a former member of the Nabat organization who spent a few days with the Makhnovists, in June 1923 published a series of criticisms of them in the newspaper Via Obrera, an organ of the Russian anarcho-syndicalists published in Berlin. Mrachny said that the role of Makhno had been overrated by some anarchists to the detriment of the working class and that the makhnovitchina had constituted a kind of “military anarchism.” In the same issue of the magazine, he himself wrote a review of Archinov’s book, which had caused some discomfort due to his criticism of certain “intellectual” sectors of the anarchist movement.[74] The last chapter of Archinov’s book, entitled “The makhnovitchina and anarchism,” develops some questions that will later be deepened by members of Dielo Trudá and laid out in the Platform. Perhaps it can be said that this contribution is at the origin of what years later would become the Platform.[75]

In March 1924 the anarchist Judoley pejoratively compared the Russian anarchists for the first time with left-wing socialists, who act through a hierarchical political organization. In another critical article, written by Eugène Dolinin (Moravsky), Ukraine’s free soviets are considered a form of state, which “should be fine for ‘the most honest Bolshevik Marxists, but not for anarchists.” To Archinov’s criticism that a considerable part of the anarchists did not participate in the uprising in Ukraine, Moravsky replied that “anarchism cannot rely on bayonets but on the spiritual product of humanity.”[76] As we can see, criticisms of the makhnovitchina, a phenomenon that arose out of the Ukrainian popular struggle and of the anarchists of that region, are generally the result of a misinterpretation and reflect an ignorance not only of the historical episode in question, but even of anarchism itself. These critics were wrong when they tried to disassociate the Makhnovists from the anarchist tradition, by virtue of the use of revolutionary violence, since that has been used by practically all anarchists who have been involved in revolutionary episodes in history. This has to do with violence that has been at the same time a tool of resistance against attacks from its multiple enemies and to promote the anarchist revolutionary program. To these and other criticisms of the Makhnovist movement Archinov and Makhno responded in long articles. They were responsible for causing unpleasant polemics within international anarchism, especially European anarchism.

Criticisms of anarchist intellectual sectors were not exclusive to Archinov. Anatol Gorelik—a Russian anarchist who went into exile in Argentina in 1922 and contributed from Buenos Aires to Dielo Trudá—published in June of the same year, Anarchists in the Russian Revolution. Beyond an overview of events in Russia, Gorelik criticized the anarchist intellectuals who had isolated themselves from the workers’ movement.[77]

With the publication of the Platform in 1926 it was possible to deepen the debate that had been taking place in relation to the Russian and Ukrainian revolutionary process and the written contributions of its members, and above all its defenders were able to concretize their own organizational project in better conditions.

A deep debate about anarchist organization, possibly the largest in history, took place until the early thirties of the twentieth century. Not only did Makhno and Malatesta participate, so did Archinov, Volin, Luigi Fabbri, Camilo Berneri, Sébastien Faure, Maria Isidin, Gregori Maximoff, among others. While the members of Dielo Trudá explained and deepened the lines of the Platform, other anarchists tended to criticize it. As in the Makhno-Malatesta debate, some of these criticisms denoted real differences and others were due to misunderstandings or outright gross nonsense.[78]

Among the absurdities were the positions of Volin and other synthesists, who in 1927 claimed that the Platform constituted a “revisionism in the direction of Bolshevism, which the authors hide”[79]. Despite being unfounded, several anarchists and scholars of anarchism followed them and adopted this position.

In their attempt to concretize the organizational project, in 1927 the anarchists of Dielo Trudá launched a call for the constitution of an international federation following the bases of the Platform. With the aim of organizing an international conference that same year, on February 5, 1927, they held a preliminary meeting in Paris in which militants from Bulgaria, China, Spain, France, Italy, Poland and Russia participated. From that meeting came a provisional commission made up of the Chinese anarchist Chen, the Ukrainian Makhno and the Polish Ranko, and various circulars were sent to various anarchist groups.

From the international conference, which also took place in Paris on April 20, 1927, some agreements emerged: the recognition of the class struggle as the most important aspect of the anarchist idea, anarcho-communism as the basis of the movement and syndicalism as the main method of struggle; the recognition of the need for a general organization of anarchists based on tactical and ideological unity and collective responsibility; and the need for a program for social revolution.

The conference suffered a major setback: the police assaulted and arrested everyone present, and only thanks to a campaign by French anarchists, Makhno was not deported. Also, many groups, even the conference participants, did not try to or failed to carry out the resolutions that had been adopted.[80]

Still, the conference yielded some practical results. In France, platformists were responsible for the transformation of the Anarchist Communist Union into the Anarchist Communist Revolutionary Union in 1927 and managed to make their positions the majority in the organization, which lasted three years. They also created the Libertarian Communist Federation, which existed between 1934 and 1936.[81] Of shorter existence was the Italian Anarchist Communist Union, also created by platformists. Apart from these, the most relevant experience of the period took place in Bulgaria, when the Federation of Anarchist Communists of Bulgaria (FAKB), founded in 1919, adopted the Platform after it was published and used it ever since to guide their political practice. The Bulgarian platformist experience can be considered one of the great episodes of anarchism between the 1920s and 1940s; in fact, it contributed to a considerable mass movement with rural and urban syndicalism, cooperatives, guerrillas and great youth mobilization.[82] The Platform of the Federation of Anarchist Communists of Bulgaria, published in 1945, reflects the direct influence of the Platform and addresses “crucial questions in terms of tactics and organization and reflects the form of organization in political party,” orienting a movement that “had significant clarity to defend against the Bolsheviks” but it was decimated by Stalinism and by fascism.[83]

This debate resurfaced strongly among anarchists after World War II, most significantly in France and Italy. The Platform influenced both the French Libertarian Communist Federation [Fédération Communiste Libertaire] (FCL) and the Italian Anarchist Groups of Proletarian Action [Gruppi Anarchici d’Azione Proletaria] (GAAP), groups of the 1950s that coordinated in a libertarian communist international of platform inspiration.[84]

Regarding the consequences of the organizational debate, the case of the French-Francophone Anarchist Federation [Fédération Anarchiste] (FAF) was the most emblematic. Founded in 1945, the FAF took as its organizational foundation the Synthesis of Sébastien Faure and had different tendencies within it: individualists, humanists, trade unionists, libertarian communists, among others.[85] Starting in 1950, a trend led by George Fontenis and influenced by the Platform began to function without the knowledge of others and founded the Organization Thought Battle [Organisation Pensée Bataille] (OPB), a secret organization whose objective was to give the FAF a revolutionary leadership, driving away those opposed to the class struggle and social anarchism.[86]

In the three years after its founding, the OPB grew in influence and in 1953, at the Paris congress, now without many of its members, under the influence of the platformists the FAF became the Libertarian Communist Federation (FCL) and adopted as a programmatic document the Libertarian Communist Manifesto of Fontenis, also inspired by the Platform.[87] Its existence was relatively short and between 1956 and 1957 the FCL ceased its activities, mainly because of the Algerian war of independence in 1954—in which its militants got involved—repression, the rise of the French Communist Party and its own mistakes.[88]

This process caused immense trauma, especially due to the exclusion of members of the FAF, including its founders, and because of the way in which the OPB was constituted and made use of its ideas. By the end of 1953, the FAF was reconstituted by rekindling synthetist positions and the dispute with the FCL dragged on to its end.[89] In addition to the incorporation of theoretical elements of Marxism, such as dialectical materialism,[90] an already controversial issue, the FCL was involved in very complicated episodes. The first took place in 1955, with the decision to present candidates for the 1956 electoral campaign, an effort that was subsequently the object of self-criticism by its own members and that at the time earned criticism from both synthesists and important platformist sectors, like those who later formed the Anarchist Groups of Revolutionary Action [Grupos Anarquistas de Acción Revolucionaria] (GAAR) and the newspaper Rojo y Negro. The second was proximity with André Marty, candidate in the 1956 elections together with Fontenis and others from the FCL. Marty was a former member of the French Communist Party who during the Spanish Revolution had been responsible for the International Brigades and had ordered the slaughter of dozens of anarchists.[91]

In Italy, the formation of Anarchist Groups of Proletarian Action (GAAP) was carried out by a platformist sector of the Italian Anarchist Federation. Expelled in 1950, this sector—who criticized the reformism and idealism of its organization of origin and advocated the creation of an anarchist party inspired by the Platform—acted as GAAP until 1956, the year in which it merged with Marxist groups to form Communist Action, a far-left sector of the Italian Communist Party that subsequently contributed to the creation of the Movement of the Communist Left.[92]

Be that as it may, both French and Italian platformism have had further developments and influenced organizations up to the present, the vast majority of which are inscribed in the anarchist camp.

It is not difficult to demonstrate the consequences of the analyzes of French and Italian platformists of that period and of the generalization of its postulates in all sectors of anarchism inspired by organizational dualism in general and in the Platform in particular. Despite the virtues of the projects in question—there is no doubt about the theoretical and practical relevance of some of the contributions of the French and Italian platformists of the 1950s—it seems clear that a significant part of them, especially the FCL and the GAAP, brought serious problems. The mode of formation and action of the OPB, the position in favor of elections and the proximity to an authoritarian communist of the stature of Marty of the FCL and the fusion of the GAAP with the Marxists are examples that, although they responded to a specific context, broke with the anarchist principles and strategy enunciated in the Platform.

Without a doubt, they armed the adversaries of the Platform with powerful arguments. As we have seen, the controversy surrounding the Platform was already complicated in its time and since its publication it was accused of Bolshevik deviation by its detractors. The French and Italian cases reinforced these criticisms.

By refraining from making a less ideological analysis of the Platform, comparing its fundamental elements with anarchist classics and ignoring the case of Bulgarian platformism,[93] the Synthesists ended up generalizing these examples—especially the so-called “Fontenis case” [L’affaire Fontenis] in France—and turned them into paradigmatic examples of the modus operandi of platformism.

This is how the argument was constituted that very often equates Bakuninist[94] and platformist organizational dualism to a kind of Marxist and/or Bolshevik deviation from anarchism, to a kind of anarcho-Bolshevism. The dominant interpretation of the Platform exercised by the French synthesists and the dissemination that its argumentation reached—orally and in writing—explain that such positions will be uncritically consolidated by the world between researchers and militants.

Concluding

Although organizational dualism has not been defended by the majority organizationist anarchists, it has representatives of unquestionable importance and magnitude among anarchists: Bakunin, Malatesta and the editors of Dielo Trudá, among them Makhno and Archinov.

Toward the end of the 1860s, Bakunin carried out a theoretical and practical praxis that includes the Alliance and International Workingmen’s Association and contributes decisively to the debate on anarchist political organization. In our view, his positions constitute the fundamentals of the Dielo Trudá Platform. Malatesta also held positions close to the Platform, although, as we have seen, this does not occur in all his writings on the subject: it is not only about differences with respect to some issues of the Platform, but also that at distinct moments he comes close to the Synthesis position.

Taking into account the role of Bakunin and Malatesta in anarchism and that of figures like Makhno and Archinov, it is not very fair to equate their positions with some kind of Leninist or Bolshevik deviation and an alleged anarcho-Bolshevism. Logically, to claim that the Platform contains authoritarian positions implies ascribing responsibility for this to Bakunin. And yet it seems quite evident that both are anarchists and that their positions about the anarchist political organization are fully reconcilable with their other positions.

From the analysis of the debate between Malatesta on the one hand and Makhno and Archinov on the other, we can conclude the following: there is no doubt that the positions in question are anarchist and that they share the opinion on the need to organize anarchists on two levels—as workers in popular mass movements and as anarchists in revolutionary political organizations— and on the duty of anarchists to influence workers in general as much as possible. At the same time, we consider Malatesta’s criticisms misplaced, which claimed that the Platform is proposing a hierarchical model of organization and that the executive committee proposed by them would have the function of controlling decisions of the organization.

Be that as it may, we can at least identify three real differences between Malatesta and Makhno and Archinov on the following issues: individual and collective responsibility; fragmentation and the need for union of anarchists; level of autonomy and independence of individuals and groups in the anarchist organization. If for Malatesta responsibility is essentially individual, for Makhno and Archinov it is both individual and collective, so that it binds the militant and the organization at the same time. If for Malatesta the fragmentation of anarchists is not a problem of the first order, for Makhno and Archinov it urgently needs to be overcome in order to allow the union of as many anarchists as possible, provided they are in accordance with the organization’s program and strategy. If for Malatesta individuals should have the widest autonomy and independence in groups and these groups in the federations, to Makhno and Archinov unity of action is fundamental, even if it requires a majority vote.

Finally, we must add that for us there is a nexus between certain positions of Bakunin, Malatesta and the Platform that have made it possible to develop a powerful theory of anarchist political organization and that these have served as inspiration for important political experiences. In the specific case of the Platform, it inspired a considerable set of anarchist political practices but, as we have seen, the French and Italian experiences of the 1950s, despite their virtues, offered elements for the argument of “Bolshevik deviation” that had been sustained since the Platform was published. Considering the ideologicalized analysis of the debate and the cases in question, in addition to the dominance of the French interpretation, we can get an idea of why the Platform has been considered as a Bolshevik element of anarchism or even something foreign to the anarchist tradition. We have tried to show that this has no foundation.

Although there are reports about the reception of Dielo Trudá by Russian anarchists who were in Rio Grande do Sul,[95] it seems that in Brazil the Platform was not discussed even at that time nor in subsequent decades. Although there were different anarchist positions throughout the twentieth century which bear similarities to those outlined in the Platform,[96] it was not until the end of the decade 1990 and early 2000 that the text had been read, translated and discussed by Brazilian militants.[97] Those who have led the debate are the militants involved in especifismo anarchism, influenced by the Uruguayan Anarchist Federation, who without knowing the Platform at the time of its formation, reached quite similar conceptions via Bakunin and Malatesta.

Without a doubt, reflection on the Platform should not be taken as an inflexible guide for structuring a political organization. But to reject it on the false argument that it is an “authoritarian deviation” from anarchism or that its contributions should be confined to a specific context is to ignore all the political debates before and after this document, which link the organizational discussion to a long central thread. We understand that it is possible to advance the debate on anarchist political organization if we do it jointly with other contributions, both theoretical and practical, among others those of Bakunin and Malatesta. To continue working on deepening this debate seems to us an urgent need.


Notes

[1] Felipe Corrêa and Rafael Viana da Silva, “Introduction à l’édition francophone.”
[2] This claim is also supported by the studies mentioned above (Corrêa, Van der Walt, De Laforcade, Viana da Silva). On organizational dualism in theory and practice see “Organizational Issues within Anarchism.”
[3] Mikhail Bakunin, Bakounine: Oeuvres Complètes [CD-ROM]. Amsterdam: International Institute of Social History (IISH), 2000.
[4] Gaston Leval, Bakunin: fundador do sindicalismo revolucionário.
[5] See for example: René Berthier, “Bakounine: une théorie de l’organisation” and “Postface.”
[6] In recent decades, the silencing by French anarchists of Bakunin’s work is remarkable, especially with regard to the question of anarchist political organization. Virtually none of the numerous programs of the Alliance were included in the published books of this anarchist. Perhaps this question can be explained by following the hypothesis that René Berthier put forward in a talk in 2014 in Brazil. For him, for a long time the French linked Bakunin to Marxism under the umbrella of a so-called “libertarian Marxism,” defended by Daniel Guérin. Thus it can be explained, according to him, that a magazine like Itinéraire, which dedicated its issues to the “great anarchists” of history, does not have any issue on Bakunin. It is Berthier himself who, to a certain extent, along with other researchers and activists, has taken up the discussion about Bakunin’s work.
[7] Mikhail Bakunin, “Letter to Morago (May 21st, 1872).” On the Alliance, see Felipe Corrêa, Liberdade ou Morte: teoria e prática de Mikhail Bakunin, chapters 10 and 13.
[8] Mikhail Bakunin, “Letter to Cerretti (March 13–27, 1872).”
[9] Mikhail Bakunin, “Statuts secrets de l’Alliance: Programme et objet de l’organisation révolutionnaire des Frères internationaux,” “Letter to Cerretti (March 13–27, 1872)” and “Letter to Morago (May 21st, 1872).”
[10] Mikhail Bakunin, “Statuts secrets de l’Alliance: Programme et objet de l’organisation révolutionnaire des Frères internationaux” y “Statuts secrets de l’Alliance: Programme de la Société de la Révolution Internationale.”
[11] Mikhail Bakunin, “Letter to Morago (May 21st, 1872).”
[12] It should be noted that during his long anarchist career, which spans more than sixty years, Malatesta defended different positions on anarchist political organization. If in some cases it is close to Bakunin’s conceptions and, as we will argue, to those of the Platform, in other cases his positions are more related to the Synthesis. It should also be noted that the term “party,” used by Malatesta in this period, must be placed in its historical context. It is a term that anarchists will gradually abandon, especially after the Russian Revolution, when it becomes more directly linked to Bolshevism and other initiatives to conquer the state, either through revolution or electorally.
[13] Errico Malatesta, “A organização II.”
[14] Errico Malatesta, “A organização II” and “Enfim. O que é a ‘ditadura do proletariado’,” p. 87.
[15] Errico Malatesta, “Ação e disciplina,” p. 24.
[16] Errico Malatesta, “A organização II,” p. 62.
[17] Errico Malatesta, “La propaganda anarquista,” pp. 170–172.
[18] Errico Malatesta, “Programa anarquista,” p. 14.
[19] Errico Malatesta, Ideología anarquista, p. 193.
[20] Ibid.
[21] Ibid., p. 31.
[22] Errico Malatesta, “Programa anarquista,” p. 26.
[23] Although the Leninist party form is described in 1902 in Lenin’s work, What is to be done?, the model will not be internationally divulged until after the Russian Revolution of 1917.
[24] Vladimir I. Lenin, O que fazer?
[25] Any serious researcher would be horrified to hear this characterization of the members of Dielo Trudá. In the 2014 talk mentioned, for example, researcher René Berthier (who is also a member of a synthesist organization) was clear and emphatic when he heard it from another synthesist stating: “That does not exist.”
[26] Dielo Trudá, “Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários.”
[27] Frank Mintz, “Contexto de la Plataforma.”
[28] Lucien van der Walt, Black Flame […], p. 256.
[29] Many of the texts on the debate can be found on the Nestor Makhno Archive: http://www.nestormakhno.info. Among the anarchists who contributed to this broad debate are: Malatesta, Makhno and the The Platform’s own authors —Piotr Archinov, Ida Mett, Jean Walecki, Benjamin Goldberg (Ranko)—in addition to Gregori Maximoff, Volin, Senya Fleshin, Camilo Berneri, Luigi Fabbri, Sébastien Faure and Maria Isidin, among others. For a full compilation of the interventions in this debate, see Felipe Corrêa (ed.), “Dossiê A Plataforma Organizacional”: https://ithanarquista.wordpress.com/plataforma-organizacional.
[30] There are two homonymous historical texts that, although they have significant differences, theoretically ground the “anarchist synthesis”: Sébastien Faure, “A sintese anarquista,” and Volin, “A sintese anarquista.”
[31] Errico Malatesta, “A organização I” and “A organização II.”
[32] Errico Malatesta, Ideología anarquista.
[33] Errico Malatesta, “Communism and Individualism.”
[34] Errico Malatesta, “Individualism and Communism in Anarchism.”
[35] Maurizio Antonioli (ed.) The International Anarchist Congress: Amsterdam (1907).
[36] Errico Malatesta, “Individualism and Communism in Anarchism,” pp. 14–18.
[37] Ibid., pp. 19–21.
[38] Errico Malatesta, “Intervention, 6th session,” p. 96.
[39] Lucien van der Walt, Black Flame […], p. 250.
[40] The debate was reflected in the correspondence between the two: Errico Malatesta, “Um projeto de organização anarquista” and “Resposta de Malatesta a Nestor Makhno,” and Nestor Makhno, “Reposta a “Um projeto de organização anarquista” and “Uma segunda carta a Malatesta.” Malatesta’s article “A propósito da responsabilidade coletiva” can also be useful.
[41] Alexandre Skirda, a Russian translator who, in addition to participating in the political debate, was in charge of the publication of the new translation of the Platform into French, says about the original translation: “Let us remember that Volin’s first translation was described as ‘vile and boring’ and its author accused of not being ‘careful to adapt the terminology and phrases to the spirit of the French movement’ (Le Libertaire, 106, 04/15/1927). We investigated what these accusations could refer to and found, indeed, several consciously distorted terms: napravlenie, which means both ‘direction’ and ‘orientation’, was consistently used in the former sense. The same occurs with the term rukovodstvo, which means ‘conduct’ and as a derived verb it has the sense of ‘guide, lead, direct, manage’ but it was also systematically translated as ‘direct’. The most flagrant case is that of zatrelchtchik, which appears in the last sentence of the Platform and means ‘instigator’ but Volin translated it as ‘vanguard’. This is how, through light brushstrokes, the deep meaning of a text can be modified.” Alexandre Skirda, Autonomie individuelle et force collective: les anarchistes et l’organisation de Proudhon à nos jours, pp. 245–246.
[42] We can mention the case of the Nabat Confederation, which brought together various anarchist organizations. Although the differences in analysis between historians and anarchists themselves on the organizational conception and anarchism of Nabat do not allow us to know for sure if it was closer to the conception of the Synthesis or the Platform, we can affirm that, along with the experience of the Russian and Ukrainian revolutions, it broadly contributed to the Platform. Piotr Archinov, History of the Makhnovist Movement.
[43] Errico Malatesta, “Um projeto de organização anarquista.”
[44] The discussion between Malatesta and Makhno got very complicated due to terminological problems, to which the issues previously noted on translation contributed.
[45] Errico Malatesta, “Resposta de Malatesta a Nestor Makhno.”
[46] Nestor Makhno, “Uma segunda carta a Malatesta.”
[47] Dielo Trudá, “Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários.”
[48] Dielo Trudá, “Suplemento a la Plataforma Organizativa (Preguntas y respuestas).”
[49] Nestor Makhno, “Resposta a ‘Um projeto de organização anarquista’.”
[50] Dielo Trudá, “Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários.”
[51] Ibid.
[52] Ibid.
[53] Errico Malatesta, “Um projeto de organização anarquista.”
[54] Ibid.
[55] Nestor Makhno, “Resposta a ‘Um projeto de organização anarquista’.”
[56] Ibid.
[57] Ibid.
[58] Piotr Archinov, “O velho e o novo no anarquismo.”
[59] Ibid.
[60] Errico Malatesta, “Resposta de Malatesta a Nestor Makhno.”
[61] Ibid.
[62] Nestor Makhno, “Uma segunda carta a Malatesta.”
[63] Errico Malatesta, “A propósito da responsabilidade coletiva.”
[64] Errico Malatesta, “Resposta de Malatesta a Nestor Makhno.”
[65] Dielo Trudá, “Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários.”
[66] Nestor Makhno, “Uma segunda carta a Malatesta.”
[67] Ibid.
[68] Piotr Archinov, “O velho e o novo no anarquismo.”
[69] Errico Malatesta, “Resposta de Malatesta a Nestor Makhno.”
[70] Piotr Archinov, “O velho e o novo no anarquismo.”
[71] Errico Malatesta, “Um projeto de organização anarquista.”
[72] Ibid.
[73] Piotr Archinov, Historia del movimiento makhnovista.
[74] Alexandre Skirda, “Polémicas en torno del libro de Archinov: Historia del movimiento makhnovista,” p. 232.
[75] Piotr Archinov, “A makhnovitchina e o anarquismo.”
[76] Alexandre Skirda, “Polémicas en torno del libro de Archinov: Historia del movimiento makhnovista,” pp. 233–234.
[77] This and other writings from the author in Frank Mintz (ed.) Anatol Gorelik: el anarquismo en la Revolución Rusa.
[78] As mentioned above, the whole debate can be found in Felipe Corrêa (ed.), “Dossiê A Plataforma Organizacional.”
[79] Volin et al., “Reply to the Platform (Synthesist).”
[80] Nick Heat, “Introdução histórica.”
[81] David Berry, A History of the French Anarchist Movement (1917–1945), pp. 174–176.
[82] Lucien van der Walt, Black Flame [...], p. 258.
[83] Michael Schmidt, Anarquismo búlgaro em armas: a linha de massas anarco-comunista, p. 40. The Bulgarian Platform appears in the appendix of this book.
[84] Nick Heat, “Introdução histórica”; José A.G. Danton, “Para pensar el anarquismo desde nuestra realidad: sobre el Manifiesto comunista libertario,” p. 19.
[85] Maurice Joyeux, “L’affaire Fontenis.”
[86] Alexandre Skirda, Autonomie individuelle et force collective: les anarchistes et l’organisation de Proudhon à nos jours, pp. 203–213.
[87] George Fontenis, Manifeste du communisme libertaire.
[88] José A.G. Danton, “Para pensar el anarquismo desde nuestra realidad […],” pp. 19–20.
[89] Maurice Joyeux, “L’affaire Fontenis.”
[90] Alexandre Skirda, Autonomie individuelle et force collective [...], p. 343.
[91] “Organisation, pensée, bataille,” in Noir et Rouge. Cahiers d’Études Anarchistes Revolutionnaires: Anthologie 1956–1970; Cédric Guérin, Pensée et action des anarchistes en France: 1956–1970; Maurice Joyeux, “L’affaire Fontenis,” p. 81.
[92] José A.G. Danton, “Para pensar el anarquismo desde nuestra realidad […],” p. 20; Federazione dei Comunisti Anarchici (FdCA), Anarchist communists: a question of class, p. 107.
[93] Bulgarian platformism is quite a different example from the French and Italian cases of the 1950s and became known in France through Balkansky’s publications. See for example this book published even by a group of the French-Francophone Anarchist Federation (FAF): Georges Balkansky, Histoire du mouvement libertaire en Bulgarie.
[94] Let us recall, as we have already pointed out, that the French attributed a certain authoritarian character to an important part of Bakunin’s work.
[95] Edgar Rodrigues, Renato Ramos y Alexandre Samis, Against all tyranny! Essays of anarchism in Brazil, p. 19.
[96] For an analysis of the experiences of the forties and sixties of twentieth century São Paulo and Río de Janeiro, see Rafael Viana da Silva, Elementos inflamáveis: organizações e militância anarquista no Rio de Janeiro e São Paulo (1945–1964).
[97] Dielo Trudá, “Plataforma Organizacional dos Comunistas Libertários.”

Original article: “Bakunin, Malatesta e o Debate da Plataforma: a questão da organização política anarquista.” First published in 2015 at the Institute for Anarchist Theory and History and, after, as a chapter of the book A Plataforma Organizacional (Dielo Trudá), by Faísca Publicações (São Paulo, Brazil, 2017). Translated by Enrique Guerrero-López

BIBLIOGRAPHY

Antonioli, Maurizio (ed.). The International Anarchist Congress: Amsterdam (1907). Edmonton: Black Cat, 2009.
Arshinov, Piotr. “A Makhnovitchina e o Anarquismo”. Anarkismo.net, 2015. [The Makhnovshchina and Anarchism]
_____. Historia del Movimiento Makhnovista. Buenos Aires: Anarres, 2008. [History of the Makhnovist Movement]
_____. História do Movimento Macknovista: a insurreição dos camponeses na Ucrânia. Lisbon: Assírio e Alvim, 1976. [History of the Makhnovist Movement]
_____. “O Velho e o Novo no Anarquismo”. Nestor Makh¬no Archive, 1928. [The Old and New in Anarchism]
Bakunin, Mikhail. Bakounine: Oeuvres Complètes [CD-ROM]. Amsterdam: International Institute of Social History (IISH), 2000.
_____. “Letter to Morago (May 21st, 1872)”. Bakounine: Oeuvres Complètes [CD-ROM]. Amsterdam: International Institute of Social History (IISH), 2000.
_____. “Letter to Cerretti (March 13-27, 1872)”. Bakounine: Oeuvres Complètes [CD-ROM]. Amsterdam: International Institute of Social History (IISH), 2000.
_____. “Statuts Secrets de l’Alliance” (5 documents). Bakounine: Oeuvres Complètes [CD-ROM]. Amsterdam: International Institute of Social History (IISH), 2000.
Balkansky, Georges. Histoire du Mouvement Libertaire en Bul¬garie. Antony: Groupe Fresnes-Antony (Fédération Anar¬chiste), 1982.
Berry, David. A History of the French Anarchist Movement (1917-1945). Oakland: AK Press, 2009.
Berthier, René. “Postface”. Antonioli, Maurizio. Bakounine: entre syndicalisme révolutionnaire et anarchisme. Paris: Noir et Rouge, 2014.
_____. “Bakounine: une théorie de l’organisation”. Monde Nouveau, 2012.
Corrêa, Felipe. “Organizational Issues Within Anarchism”. Institute for Anarchist Theory and History, 2022.
_____. Liberdade ou Morte: teoria e prática de Mikhail Bakunin. São Paulo: Faísca, 2019. [Freedom or Death: theory and practice of Michael Bakunin (being translated)]
_____ (ed.). “Dossiê A Plataforma Organizacional”. Institute for Anarchist Theory and History, 2017. Corrêa, Felipe; Silva, Rafael V. da. “Introduction à l’Édition Francophone”. Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ). Anarchisme So¬cial et Organisation. Lyon: Brasero Social, 2013.
Dielo Trudá. “Plataforma Organizacional dos Co¬munistas Libertários”. Makhno, Nestor et alli. Anarquia e Organização. São Paulo: Luta Libertária, 2001. [Organizational Platform of the Libertarian Communists]
_____. “Suplemento a la Plataforma Organizativa (Preguntas y Respuestas)”. Nestor Makhno Archive, 1926. [Supplement to the Organizational Platform]
Faure, Sébastien. “A Síntese Anarquista”. Anarkismo.net, 2009. [The Anarchist Synthesis]
Federazione dei Comunisti Anarchici (FdCA). “Anarchist Communists: a question of class”. Anarkismo.net, 2005.
Fontenis, George. Manifeste du Communisme Libertaire. Paris: Ed. L., 1985. [Manifesto of Libertarian Communism]
Guérin, Cédric. Pensée et Action des Anarchistes en France, 1956-1970. Lille: Lille 3, 2000.
Gutiérrez Danton, José Antonio. “Para Pensar el Anar¬quismo desde Nuestra Realidad: sobre el Manifiesto Comunista Libertario”. Fontenis, Georges. El Manifiesto Comunista Libertario y Otros Textos. Santiago: Pensamiento y Batalla, 2014.
Heath, Nick. “Introdução Histórica”. Dielo Truda. Plata¬forma Organizacional dos Comunistas Libertários. Nestor Makhno Archive, 1989. [Historical Introduction]
Joyeux, Maurice. “L’Affaire Fontenis”. La Rue (Groupe Louise Michel), num. 28, 1980.
Lenin, Vladimir I. O que Fazer? São Paulo: Hucitec, 1988. [What is to be Done?]
Leval, Gaston. Bakunin: fundador do sindicalismo revolucio¬nário. São Paulo: Imaginário / Faísca, 2007.
Makhno, Nestor. “Uma Segunda Carta a Malatesta”. Anar¬kismo.net, 2013. [A Second Letter to Malatesta]
_____. “Resposta a ‘Um Projeto de Organização Anarquista’”. Nestor Makhno Archive, 1928. [About the “Platform”: a reply to “A Project of Anarchist Organization”]
Malatesta, Errico. “Intervention, 6th session”. Anto¬nioli, Maurizio (ed.). The International Anarchist Congress: Amsterdam (1907). Edmonton: Black Cat, 2009.
_____. Ideología Anarquista. Montevideo: Recortes, 2008.
_____. “La Propaganda Anarquista”. Richards, Vernon (ed.). Malatesta: pensamiento y acción revolucionarios. Buenos Aires: Anarres, 2007. [Anarchist Propaganda]
_____. “A Organização I”. Escritos Revolucionários. São Paulo: Imaginário, 2000. [Organization I]
_____. “A Organização II”. Escritos Revolucionários. São Paulo: Imaginário, 2000. [Organization II]
_____. “Programa Anarquista”. Escritos Revolucionários. São Paulo: Imaginário, 2000. [An Anarchist Programme]
_____. “Communism and Individualism”. The Anarchist Revolution: polemical articles 1924-1931. London: Freedom Press, 1995.
_____. “Individualism and Communism in Anarchism”. The Anarchist Revolution: polemical articles 1924-1931. London: Freedom Press, 1995.
_____. “Enfim. O que é a ‘Ditadura do Proletariado’”. Anarquistas, Socialistas e Comunistas. São Paulo: Cortez, 1989.
_____. “Ação e Disciplina”. Anarquistas, Socialistas e Comunistas. São Paulo: Cortez, 1989.
_____. “A Propósito da Responsabilidade Coletiva”. Nestor Makhno Archive, 1930. [On Collective Responsability]
_____. “Resposta de Malatesta a Nestor Makhno”. Nestor Makhno Archive, 1929. [A Reply to Makhno]
_____. “Um Projeto de Organização Anarquista” [ou “Anarquia e Organização”]. Nestor Makhno Archive, 1927. [A Project of Anarchist Organization]
Mintz, Frank. “Contexto de la Plataforma”. Anarkismo.net, 2007.
_____ (ed.). Anatol Gorelik: el anarquismo en la Revolución Rusa. Buenos Aires: Anarres, 2007. Noir et Rouge. Cahiers d’Études Anarchistes Révolutionnaires: Antholo¬gie 1956-1970. Paris, no date.
Rodrigues, Edgar; Ramos, Renato; Samis, Alexandre. Against All Tyranny! Essays of anarchism in Brazil. London: Kate Sharpley Library, 2003.
Schmidt, Michael. Anarquismo Búlgaro em Armas: a linha de massas anar¬co-comunista, vol. 1. São Paulo: Faísca, 2009. [Bulgarian Anarchism Armed]
Silva, Rafael V. Elementos Inflamáveis: organizações e militância anarquista no Rio de Janeiro e São Paulo (1945-1964). Seropédica: UFRRJ (master’s thesis), 2014.
_____. Os Revolucionários Ineficazes de Hobsbawm: reflexões críticas de sua abordagem do anarquismo. São Paulo: Faísca, 2014.
Skirda, Alexandre. “Polémicas en Torno del Libro de Archinov Historia del movimiento makhnovista”. Arshinov, Piotr. Historia del Movimiento Makhnovista. Buenos Aires: Anarres, 2008.
_____. Autonomie Individuelle et Force Collective: les anarchistes et l’organisation de Proudhon à nos jours. Paris: A.S., 1987. [Facing the Enemy: a history of anarchist organization from Proudhon to May 1968]
Van der Walt, Lucien. Black Flame: the revolutionary class politics of anarchism and syndicalism. Oakland: AK Press, 2009.
Volin. “A Síntese Anarquista”. Raynaud, Jean-Marc. Apelo à Unidade do Movimento Libertário. São Paulo: Imaginário, 2003. [Synthesis (Anarchist)]
Volin et alli. “Reply to the Platform (Synthesist)”. Nestor Makhno Archive, 1927.

brazil/guyana/suriname/fguiana / movimento anarquista / opinião / análise Friday May 27, 2022 03:53 byOrganização Anarquista Socialismo Libertário

Algunas décadas atrás no habría ninguna duda a cerca de la afirmación de que el anarquismo es una ideología socialista y de izquierda y que el término “libertario” (y sus variaciones) pertenecen a esa tradición política. Infelizmente, de unos tiempos hacia acá en Brasil, se viene popularizando el absurdo llamado “anarco-capitalismo” como reivindicación de ese término por grupos de derecha. Toda vez que algún post nuestro se viraliza por internet, recibimos innumerables comentarios de jóvenes creyendo que es la mayor incongruencia hablar de anarquismo como parte del socialismo, y de socialismo libertario, etc.

Esa confusión -que ocurre principalmente en las redes sociales y es promovida por ciertos institutos ligados a empresarios- no tuvo sus inicios aquí, sino en los EEUU. En este texto puntualizamos las diferencias entre nuestro proyecto político, de izquierda y socialista, y el de ese grupo, de derecha radical y liberal. Para que no haya confusión, esos “libertarios de derecha” deben ser llamados de “liberalistas” o “libertarianos”, pues es fundamental preservar los términos “libertario”, “libertarias” y sus variaciones para nuestro campo.

“Anarco-capitalistas” y liberalistas/libertarianistas brasileños casi siempre están asociados a una red que incluye youtubers (Daniel Fraga, Paulo Kogos, Ideas Radicais), organizaciones políticas (NOVO, LIVRES), empresarios (Héli Beltrao)y una diversidad de fundaciones e institutos de tradición y producción teórica liberal. Eso por sí solo es la mejor prueba que ellos están más próximos a Bolsonaro e Dória que de cualquier referencia al campo anarquista.

1) LOS ORÍGENES DEL TÉRMINO “ANARQUISTA” Y “LIBERTARIO”

La palabra “anarquista” es antigua, y fue usad durante siglos con el sentido de desorden y caos. Los usos del teŕmino anarquista, más recientes están ligados a la Revolución Francesa, tenían la intensión de ofender rivales, y no poseían ninguna relación con una ideología política específica. La proimera persona en decir “yo soy un anarquista”, con tono positivo, fue el socialista frencés Pierre-Joseph Proudhon.

Para Proudhon el capitalismo y el estado necesitaban ser sustituidos por un sistema socialista federalista (descentralizados) basado en cooperativas, o sea, empresas sin patrón, o, como pasamos a decir después, un sistema basado en la autogestión. Mientras que la utilización que él hace del término anarquista fue entendida, en la mayor parte de los casos, como un juego retórico, un provocación. Por eso sus seguidores, los proudhonianos, preferían utilizar otras formas de identificarse, siendo la principal de ellas, mutualistas.

Muchos investigadores afirman que Proudhon fue el funador del anarquismo y que, por lo tanto, los mutualistas fueron los primeros anarquistas. Esa interpretación viene siendo cuestionada por nuevos estudios historiográficos. No había durante la vida de Proudhon, un grupo o colectivo de personas que pudiese ser llamado de anarquistas. Además de eso, bien estudiada la obra de Proudhon muestra distintas fases, siendo que algunas de ellas son más próximas y otras más distantes de las posiciones anarquistas que se consolidarían años más tarde.

A pesar de muchas contribuciones importantes, y de haber influenciado enormemente al anarquismo, Proudhon era un defensor de la sumisión femenina, además de tener posiciones ambiguas sobre la propiedad privada e incluso sobre el estado. Uno de sus mayores seguidores, el mutualista Henri Tolain, por ejemplo, llegó a apoyar la represión contra la Comuna de París, que resultó en miles de muertos.

El término “libertario” fue creado por el socialista frances Joseph Déjacque contemporáneo y crítico de Proudhon. Déjacque utilizó ese término para nombrar un periódico que fue publicado entre 1858 y 1861, llamado “Le Libertaire: le journal du mouvement social” (El Libertarios: el periódico del movimiento social).

En 1868, Mikhail Bakunin y otros socialistas fundaron la Alianza de la Democracia Socialista, una organización federalista y revolucionaria, que proponia la destrucción del estado y del capitalismo por una revolución social protagonizada por las clases populares. Agupados en la Asociación Internacional de los Trabajadores (AIT), esos revolucionarios se autoafirmaban “colectivistas”, “federalistas” o “socialistas antiautoritarios”. Por un lado incorporaban antiguos proudhonianos que se habían radicalizado. Por otro criticaban a aquellos que permanecían en el campo mutualista con posiciones divergentes. Sobre eso Bakunin declaró:

“Como son ridículas las ideas de los individualistas de la escuela de Jean-Jacques Rousseau y de los mutualistas proudhonianos, que conciben a la sociedad como resultado de un contrato libre de individuos absolutamente independientes los unos de los otros, que entran en relación mutua solo en concurrencia de una convención definida entre los hombres. Como si esos hombres hubiesen caído del cielo, trayendo consigo el habla, la voluntad, el pensamiento original, como si fuenen ajenos a todo en la tierra, esto es, a todo lo que posee origen social” (Las intrigas del sr. Utin)

Es verdad que el mismo Bakunin se refirió a Proudhon como el “maestro de todos nosotros”. Pero es igualmente verdadero que el también tejió innumerables elogios a Karl Marx y otros, que ciertamente no eran anarquistas. Como el propio Bakunin afirmó, su anarquismo era una radicalización de las concepciones proudhonianas, recibiendo las influencias también de otros autores y los conflictos sociales de aquellos tiempos.

Es apenas cuando los marxistas expulsan a Bakunin y a J. Guillaume de la AIT, en el Congreso de la Haya, en 1872 -uno de los conflictos más conocidos de la izquierda socialista₋, y que los expulsados y sus seguidores (prácticamente toda la base de la Internacional) comenzaron con más frecuencia a afirmarse como anarquistas. Muchas veces, ellos utilizaban “anarquista” para calificar el tipo de socialismo que defendían. Algunos se llamaban por ejemplo “socialistas-anarquistas”.

El anarquismo como conocemos historicamente, asociado a las huelgas obreras en América Latina o las Revoluciones en España y en Ucrania, nació en ese contexto de la llamada Primera Internacional. Después de esa escisión de 1872, los términos “Libertario/a” comenzaron a ser cada vez más utilizados en periódicos anarquistas, casi siempre como sinónimo de anti-autoritário, adjetivando y especificando la corriente socialista de la cual el anarquismo hacía parte.

“Socialismo Libertario” y “Comunismo Libertario” fueron términos utilizados, algunas veces, como sinónimo de anarquismo. Otras veces fueron usados de modo más amplio, englobando tanto al anarquismo como otras formas anti-autoritarias de socialismo, vinculadas al marxismo u otras corrientes ideológicas.

Dos ejemplo (hay muchos más) demuestran como esa utilización fue siendo incorporada por los anarquistas.

El primero es sobre el mencionado periódico “El Libertario”. Después de la iniciativa de Dejacque, ese título se mantuvo en varios periódicos, siempre vinculados al campo socialista-anarquista. Fueron fundados en 1892, en Argelia, “El Liberatrio: órgano argelino comunista-anarquista”; en 1893, en Bélgica, “El Libertario: órgano socialista revolucionario de los grupos de St-Josse-ten-Noode; en 1895, por el anarquista Sebastian Faure, “El Libertario”, que publicó 960 números hasta 1914. Siendo interrumpido por las grandes guerras mundiales. “El Libertario” publicó varias ediciones entre 1919 y 1939. Después entre 1944 y 1956, bajo el nombre “El Libertario: órgano federalista del movimiento libertario”, que se convirtió en un periódico de la Federación Anarquista -que en 1956 cambió su nombre a Federación Comunista Libertaria, el periódico fue retomado e 1968, y continúa existiendo hasta el día de hoy.

El segundo ejemplo, que sucedió entre los año 1920 y 1930, es el de Max Nettlau, un de los grande historiadores del anarquismo, que en libros como “Historia de la Anarquía”, utilizó centenas de veces el término para referirse a esa tradición histórica antiautoritaria de pensamiento y acción. Con eso reproducía las posiciones del campo anarquista y al mismo tiempo, influenciaba las producciones intelectuales que vendrían después de él.

Aquí podemos ver como anarquista y libertario son términos ligados a la izquierda socialista.¿Pero como llegamos a este absurdo que vemos hoy?

2) EL INDIVIDUALISMO NORTE AMERICANO

Conforme el anarquismo de Mikhail Bakuini, Louise Michel y Errico Malatesta ganaba fuerza en el movimiento obrero y campesino, algunos intelectuales norteamricanos (dentro de los más importantes estaban John Henry Mackay y Benjamin Tucker), a finales del siglo XIX, decidieron reivindicar el mutualismo proudhoniano, combinando su ideología con el pensamiento egoísta del filosofo alemán Max Stirner -afirmaban que defendían un “anarquismo individualista”.

Esos individualistas pasaron entonces a disputar el término individualistas. En común con el anarquismo, tendían a criticar al capitalismo y al estado. Pero sería equivocado considerar que apenas eso bastaría para considerarlos anarquistas, pertenecientes a esa tradición histórica que surgió en la Internacional. Por ejemplo, marxistas en general también son anti-capitalistas y defienden el fin del estado, pero seo noo significa que pueda llamárselos anarquistas. Ni siquiera los consejistas, todavía más próximos del anarquismo, podrían ser llamados así.

Esos individualistas/mutualistas desconfiaban de las organizaciones de clase, como los sindicatos y movimientos sociales, prefiriendo refugiarse en pequeños grupos de “egoístas” o como máximo en cooperativas que actúan como empresas.

Y sus posiciones fueron duramente criticadas por anarquistas de la época. Al escribir la definición “Anarquismo” para la Enciclopedia Britanica, el anarquista Piotr Kropotkin dijo:

“El anarquismo individualista de los proudhonianos de América del Norte encuentra entre tanto poca repercusión en las masas obreras. Los que profesan (principalmente intelectuales) comprenden luego que la individualización que tanto exaltan no es asequible por esfuerzos individuales, y o bien abandonan las filas anarquistas y se integran al individualismo liberal de los economistas clásicos, o bien se refugian en una especie de moralismo epicúreo, o teoría del super-hombre, similar a las de Stirner y Nietzche”

Con gran precisión Kropotkin ya denunciaba las proximidades de los mencionados individualistas con el liberalismo. Él no fue el único, como vemos en las palabras del italiano anarquista Luigi Fabbri:

“Lo individualistas anarquistas de la escuela de Max Stirner, aquellos que de la doctrina stirnerniana quisieron consecuencias en materia económica, como John Harry Mackay y Benjamin Tucker (…) son auténticos economistas burgueses, liberalistas (…). (El IndividualismoStirneriano en el Movimiento Anarquista)

Es mutualismo/individualismo permaneció existiendo como un “liberalismo anticapitalista” por más confuso que eso pueda sonar, estando restringido a los EEUU e incluso ahí, siendo marginal y minoritario. En tanto, era innegable que cada vez más, esos mutualistas/individualista incorporaban elementos del pensamiento liberal norteamericano.

Las consecuencias de eso serían vistas décadas después.

3) “ANARCOCAPITALISMO” ES ULTRALIBERAL DE EXTREMA DERECHA

A partir de los años 1930, el Partido Demócrata de los EEUU comenzaba a hacer un giro “progresista”. Por un lado, pasaba a aceptar elementos de l pensamiento keynesiano de intervención estatal en la economía; por otro, gradualmente comenzaba a reconocer movimientos por derechos civiles, como la lucha negra y el feminismo.

Por una serie de razones históricas que no cabrían explicar en este texto, contrarios a cualquier acción del estado, ya sea una regulación de la economía ya sea en medidas de inclusión social. Esos ultraliberales para no ser confundidos con los miembros del Partido Demócrata, comenzaron a llamarse “libertarios”. Fue por o tanto en 1930 que el término fue usado por primera vez por los ultraliberales norte-americanos. En la opinión de ellos esa palabra transmitía la supuesta defensa de la libertad a la cual ellos deseaban estar asociados.

Pero la utilización frecuente de ese término se dio recen en los años 1970, justamente con el ascenso del neoliberalismo. Es en ese contexto que surge el “Libertarian Party”, de derecha liberal, hoy el tercer mayor partido norte-americano.

O sea, desde los años 1850 algunos socialistas utilizan el término Libertario para referirse a sí mismos, y desde los años 1890 lo hacen muy frecuentemente. Los liberales comenzaron a utilizar el término a partir de los años 1930, pero eso solo se hizo más común a partir de los años 1970. De modo que ese término “libertario” y sus variaciones son usados por los socialistas/anarquistas 80 años antes de los liberales.

Murray Rothbard, estudioso del liberalismo clásico y de la Escuela Austríaca de economía (la misma de Hayek y Mises) desde los año 1960, asume que el término “libertario” fue “capturado por la derecha:

“Un aspecto gratificante de tener alguna preeminencia es que, por primera vez
en mi memoria, nosotros, nuestro lado, capturamos un termino crucial de nuestro
enemigos. 'Libertarios' era, hace mucho tiempo una palabra educada para
referirse a los anarquistas de izquierda, o sea aquellos anarquistas contrarios a
la propiedad privada, tanto de la corriente comunista como la sindicalista. Pero
ahora tomamos el control de ese término”. (The Betrayal of the American Right)

Observando los críticos de los mutualistas/individualistas norte-americanos, en especial Benjamín Tucker -aquel que se reivindicaba anarquista, individualista y discipuo de Proudhon, y que en nombre de la libertad de los capitalistas, aceptaba el hecho de que policías sean llamados a acabar con las huelgas- Rothbard opta por iniciar un proceso de síntesis, dando origen al llamado “anarcocapitalismo”.

Los “anarcocapitalistas” radicalizan la crítica del estado, pero desde una perspectiva liberal, y no anarquista. Para nosotros los anarquistas, el estado es un instrumento de dominación de clase. No sirve apenas a la burguesía (patrones, empresarios banqueros) sino también constituye una clase es sí mismo: la burocracia, formada por políticos, jueces y generales. Por eso, somos socialistas antiestatistas, pues vemos también a los burócratas como una amenaza la sociedad socialista, como se mostró evidente en la URSS. Si el estado representa jerarquía y dominación de clase, debemos buscar su fin. Con todo también repudiamos al capitalismo y al orden liberal, responsable por la explotación de la clase trabajadora, por la privatización de los servicios públicos y por la destrucción del planeta. Lo que nosotros defendemos es una democracia directa, autogestionaria y federalista , en la cual el poder popular de los trabajadores defina la regla de la sociedad.

Los “anarcocapitalistas”, por otro lado, tienen una visión muy diferente del mundo. No son
contrarios al estado porque el crea jerarquías, que ven como algo natural. Ellos si estan contra el estado es porque lo ven, tal como los liberales clásicos, como una amenaza a la propiedad privada y a su individualismo. Para ellos, el estado es sinónimo de poder público, y ellos odian lo que es colectivo. Nosotros anarquistas no queremos el fin de los servicios públicos, mas sí administrarlos directamente, sin burócratas usurpando ese control. Los “anarcocapitalistas” quieren su privatización en favor de las grande multinacionales, lo que resultaría en millones muriendo sin acceso a la comida, el agua potable, al saneamiento básico.

En cuanto nosotros, anarquistas, nos oponemos al nazifascismo y defendemos el combate a los supremacistas blancos, integralsitas y otros extremistas de derecha, los “anarcocapitalistas” defienden la tolerancia a los fascistas. El propio Murray Rothbard llegó a apoyar a David Duke, líder del Ku Klux Klan, por su defensa del “Estado mínimo”.

Podríamos discurrir por innumerables otras divergencias con los “anarcocapitalistas”, como la defensa de la esclavitud de Walter Block, o la de la exclusión de judíos y homosexuales hecha por Hans-Hermann Hope. Pero creemos que nuestro punto ya fue entendido hasta aquí. Quedémonos apenas con unas palabras del propio Rothbard:

“Los principales anarquistas, particularmente en Europa, siempre fueron de la variedad izquierdista, y hoy os anarquistas están todos exclusivamente en la izquierda. Adicione a esto la tradición de violencia revolucionaria generada en Europa, y no habrá sorpresa alguna en el hecho de que el anarquismo tenga mala reputación.

El anarquismo fue políticamente muy poderos en España, y durante la Guerra Civil española los anarquistas crearon comunas y organizaciones colectivistas que ejercían la autoridad coercitiva. Una de sus primera medidas fue abolir el uso del dinero, siendo que quien desobedeciera sería penado con la muerte. (…)

Todos los actuales anarquistas son colectivistas irracionales, estando por lo tanto en polos opuestos a a los nuestros. Así, debemos concluir que nosotros no somos anarquistas, y que aquellos que nos llaman de anarquistas no se basan en una etimología seria, y están históricamente errados”. (Los Libertarios son Anarquistas?)

4) POR UN ANARQUISMO DE MASAS Y ORGANIZADO

La Organización Anarquista Socialismo Libertario (OASL) está presente en Sao Paulo, es adepta al anarquismo especifísta -una vertiente originada en la Federación Anarquista Uruguaya (FAU)- y actualmente construye la Coordinación Anarquista Brasileña (CAB). Para nosotros, anarquistas especifistas , son las clases populares, organizadas en movimientos populares, que deben ser las protagonistas, tanto de las luchas por conquistas inmediatas, como en las luchas revolucionarias. Por eso nosotros actuamos en sindicatos, organizaciones estudiantiles y colectivos comunitarios en forma de promover el fortalecimiento del poder popular, a través de valores como autonomía clasismo y democracia directa. Nuestra organización no desea comandar los movimientos populares, sino incentivarlos, estimularlos a buscar más y más derechos y participación.

Para nosotros todas las formas de dominación -sea de clase, genero y de etnia- debe ser destruido, y en su lugar debemos construir una nueva sociedad libertaria e igualitaria, en la cual el poder será descentralizado entre todos. Nos inspiramos en las luchas pasadas de los anarquistas que vivieron antes de nosotros y buscamos mantener vivos los sueños por otra forma de vivir. Somos por eso mismo una organización anarquista con el nombre de “socialismo libertario”, reivindicando parte importante no apenas de lahistoria del anarquismo, sino también el término libertario, perteneciente e nuestra corriente, como vimos, desde el siglo XIX.

Luchar, Crear, Poder Popular!
2020
argentina/uruguay/paraguay / movimiento anarquista / comunicado de prensa Tuesday May 24, 2022 22:19 byFederación Anarquista Uruguaya

Se cumplen 10 años de la aparición e identificación de los restos de nuestro compañero Alberto “Pocho” Mechoso. Se comprobó de esta manera el destino de uno de nuestros compañeros y el modo de actuación de “la patota de la OCOA” y todas las
FFAA y policiales implicadas en el Plan Cóndor. Secuestrado en Buenos Aires junto a otros compañeros y compañeras, a manos de bestias asesinas como Gavazzo, Cordero, Silveira y otros genocidas, es llevado a “Automotores Orletti”, brutalmente torturado, secuestrados sus hijos y su esposa, Beatriz Castellonese, recientemente fallecida.

Las bestias, las alimañas buscaban la “guita”, estaban desesperados con las finanzas hechas por la Organización con el secuestro de Hart, un empresario barraquero de dudosos negocios. “Pocho” fue pieza clave en dicho secuestro, el cual fue catalogado como el tercero más importante de la historia argentina por su monto.

La vida de “Pocho” habla por sí misma de su compromiso militante y esperanza en el triunfo de los de abajo: militante abnegado desde la primera hora, despedido en una huelga de la Federación de la Carne, expropiador de primera línea y preso en al menos dos ocasiones antes del golpe de Estado, en 1972 se fuga del cuartel del 5º de Artillería, fuga novelada luego por Eduardo Galeano en “La canción de nosotros”. Su compromiso militante lo llevó a tener responsabilidades en nuestra Organización, especialmente en OPR 33, actividad armada de FAU. Fue uno de los responsables de dicha actividad.

Se jugó el pellejo por sus ideas, por su proyecto de sociedad. Militante desde la adolescencia en el medio libertario, desde niño conoció la pobreza y las injusticias. Fue natural que se involucrara en una gran cantidad de actividades sociales, especialmente en la zona del Cerro y La Teja. Una actividad más fue la tarea de la acción directa en el nivel específico de las expropiaciones, y en los inicios y desarrollo posterior de la OPR 33, siendo un puntal de dicha actividad.

Como tantos otros compañeros y compañeras, estaba convencido que la lucha no era corta, que era un proceso largo y complejo, que podía revestir distintas etapas y variantes, pero que ese camino había que emprenderlo y transitarlo, que no había posibilidad de traslados mecánicos de procesos de otros países, de otras experiencias; sí que se podía aprender de ellas y extraer conclusiones pero que había que ser creativos y originales en el proceso de lucha del pueblo uruguayo. Que no cabían esquemones sino pensar con cabeza abierta y los pies anclados en la realidad de los de abajo.

El “durar haciendo”, concepción de nuestra Organización para enfrentar la dictadura -vista como una etapa más de la lucha- lo llevó a Argentina. Fue de los primeros compañeros en cruzar el charco, estaba requerido por su fuga de 1972 y la dictadura ya se veía en el horizonte. Montó en gran medida con otros militantes la estructura en Argentina para poder seguir funcionando. Continuó operando allí y la Organización desarrolló actividad hacia el Uruguay en lo sucesivo.

Pocho Mechoso es secuestrado en setiembre de 1976 en el marco de un gran operativo contra varios compañeros, entre ellos Adalberto Soba. Ya habían caído en meses anteriores un grupo importante de compañeras y compañeros, había sido asesinada el 19 de abril Telba Juárez, entre otros hechos que constituyeron el Terrorismo de Estado perpetrado por la dictadura militar uruguaya y de la región en el marco del Plan Cóndor.

Poco se ha avanzado en estos diez años en las causas referidas a Derechos Humanos. Una nueva Marcha del Silencio multitudinaria nos congregó hace unos días con el mismo reclamo: saber dónde están y que se haga justicia. Han sido pocos los asesinos juzgados por la justicia burguesa y condenados, encima en cárcel de lujo y en un cuartel, como si estuvieran en su casa. Otros con prisión domiciliaria, como fue el caso de Gavazzo. Varios políticos han salido en su defensa: instalaron el discurso de los “viejitos” tal como hizo Mújica y hoy continúa Manini Ríos. Estos “viejitos” torturaron, asesinaron, violaron, secuestraron niños y bebés, y todo ello amparados por una feroz dictadura y con apoyo norteamericano.

La impunidad sigue vigente. Tiene fuerte respaldo institucional y ahora partido político propio. Derrotar esa impunidad es una tarea primordial, pero también derrotar las políticas antipopulares de hambre y despojo. Las violaciones a los DDHH no fueron obra solamente de unos militares asesinos, fue el sistema capitalista que hizo uso de su aparato represivo para frenar el avance incontenible de la lucha popular e imponer un nuevo modelo económico de exclusión y miseria para amplios sectores de la población.

Por eso, tienen plena vigencia las palabras de “Pocho” luego de su magistral fuga de 1972:

“Desde el 6 de agosto hasta ahora, me parece que he aprendido más, mucho más de lo que me enseñaron los 6 años que pasé en Punta Carretas, me parece que he aprendido mucho más que en los 35 años que llevo de vida. Por un lado está la experiencia de adentro del Cuartel, el enfrentamiento a los verdugos, la mano solidaria de los compañeros…Y todo esto que uno vive tan intensamente, lo están viviendo de un modo u otro, centenares de miles de orientales. Son muchos los chiquilines separados de sus padres, porque están presos o porque tienen que irse a otros lados a buscar el trabajo que aquí no encuentran. Son muchas las madres que no ven a sus hijos, porque están perseguidas o porque trabajan de sol a sol para ayudar a parar la olla. Son muchas las mujeres que al final de una vida de trabajo no tienen un techo donde guarecerse, porque no pueden pagar con jubilaciones miserables, o porque la mente podrida de los verdugos venga en ellos la rebeldía de los hijos que con inmenso cariño ellas supieron criar.

Y ante todo esto, ¿qué otro camino nos queda? Ante todo esto, ¿de qué manera vale la pena vivir la vida? Hay un solo camino, hay una sola manera de vivir, sin vergüenza: peleando. Ayudando a que la rebeldía se extienda por todos lados, ayudando a que se junten el perseguido y el hombre sin trabajo, ayudando a que el ‘sedicioso’ y el obrero explotado se reconozcan como compañeros, aprendan luchando, que tienen por delante un mismo enemigo…”.

¡¡SALUD ALBERTO POCHO MECHOSO, TU EJEMPLO DE VIDA Y LUCHA DICE PRESENTE EN LA LUCHA DEL PUEBLO!!
NI OLVIDO NI PERDÓN A LOS ASESINOS Y COMPLICES DE AYER Y DE HOY
¡¡ARRIBA LOS Y LAS QUE LUCHAN!!

This page has not been translated into 한국어 yet.

This page can be viewed in
English Italiano Català Ελληνικά Deutsch



Anarchist movement

Fri 29 Mar, 17:25

browse text browse image

380713793_699111572256482_5298125431710198778_n.jpg imageFORO CONVERSATORIO: A 50 AÑOS DEL GOLPE CÍVICO MILITAR Los desafíos y tareas del anarquism... Oct 05 02:24 by Asamblea Anarquista Valparaíso y Federación Anarquista Santiago 1 comments

1.jpeg imageAnarchists in Rojava: Revolution is a struggle in itself Oct 04 23:52 by Jurnal mapa 1 comments

61thrfbmy8l.jpg imageAn Attempted Marxist-Anarchist Dialogue Oct 03 07:13 by Wayne Price 2 comments

sudan_soli_tu_copy.png imageSürgündeki Sudanlı anarşistleri destekleyin Aug 30 15:53 by Çeşitli anarşist örgütler 1 comments

text망명중인 수단 아나키스트... Aug 29 05:56 by Various anarchist organisations 0 comments

textΥποστηρίξτε τους... Aug 29 05:45 by Διεθνές κάλεσμα 0 comments

دعم اللاسلطويين السودانيين في المنفى imageدعم اللاسلطوي¡... Aug 27 18:27 by اللاسلطويين 1 comments

textSosteniamo le anarchiche e anarchici sudanesi in esilio Aug 26 02:19 by Varie organizzazioni anarchiche 3 comments

portugais.jpeg imageApoie anarquistas sudaneses no exílio Aug 23 23:32 by Várias organizações anarquistas 0 comments

internationalcampaignsudan.jpeg imageSupport Sudanese anarchists in exile Aug 23 18:19 by International anarchist organisations 23 comments

espanol.jpeg imageApoyo a los anarquistas sudaneses en el exilio Aug 23 18:15 by Diversas organizaciones anarquistas 0 comments

deutsch.jpeg imageUnterstützt sudanesische Anarchist:innen im Exil! Aug 23 17:45 by Verschiedene anarchistische Organisationen 0 comments

Appel anarchiste de solidarité internationale avec nos camarades soudanais en exil imageSoutenir l’exil des anarchistes soudanais·es Aug 23 03:53 by Diverses organisations anarchistes 2 comments

51wr6zzxrwl.jpg imageA Guide to Anarcho-Syndicalism and Libertarian Socialism Aug 03 19:17 by Wayne Price 5 comments

i5af_baby_logo.jpg imageIn Support of “Turning the Tide” Aug 02 03:38 by I-5AF 4 comments

361909747_668974455270194_7612568894314076845_n.jpg imageCarta de Opinión Julio 2023 - FAS Aug 01 02:25 by FAS 3 comments

meansandends1.jpg imageThe Revolutionary Practice of Anarchism Jun 30 08:01 by Wayne Price 9 comments

espero, Nr. 7, Juli 2023, 306 Seiten, zahlr. Illustr imageespero 7 – Die neue Sommerausgabe 2023 Jun 25 16:58 by Hajosch 7 comments

cliffordharper512x640.png imageΗ ανάγκη για restart May 29 18:36 by Ευριπίδης Καλτσάς 2 comments

Photo: Alexander Ermochenko/Reuters/Alamy imageAnarchists Support Self-Determination for Ukraine May 28 07:21 by Wayne Price 12 comments

212x300.png image1η Μάη: μέρα ταξική&... May 01 06:46 by Πρωτ. Αναρχ. Αγ. Αναργ.-Καματερού 1 comments

i5af_baby_logo.jpg imageEl movimiento Apr 25 02:18 by I-5AF 18 comments

1300x184.jpg imageΑντιεκλογική Παρ... Mar 31 20:20 by Αναρχικοί Αγ.Αναργύρων-Καματερού 3 comments

1170x255.jpg imageΠροβοκατορολογί... Mar 30 17:22 by Μ. 2 comments

Internationalists in Rojava in Solidarity with Alfredo imageSolidarity with Alfredo Cospito From Rojava Mar 27 23:06 by Tekosin 20 comments

1517671_1199237206768129_7348846615584991693_n.jpg imageThoughts on Revolution Mar 22 04:45 by Wayne Price 11 comments

download.jpg imageMalatesta για τoν Πόλεμο κ^... Mar 15 18:53 by Wayne Price 0 comments

textAre Anarchists Giving in to War Fever? Feb 18 01:22 by Wayne Price 16 comments

anarhists_and_dual_power.png imageΑναρχικοί και δυ^... Feb 17 16:18 by Matt Crossin 4 comments

textComunicado da CAB às organizações amigas e parcerias de luta Feb 01 05:27 by Coordenação Anarquista Brasileira 0 comments

more >>
© 2005-2024 Anarkismo.net. Unless otherwise stated by the author, all content is free for non-commercial reuse, reprint, and rebroadcast, on the net and elsewhere. Opinions are those of the contributors and are not necessarily endorsed by Anarkismo.net. [ Disclaimer | Privacy ]